quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

G1, mas tendendo a zero

Lembra-se de toda a imensa quantidade de análises a respeito da nova ordem mundial, do declínio do império americano, da ascensão da China e, mais abrangentemente, do BRIC (Brasil, Rússia e Índia, além da sempre citada China)?

Pois é, a crise no Oriente Médio feriu gravemente todas essas análises.

O único país que de fato se movimentou, para o bem e para o mal, foi o velho império, os Estados Unidos da América.

Mesmo assim, foram colhidos desprevenidos pela revolta. Nesta terça-feira, Jackson Diehl, colunista do "Washington Post", pôs um link para entrevista de Hillary Clinton, a secretária de Estado norte-americana, dada ao canal Al Arabiya em março de 2009.

É assim: a entrevistadora pergunta se a nova administração norte-americana passaria por cima das críticas do governo George Walker Bush (sim, o velho GWBush) às práticas repressivas do Egito de Hosni Mubarak, a ponto de convidá-lo a visitar os Estados Unidos.

Hillary responde: "Estamos esperando que o presidente Mubarak venha tão pronto quanto permita a sua agenda. Tive uma ótimo encontro com ele esta manhã. Eu realmente considero o presidente e a sra. Mubarak como amigos de minha família. Assim, espero vê-lo frequentemente aqui no Egito ou nos Estados Unidos".

Pois é, a secretária vai ser obrigada a deletar o vídeo que continua pendurado lá nas páginas do Departamento de Estado.

É claro que todo o mundo sabe que os EUA, nos governos anteriores como no atual, foi instrumental no suporte à ditadura egípcia, para não mencionar outros ditadores mundo afora.

Mas uma declaração tão carinhosa como a acima reproduzida expõe sua autora ao ridículo agora que até os Estados Unidos dizem que não querem ver Mubarak nem no Egito nem nos Estados Unidos nem agora nem frequentemente.

Ainda assim, a retórica atual do governo Obama, hesitante e contraditória, é melhor do que o absoluto silêncio dos outros grandes do mundo - e também dos não tão grandes, como o Brasil.

A Europa está tonta, não sabe o que dizer ou fazer. A França, então, enroscou-se em revelações de que o primeiro-ministro, François Filllon, usou para viajar ao Egito um avião posto à disposição por Mubarak. A ministra do Exterior, Michèlle Alliot-Marie, teve regalias de gente do regime na vizinha Tunísia, em que o ditador (Ben Ali) já caiu.

E a China, então? O único movimento foi censurar a palavra "Egito" nos buscadores internos, o que só demonstra que as autoridades chinesas, em vez de tentar algo a respeito do Egito, temem que a praça da Paz Celestial algum dia volte a ser uma praça Tahrir.

No caso do Brasil, até se entende o relativo silêncio (as notas oficiais divulgadas são inócuas). O fato é que todo o esforço do governo anterior para ser partícipe do processo de paz no Oriente Médio deu em nada. Eu até concordo com esse esforço, a partir da constatação óbvia de que, se o Brasil está no mundo, tudo o que acontece no mundo lhe interessa.

Mais ainda em um país dono de um canal, o de Suez, pelo qual passam cerca de 15 mil navios por ano, o que representa 14% do transporte mundial de mercadorias.

De todo modo, fica claro que o Brasil não tem bala para se meter nesse formidável rolo.

Tudo somado, fica claro que a nova ordem mundial pode ser econômica, com o avanço especialmente de China e Índia, mas no conjunto da obra, vale mesmo o velho G1, mais conhecido como Estados Unidos da América.


Clóvis Rossi

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