quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Uma esquerdista vive o auge do seu delírio imoralista. Ou: Marilena Chaui repete Goebbels 77 anos depois; ela só trocou de “judeus”

Uma esquerdista vive o auge do seu delírio imoralista. Ou: Marilena Chaui repete Goebbels 77 anos depois; ela só trocou de “judeus”
Abaixo, escrevo um post sobre as quase 100 mil assinaturas do Manifesto em Defesa da Democracia e lembro a manifestação ilegal havida na Faculdade de Direito do Largo São Francisco em defesa da candidatura de Dilma Rousseff. Eu não havia visto ainda o vídeo em que Marilena Chaui põe toda a sua ignorância a serviço da causa. Uma ignorância que chega a ser quase comovente, embora essencialmente perigosa. Ela fala suas bobagens de modo muito convicto, escandindo as sílabas com especial ênfase, como se isso conferisse seriedade ao que diz. Ah, Marilena, Marilena…

Antes que eu publique o vídeo e comente, um pouco de memória pessoal. Ainda mocinho e ainda de esquerda, fui certa feita a uma plenária de professores e alunos da USP, começo dos 80, preparatória para uma greve, e esta senhora era a grande estrela do encontro, mesmerizando a atenção dos jovens estudantes. Num discurso, um tanto inflamada, Marilena deu lá a sua interpretação muito particular da resposta da reitoria a algumas reivindicações, e disparou: “Esse reitor que vá para a puta que o pariu!”

Uau! Talvez esperasse, sei lá, uma espécie de delírio febril na seqüência de seu desabafo desbocado, aplausos calorosos, quem sabe? Mas não! Fez-se um silêncio ensurdecedor na sala. O constrangimento não provinha da pudicícia dos moços, mas da falta de decoro da “mestra”. Um então amigo, ainda mais, digamos, “radical” do que eu mesmo à época (é figura da vida pública brasileira e continua radicalíssimo!!!), cutucou-me: “Essa mulher não é séria!”. Marilena é assim mesmo. Sempre fala o que lhe dá na telha. E sua convicção num discurso é sempre inversamente proporcional a seu conhecimento de causa.

Vejam este filme. Enquanto o vídeo em que Hélio Bicudo lê o Manifesto em Defesa da Democracia já foi acessado quase 210 mil vezes no YouTube, o de Dona Doida não foi visto nem por 3 mil pessoas. Eu ajudo os carentes de bilheteria, embora eu ache que Marilena precisa caprichar na marquiagem e não pode esquecer o nariz vermelho na próxima intervenção. O cabelo tá bom — emula com o do Bozo.

Viram? Então vamos lá. É impressionante! É possível a esquerdistas argumentar falando só a verdade? Estou convencido de que não. E é por isso, Olavo de Carvalho tem razão, que é inútil debater com eles. Vocês ouviram Marilena afirmar que Serra começou a campanha criticando os programas sociais e agora diz que vai dar continuidade a eles. É mentira! Nunca criticou! Nem na campanha nem antes. Não que não possam ser criticados ou não tenham aspectos criticáveis. Ocorre que ele não fez isso.

A tese do latifúndio
Na sua alastrante ignorância, Marilena diz que Serra ganhou nos estados do agronegócio, que, diz ela, no seu tempo, era chamado de “latifúndio”, todos com severos problemas ambientais. Uma besteira tripla. Em primeiro luar, acreditar no latifúndio como uma categoria econômica, política ou de economia política já é sinal de atraso mental. Em segundo lugar, mesmo aqueles que acreditam não tratam o “latifúndio” como sinônimo de agronegócio. A afirmação revela ignorância de Marilena até sobre as teses de esquerda. Em terceiro lugar, Serra ganhou em oito estados: Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Acre, Roraima e Rondônia. Vamos ver.

Santa Catarina é o estado por excelência da pequena propriedade, até pelo tipo de colonização que ali se deu. Paraná e São Paulo já não têm mais fronteiras agrícolas — este último, no que concerne ao meio ambiente, tem as leis mais avançadas do país. Mais da metade de Roraima está nas mãos do governo federal ou dos índios. O Acre, que caminha para 16 anos de governo petista, e Rondônia não têm os problemas ditos do “latifúndio” — tanto é que a turma de João Pedro Stedile nem está por lá. O Mato Grosso do Sul simplesmente não tem estoque de terra para abrigar latifundiários por causa de sua geografia. No Mato Grosso, há sim, um conflito entre produtores rurais e ambientalistas — mas a questão nada tem a ver com reforma agrária. De todo modo, ainda que ela falasse a verdade, qual é a suposição? Serão, então, tantos assim os latifundiários a ponto de dar a vitória a Serra? Mas essa categoria, por definição, não deveria ser minoritária? Pobre Marilena! Chegar aos 69 nessa penúria intelectual… Coisa melancólica!


