domingo, 9 de abril de 2006

O mal que a falta faz

Reiteramos que a atual contra-ofensiva da direita pode causar novos prejuízos ao PT e à candidatura Lula. Isso, pelo simples fato de que o PT e o governo permanecem com alguns flancos vulneráveis e sem proteção. Faltam explicações cabais sobre as políticas e as práticas de algumas de suas figuras de proa, que desencadearam a crise política ainda viva.
E falta adotar uma política que iniba essas figuras de posarem como vítimas, e se arvorarem condutoras da defesa do PT e do governo.Os acontecimentos com o caseiro, que afirma ter visto Palocci na casa de seus antigos amigos de Ribeirão Preto, envolvidos em negócios escusos, corrobora isso. A quebra do sigilo bancário do caseiro é o resultado de um certo modo de fazer política, que supõe que as alianças com setores da burguesia, para governar o Brasil, permitem ao PT aplicar os mesmos métodos desses aliados (e também dos adversários), no trato da coisa pública e da cidadania.
Os representantes políticos da burguesia têm uma história recheada de casos de corrupção, caixa dois, quebra de sigilos bancários e um rol variado de arbitrariedades. É incrível a desfaçatez e a hipocrisia com que eles se apresentam como campeões na defesa da coisa pública e dos direitos democráticos. Suas biografias não resistem a uma investigação, mesmo superficial. Mesmo assim, sequer ficam corados ao acusar o PT de pecados que eles praticam rotineiramente.
Apesar dessa hipocrisia, o PT precisa reconhecer que alguns de seus dirigentes copiaram métodos e políticas que são inadmissíveis num partido que se propõe transformar a sociedade. E considerar como uma completa ilusão de classe a suposição de que os representantes da burguesia, que têm como hábito a corrupção e o arbítrio, aceitariam sossegados que dirigentes PT os imitassem, e não se aproveitariam disso para tentar destruí-lo. Enquanto o PT não acertar as contas políticas e éticas com esse pensamento torto, que ainda povoa a mentalidade de algumas figuras de seus quadros, casos como a dança da deputada pela absolvição de um colega e as trapalhadas e atentados à cidadania, cometidos pelo ex-ministro Palocci, certamente colocam em risco o PT e a reeleição de Lula.
Mais de trezentos mil militantes petistas participaram da maior eleição democrática interna do país. Demonstraram que o PT é a maior expressão política popular brasileira, e não concordam com os dirigentes que, embora apareçam na mídia como os pilares do partido e do governo, na verdade eram seus pontos mais frágeis e vulneráveis. O pior é que tais dirigentes negam-se a reconhecer isso. O mal que faz a falta de uma autocrítica séria dos erros e desvios cometidos pode danificar irremediavelmente a recuperação do PT e do governo.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.
Correio da Cidadania

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom esse texto. Só não concordo quanto a "dança da pizza"...

Na verdade, vi algumas imagens da "dança" pela Globo, com a "interpretação" e resumo dos jornalistas dessa emissora.

Eu sou muito expansiva como ela e comemoro pra valer qualquer vitória, ainda mais em se tratando de um colega. Quem foi que batizou a dança, ou interpretou dessa maneira como vem sendo veiculado??

(Óbvio, que tbm mostraram na mídia que a mesma tem um passado repleto de processos, dos quais não foi provado sua culpa...Não a estou defendendo, mas também não me deixo levar pelas interpretações dadas pela Globo, transformando um gesto em um deboche escancarado.)

Sobre a conta do caseiro... Sinceramente, que pai "desconhecido" aparece quando o filho já é maior de idade e dá uma "fortuna", (além de ser mantido no anonimato pela mídia) e bem na época de escândalos contra o Governo Federal? Sinceramente, o que mais vejo nas Defensorias Públicas, são mães colocando os "pais" biológicos na cadeia, exatamente porque nunca ajudam os filhos financeiramente. Ademais, esse caso me lembra aquele da "secretária", que ficou muito feliz de ser até "convidada" para pousar nua na Playboy...

Sobre o Partido... Sou saudosa do tempo em que se entrar para o partido, tínha-se que estudar seu estatuto. E qualquer mal passo era encaminhado para a comissão de ética do Partido...