segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Debate Folha-RedeTV – Dilma vive o seu pior momento

Debate Folha-RedeTV – Dilma vive o seu pior momento. Ou: Ela quer governar “para a pessoa humana”
Não sei quem vai vencer a eleição de 2010 — eu adoro começar os meus textos com esta frase, hehe, porque imagino a cara de tacho dos que sabiam… —, mas asseguro que os petistas andam muito preocupados. E o debate de ontem, promovido pela Folha e pela Rede TV, ajuda a explica por quê. Vamos ser claros? A candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, está perdida e vive o seu pior momento desde que a corrida começou. Se isso vai ou não se refletir nas urnas, bem, isso eu também não sei. À diferença de alguns coleguinhas espertos (aqueles mesmos que tinham a certeza de que Dilma venceria no primeiro turno com larga maioria…), não tomo a minha percepção do debate como síntese da opinião dos telespectadores-eleitores. Exceção feita àqueles que são fãs do PT e que votam no partido ainda que o candidato seja um poste de bigode, acho difícil que alguém possa dizer que Dilma se saiu bem no embate de ontem. Já o tucano José Serra teve o seu melhor desempenho.

Uma frase da candidata petista, na fala final, poderia ser um emblema de sua performance: “Farei um governo voltado para a pessoa humana,sobretudo para a pessoa humana, que será respeitada”. Seja lá o que isso signifique, dada a impossibilidade de existir uma pessoa não-humana. Dilma talvez estivesse tentando corrigir posições polêmicas expressas em entrevistas anteriores, como a defesa que fez da descriminação do aborto.

Serra não tocou no assunto; ela também não. Mas a questão está no ar. Pouco antes do início do debate, a Justiça Eleitoral havia determinado que a PF a apreendesse impressos encomendados por uma setor da Igreja Católica que recomenda que os cristãos não votem em candidatos pró-aborto. Anteontem, petistas haviam constrangido ilegalmente o gerente de uma gráfica (ler acima). E Dilma se vê, então, na contingência de afirmar que vai respeitar “a pessoa humana”. Convenham: chega a ser patético.

Dilma escolheu ontem dois caminhos: satanizar José Serra, acusando-o de “privatista” — e, parece, ele conseguiu se sair bem do embate —, e atacar a gestão tucana em São Paulo, especialmente na educação e na segurança pública. Huuummm… A privatização como terrorismo eleitoral foi muito eficiente na disputa de 2006, mas, tudo indica — ainda falta muito tempo para a eleição — “não pegou” desta vez. E Dilma, convenham, não ajuda muito. Eu duvido que alguém tenha entendido direito o que ela quis dizer ou a “denúncia” que ela tentou fazer. O ataque à gestão tucana em São Paulo parece ser uma estratégia estranha. Eu duvido que isso a ajude a ampliar sua margem de votos fora de São Paulo. No Estado, esse mesmo discurso foi rejeitado nas urnas. O tucano Geraldo Alckmin venceu a disputa no primeiro turno. Ademais, os números falam em favor do Estado nos dois quesitos, como vocês estão cansados de saber.

Eu não sei quem vai vencer a eleição de 2010, mas se nota um certo esgotamento da tática petista. Os ataques permanentes ao governo FHC e a louvação exagerada de Lula foram armas muito eficientes no primeiro turno, diante de uma campanha de Serra que não conseguia, isto é evidente, encontrar o tom, perdendo-se num administrativismo minimalista, embora tocasse, sim, em questões sérias e graves da gestão, como a saúde por exemplo. Mas faltavam a voz e a postura do estadista, do governante com uma mensagem. E isso apareceu no segundo turno na campanha eleitoral — que descobriu que quem só apanha perde — e nos debates. E Dilma, que realmente esperava triunfar no primeiro turno, perdeu o rumo. E não o encontrou até agora.

A saída tem sido reforçar a presença de Lula no horário eleitoral e nos palanques. Faz sentido? Pode até fazer. Ele é seu grande esteio — na verdade, sempre foi o único . Mas isso também contribui para que fique mais evidente o seu real tamanho. Ela não venceu no primeiro turno, mas a vantagem conquistada era grande. É claro que a eleição terminou no dia 3 com um viés pró-Dilma. Hoje, creio, dada a, digamos, imprecisão dos institutos de pesquisa, poucos se arriscariam a cravar o resultado. Dilma está esgotada.

O que, afinal, o segundo turno trouxe para o primeiro plano? Essa não é a praia dela, não. Pode até ser eleita, mas será sempre uma estranha nesse ninho. No primeiro turno, com dois outros candidatos no embate, ela falava muito menos. A campanha triunfalista de João Santana — que passou a bater pesado — se encarregava de criar a “super-Dilma”. Nos debates, ela fazia suas perguntas a Marina e Plínio de Arruda Sampaio e podia deitar sua sapiência estudada, sem muito risco.

Um debate de segundo turno é de outra natureza. Aí, por mais ensaiada que a coisa esteja, o risco é gigantesco. Se o adversário souber lidar direito com a lógica do encontro, como fez Serra neste domingo, as coisas podem se complicar, como se complicaram. Os defeitos de Dilma vieram à tona com brutal clareza. Sua arma continua a ser uma só: tentar desmoralizar o governo FHC e exaltar o governo Lula. Ocorre que isso tinha lá sua eficiência nos debates da fase anterior. Agora, pode passar a imagem de pessoa ranheta, prepotente, que está sempre falando mal dos outros.

Lula vai ter de se desdobrar e entrar ainda mais na campanha. Pode dar certo? É claro que pode. Mas também pode reforçar a suspeita de que Dilma é incapaz de andar pelas próprias pernas e de que alguém assim não pode presidir o Brasil. É uma operação de risco.

Nos estúdios da Rede TV, o clima entre os petistas, ao fim do encontro, era de velório. Tivessem ido bem, viria a arrogância conhecida. Eles não sabem ganhar ou perder nem um mísero debate. E, nesse caso, não dá para chamar a Polícia Federal.


Por Reinaldo Azevedo

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