Qual é o estado em que mais há conflitos de terra no país, em que mais se mata e mais se morre por causa da terra? O Pará, governado pela petista Ana Júlia Carepa — parece que o estado será libertado no dia 31 de dezembro… Quem ganhou no Pará? Dilma! Qual é o estado em que o MST é mais forte e, diga-se, mais violento? Pernambuco! Foi onde Dilma deve a sua vitória mais expressiva. Terá finalmente desaparecido do Nordeste, onde a petista venceu, o que as esquerdas chamavam, de fato, latifúndio — e que nunca foi sinônimo de “agronegócio”? Marilena conta uma mentira a seu distinto público — que, eu sei, não estava ali nem para ouvir verdades nem para aplaudir a legalidade, já que a manifestação era ilegal.


Autoritária
Ma vamos lá. Digamos que esses estados fossem mesmo caracterizados pelo “latifúndio” ou estivessem nas mãos do agronegócio — São Paulo, Jesus Cristo!, é o estado mais industrializado do país!!! Marilena, como vemos, considera que isso é um defeito, que é algo a ser superado, certo? Para ela, uma reforma agrária tem de dar conta desse grave problema. Feito isso, depreende-se de seu “raciossímio” que a oposição, então, não ganharia eleição mais em lugar nenhum!

Entenderam? No dia em que o Brasil for como ela sonha, a democracia e a alternância de poder serão desnecessárias porque, então, o PT seria o governo natural do Brasil. Pensem bem: se a oposição só ganha onde há latifúndio, sem o latifúndio, não ganharia mais nada. Esse é o horizonte mental e moral de uma esquerdista como Marilena Chaui. Se o seu partido não vence a disputa, é porque a sociedade está doente.

Liberdade de expressão
Marilena foi a autora intelectual da tese do “golpe da mídia” durante o mensalão. É por isso que digo que ela é a “pensadora” que fundiu Spinoza (que ela chama “Espinosa”) com Delúbio Soares. Sua tese poderia se chamar “A Ética de Espinosa na Nervura do Real dos Recursos Não-Contabilizados”. Prestem atenção a esta fala da valente:
“O que caracteriza a democracia e distingue a democracia de todos os outros regimes políticos são duas coisas: em primeiro lugar, a defesa da liberdade de pensamento e de expressão, isto é, a defesa do direito à opinião pública.”
Epa! Notem no vídeo que ela fala a palavra “pública” numa espécie de explosão. Uma ova! A liberdade de pensamento e expressão sempre será a liberdade do indivíduo, minha senhora, já que a vontade do público é vária e inconstante. Eis aí: esse é o Spinoza filtrado pelo marxismo bocó. O que é a “opinião pública” senão a multiplicidade de opiniões dos homens? Essas coisas, na boca de um esquerdista, nunca são inocentes. Por que eles se organizam em ONGs e observatórios disso e daquilo e querem criar conselhos para monitorar a “mídia!”? Porque se consideram mais do que a representação do público — o que já não são! Eles se consideram a sua encarnação. Uma banana para esses macacos autoritários! Voltemos à moça.

Ora, para isso, é preciso que você tenha acesso aos meios pelos quais você exprime essa opinião. Ora, quando esses meios são um monopólio, quem vem falar pra mim de democracia? É a ausência dela.
Cadê o monopólio? Onde está a lei que o determina? Fiquemos com a prata da casa primeiro. A VEJA não monopoliza as revistas, por exemplo. Ela só tem muito mais leitores dos que as concorrentes por uma decisão dos… leitores! A TV Globo tem mais telespectadores porque essa é uma decisão dos… telespectadores! Deram quase R$ 700 milhões por ano para Franklin Martins brincar de TV com Tereza Cruvinel. Conseguiram fazer algo com o humor e a picardia dele e o charme intelectual dela. Resultado: é o traço mais caro da TV mundial. Vamos seguir.

Porque, para que ela exista, sei que é preciso que, em igualdade de condições, duas ou três ou quatro opiniões pudessem se exprimir no mesmo tempo e no mesmo espaço. O que nós temos é o controle da opinião e a impossibilidade da contestação.
Besteira! Por que Marilena não faz essa proposta aos jornais da CUT, por exemplo? Ora vejam: os que lançaram o Manifesto em Defesa da Democracia, suprapartidário, numa puderam ocupar a cadeira em que esta senhora senta. Porque, em nome da liberdade de pensamento e de expressão, só se admitiu na Sala dos Estudantes, um prédio público, uma manifestação pró-Dilma. Na pluralidade “deles”, só o PT fala. Marilena está pouco se lixando para a diversidade de opiniões. Ela não gosta mesmo é de uma reportagens que evidenciem as falcatruas de seu partido. Acha que são sabotagem. Já as que atingem os adversários, e são muitas, são virtudes.

