terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Alegria! Alegria!

Pode parecer incrivelmente absurdo. Mas a vida é assim mesmo cheia de absurdos que raiam a incredulidade. Depois de noventa anos, repetindo-se quase incansavelmente, que o mundo estaria dividido em dois e que o primeiro deles era o mundo socialista em ascensão, onde jorrava leite e mel, e o segundo era o mundo capitalista em decadência, onde se alastravam a fome e a miséria. Após noventa anos de tão absurda mentira, a queda do Muro de Berlim deixou clara a inconsistência desse discurso. Desprovidos de qualquer outro, grande parte da esquerda tradicional procurou se refugiar nas academias buscando, na linguagem hermética e erudita, mais uma vez ludibriar parecendo lamber suas feridas. Não se sabe se enganado ou se enganando. Sabe-se que esses discursos carecem, profundamente, de qualquer fundamentação. A verdade consiste no fato de que, nos embates políticos cruciais, as forças do socialismo foram tragicamente derrotadas pelas forças do capitalismo. Aí sim, está o ponto de partida da verdade e ela resume-se em dizer que fomos derrotados. Isso mesmo! Devemos assumir em toda nossa plenitude as nossas derrotas. Buscar as suas causas. E tentar daí, levantar-se para uma nova luta e escamotear, mentir, fraudar, fantasiar, ludibriar. Não é a saída correta, embora seja a saída frequente.


O escabroso de tudo é que um segmento da esquerda não assume discurso nenhum, ou melhor, assume o discurso de que a culpa é do inimigo que não nos deixou lograr a vitória. Enquanto isso essa gente mal formada ou informada pratica um esporte suicida. Postam-se diante de suas telinhas de televisão a torcer pela derrocada do “diabo”, “a queda do império do norte”. Ontem, exultantes de alegria, comemoravam de forma mal disfarçada a destruição das torres gêmeas. Depois de outros entreveros vem a alegria da crise financeira norte americana, irlandesa, grega, portuguesa e espanhola. É o mundo sucumbindo e nós pulamos de alegria, sem perceber que junto a ele estamos também indo precipício abaixo. Alegria! Alegria!
Gilvan Rocha

Nenhum comentário: