sábado, 22 de novembro de 2008

22 de novembro de 1963


22 de novembro de 1963 – O presidente americano John F. Kennedy foi assassinado em Dallas, Texas. Foi o quarto presidente dos Estados Unidos a ser assassinado.
As investigações oficiais concluíram que Lee Harvey Oswald foi o assassino. Entretanto, não se chegou a uma conclusão se ele atuou sozinho ou com cúmplice.
Sabemos hoje que John F. Kennedy não foi um grande presidente para os Estados Unidos, nem para a América Latina nem para ninguém.
Não era nenhuma maravilha como caráter, marido ou aliado político. Tudo bem. Mas ao derrotar Richard Nixon e suceder a Dwight Eisenhower em janeiro de 1961, com apenas 43 anos, Kennedy encarnou como ninguém a mudança da guarda, ou seja, a transferência do poder da geração que havia levado o mundo à Segunda Guerra Mundial para a geração que havia lutado nas frentes de batalha.
O momento era difícil para a auto-estima americana, com o êxito Sputnik e do programa espacial soviético. Contracenando com Kruschev e Fidel Castro, também recém-chegados, em três anos John Kennedy mudou a face do mundo – e para sempre.
Milionário, católico, democrata, jovem e sofisticado, Kennedy liderava as promessas de grandes transformações.
E que mudanças! Sob Kennedy, Washington deixava para trás a guerra, o macartismo e a arrogante caipirice americana; civilizou-se e aprendeu boas maneiras. Ficou elegante, bonito, cheio de idéias novas, com uma primeira-dama sofisticada, que gostava de arte e falava francês.
Na companhia do economista John Kenneth Galbraith, do historiador Arthur Schlesinger, jovens universitários – até professores e schollars! – ingressavam nos círculos mais íntimos do poder na maior potência do mundo, e tudo parecia mais inteligente.
Aí surgiu o inevitável apelido: Washington transformou-se em Camelot, o reino encantado do rei Artur onde, entre jovens poderosos, o bem e a verdade conviviam em harmonia com a inteligência, a eloqüência, as artes e a beleza.
A estréia de Kennedy não podia ter sido mais infeliz. Deixando progredir uma maluquice engendrada ainda no governo anterior, o governo americano patrocinou a malograda tentativa de invasão de Cuba. O fracasso da expedição à baía dos Porcos marcou o mundo a ferro até a queda do muro de Berlim, quase 30 anos mais tarde.
Em outubro de 1962, com a crise dos mísseis, Kennedy levou vantagem e firmou-se como liderança mundial. O menino mimado ganhava consistência de estadista.
Mas ficara a marca: o pesadelo dos anos seguintes começa a engatinhar. No Vietnã, o apoio americano à cegueira colonialista da França só estava servindo para aumentar o atoleiro.
O desastre futuro começa a ser engendrado por meio da “teoria do dominó”, segundo a qual a conquista do Vietnã pelos comunistas locais com apoio da China implicaria a derrocada de todo o Sudeste asiático e representaria uma insuportável ameaça ao Japão.
Aos 46 anos, no auge da glória – antes que seus desacertos aparecessem e tivessem conseqüências – John Kennedy começa a construir sua reeleição. Vai a Dallas, para pôr fim a uma briga provinciana no Partido Democrata, e um tresloucado o mata a tiros diante da multidão.
Boa parte do mundo, a melhor, fica órfã em minutos.
A imagem do filho pequeno, perfilado em continência diante do cortejo fúnebre que levava o corpo do pai, correspondia ao sentimento de parte do mundo, que via morrer também suas esperanças.
Quem viveu aqueles momentos, revisitados hoje, sentiu uma nuvem se formando, irracional, estúpida e horrenda, e baixando sobre a Terra, em terror, sangue, fome e sofrimento.
Boa parte da geração que surgiu para a vida adulta com a posse de Kennedy foi chacinada no Vietnã, nas prisões da América Latina, no exílio interno e silencioso da ditadura brasileira, no Oriente Médio, nas aldeias africanas, nas ruas da Irlanda, nas overdoses de droga. Sem contar os dropouts e desbundados de todos os tipos.
Mas fica, dos meados deste século de guerras, violência, genocídio, depredação em escala planetária sem precedentes, desgraças e doenças, a memória de brevíssimo instante em que pareceu que as coisas podiam dar certo, afinal, pois esse novo Camelot representou, mais uma vez, tudo o que havia de esperança, de nobre e bonito.
Um sonho que se esvaiu, nos anos seguintes, em desolação e desesperança.
Blog da Lúcia Hipóllito

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