Então não venham me falar em democracia. Eu costumo dizer que a defesa da liberdade de pensamento e de expressão, que é aquilo pelo que o filósofo que (sic) eu trabalho desde a juventude,ele deu a vida - vocês sabem que ele foi banido da sinagoga, impedido pelo templo e pela Igreja, ele foi escorraçado como um subversivo perigoso para ordem, porque ele escreveu em defesa da liberdade de pensamento e de expressão, como característica da República e da democracia, Spinoza. Então a última coisa que passaria pela cabeça de alguém como seu seria a recusa da liberdade de pensamento e de expressão”.
Entenderam? Como Marilena estuda Spinoza desde a juventude e como ele deu a vida pela liberdade, então ninguém estaria habilitado a debater o assunto com ela. E pensar que esta senhora escreveu um livro chamado “Cultura e Democracia” — é verdade que ela copiou alguns trechos de Claude Lefort, seu amigo do peito — em que ela ataca justamente esse expediente que emprega: recorrer ao “discurso competente” para tentar silenciar os adversários. Vou confessar: eu li Marilena Chaui. E posso dizer: Marilena Chaui é uma fraude intelectual. Vocês não precisam acreditar em mim. O filme acima a expõe de modo completo no amor pela verdade e no rigor conceitual.

Para encerrar
Marilena começa a sua fala atacando as tais “três famílias” que dominariam a mídia. Quais seriam? Posso imaginar. Essas três, como se nota, conspirariam contra a “opinião pública”, impedindo o exercício do contraditório. Essa defesa prática da censura e essa truculência fingindo-se defesa da democracia não são novas. Alguém mais sinistramente capaz do que Marilena já fez isso antes.

Publiquei aqui no dia 20 de setembro o texto Somos os “judeus insolentes” do petismo. Ou: “Um dia a gente cala vocês!”. Traduzi, então, um discurso feito por Goebbels no dia 10 de fevereiro de 1933, 11 dias depois de Hitler ter sido nomeado chanceler da Alemanha. Marilena ataca as “três famílias”; Goebbels atacava os “judeus que mandavam na imprensa”. Marilena, como vimos, acredita que a vitória de Serra em oito estados é tisnada pelo “latifúndio” (!); Goebbels já enxerga a conspiração dos “vermelhos”. Marilena acha que as “três famílias” impedem o livre exercício da opinião; Goebbels acreditava que os judeus conspiravam contra o nacional-socialismo. Vocês já viram o discurso da companheira. Seguem alguns trechos da fala do “companheiro” (íntegra da tradução naquele link). O que vocês acham desse meu exercício de história comparada?

Companheiros,
Antes de o encontro começar, gostaria de chamar a atenção para alguns artigos da imprensa de Berlim que asseguram que eu não deveria merecer a atenção das rádios alemãs, uma vez que sou insignificante demais, pequeno demais e mentiroso demais para poder me dirigir ao mundo inteiro.

Nesta noite, vocês testemunharão um evento de massa como nunca aconteceu antes na história da Alemanha e, provavelmente, do mundo.
(…)
Quando a imprensa judaica reclama que o movimento Nacional Socialista tem a permissão de falar em todas as rádios alemãs por causa de seu chanceler, podemos responder que só estamos fazendo o que vocês sempre fizeram no passado. Há alguns anos, não falávamos da boca pra fora quando dizíamos que vocês, judeus, são nossos professores e que só queremos ser seus alunos e aprender com vocês. Além disso, é preciso esclarecer que aquilo que esses senhores conseguiram no terreno da política de propaganda durante os últimos 14 anos foi realmente uma porcaria. Apesar de eles controlarem os meios de comunicação, tudo o que conseguiram fazer foi encobrir os escândalos parlamentares, que eram inúteis para formar uma nova base política.
(…)
Se hoje a imprensa judaica acredita que pode fazer ameaças veladas contra o movimento Nacional-Socialista e acredita que pode burlar nossos meios de defesa, então, não deve continuar mentindo. Um dia nossa paciência vai acabar e calaremos esses judeus insolentes, bocas mentirosas! E se outros jornais judeus acham que podem, agora, mudar para o nosso lado com as suas bandeiras, então só podemos dar uma resposta: “Por favor, não se dêem ao trabalho!”

Ademais, os nossos homens da SA e os companheiros de partido podem se acalmar: a hora do fim do terror vermelho chegará mais cedo do que pensamos. Quem pode negar que a imprensa bolchevique mente quando o [jornal] Die Rote Fahne, este exemplo da insolência judaica, se atreve a afirmar que o nosso camarada Maikowski e o policial Zauritz foram fuzilados por nossos próprios companheiros?

Esta insolência judaica tem mais passado do que terá futuro. Em pouco tempo, ensinaremos os senhores da Karl Liebnecht Haus [sede do Partido Comunista] o que é a morte, como nunca aprenderam antes. Eu só queria acertar as contas com os [nossos] inimigos na imprensa e com os partidos inimigos e dizer-lhes pessoalmente o que quero dizer em todas as rádios alemãs para milhões de pessoas.

Encerro
É isto: somos os “judeus insolentes” do petismo! E está na cara que eles querem nos pegar e acham que estamos com os dias contados.

Por Reinaldo Azevedo

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