De Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Popul
Dizer que os planos de governo são pouco mais que peças decorativas em uma campanha pode soar como heresia. Pior, como uma afirmativa que renega tudo que as campanhas deveriam ser.
Existe, no centro de nossa cultura política, um modelo idealizado do processo eleitoral, em função do qual estabelecemos o certo e o errado nas eleições e no comportamento dos candidatos. Nele, os planos de governo são a parte nobre da disputa, a razão para que o eleitor opte por um candidato e descarte outros.
Nessa visão abstrata, qualquer voto que não se baseie nas propostas dos candidatos é inferior. Se o eleitor deixar que suas paixões o dominem, se permitir que alguém o influencie, se pensar com seu bolso ao invés de com sua mente, comete um pecado contra a cidadania. Bom é aquele que olha apenas os planos de governo.
Se as coisas fossem assim, o eleitor teria uma árdua tarefa pela frente, procurando se informar sobre os projetos dos vários candidatos para cada área. Depois, os analisaria, quem sabe usando critérios como exequibilidade e relevância, para chegar a uma conclusão a respeito de cada um. E ai do candidato que não tivesse propostas para todas as políticas: com uma nota zero, por exemplo, na parte dedicada à energia, precisaria de um dez quando suas metas de política monetária fossem escrutinadas.
É evidente que isso não existe, nem do lado dos eleitores, nem dos candidatos. E não é por que somos uma sociedade pobre e temos uma cultura política imatura. As eleições não são assim em lugar nenhum do mundo.
Eleições não são exames escolares, em que os eleitores-julgadores avaliam racionalmente os candidatos, dando a uns notas baixas e ao “melhor” o diploma de honra ao mérito. Elas envolvem paixões, interesses, lealdades, emoções, identidades formadas ao longo da vida, torcidas. Na imensa maioria das vezes, as pessoas primeiro escolhem em quem vão votar e só depois ficam sabendo o que “seu” candidato propõe. Por isso, elas sempre preferem seus projetos e acham piores os dos adversários (mesmo quando são bons).
No Brasil contemporâneo, não houve uma só eleição presidencial em que as propostas dos candidatos, literalmente falando, tivessem sido relevantes. Ninguém votou Collor pelo “plano de governo”, mas por que queria juventude e mudança. Fernando Henrique ganhou e se reelegeu com um plano de uma palavra só: real. Lula chegou e permaneceu no poder por que a população se convenceu de que a hora dele tinha chegado, pois estava cansada da elite que governava.
Os candidatos não gostam de perder tempo com esforços inúteis. Para que fazer detalhados e minuciosos planos de governo, se a eleição é sempre incerta? Apenas para satisfazer uma formalidade, dado que os eleitores pouco vão vê-los?
Na disputa, o máximo que as candidaturas apresentam são “planos de campanha”, não “de governo”. Na essência, são ideias pensadas para se transformar em peças de propaganda, que nem precisam ser inteiramente realistas. Como se destinam à televisão, têm que ser simples e curtas, sem fundamentações e cálculos de viabilidade. Seu objetivo é fixar, através do conteúdo, a imagem que se pretende projetar para o candidato: “conhece as pessoas carentes”, “sabe o que fazer para resolver os problemas do povo” e atributos semelhantes. Não são formuladas para governar, mas para ganhar a eleição.
Por isso, os verdadeiros planos só são elaborados depois que o candidato vence, quando seus assessores recebem os dados de dentro do governo e se dedicam seriamente a eles. É nas equipes de transição que se fazem planos de governo, não nas de campanha.
Quem reclama da falta de “planos de governo” nestas eleições talvez não se dê conta, mas, para a maioria das pessoas, eles são claros: Dilma quer manter e Serra mudar o que Lula está fazendo. Essa informação basta para elas.
Existe, no centro de nossa cultura política, um modelo idealizado do processo eleitoral, em função do qual estabelecemos o certo e o errado nas eleições e no comportamento dos candidatos. Nele, os planos de governo são a parte nobre da disputa, a razão para que o eleitor opte por um candidato e descarte outros.
Nessa visão abstrata, qualquer voto que não se baseie nas propostas dos candidatos é inferior. Se o eleitor deixar que suas paixões o dominem, se permitir que alguém o influencie, se pensar com seu bolso ao invés de com sua mente, comete um pecado contra a cidadania. Bom é aquele que olha apenas os planos de governo.
Se as coisas fossem assim, o eleitor teria uma árdua tarefa pela frente, procurando se informar sobre os projetos dos vários candidatos para cada área. Depois, os analisaria, quem sabe usando critérios como exequibilidade e relevância, para chegar a uma conclusão a respeito de cada um. E ai do candidato que não tivesse propostas para todas as políticas: com uma nota zero, por exemplo, na parte dedicada à energia, precisaria de um dez quando suas metas de política monetária fossem escrutinadas.
É evidente que isso não existe, nem do lado dos eleitores, nem dos candidatos. E não é por que somos uma sociedade pobre e temos uma cultura política imatura. As eleições não são assim em lugar nenhum do mundo.
Eleições não são exames escolares, em que os eleitores-julgadores avaliam racionalmente os candidatos, dando a uns notas baixas e ao “melhor” o diploma de honra ao mérito. Elas envolvem paixões, interesses, lealdades, emoções, identidades formadas ao longo da vida, torcidas. Na imensa maioria das vezes, as pessoas primeiro escolhem em quem vão votar e só depois ficam sabendo o que “seu” candidato propõe. Por isso, elas sempre preferem seus projetos e acham piores os dos adversários (mesmo quando são bons).
No Brasil contemporâneo, não houve uma só eleição presidencial em que as propostas dos candidatos, literalmente falando, tivessem sido relevantes. Ninguém votou Collor pelo “plano de governo”, mas por que queria juventude e mudança. Fernando Henrique ganhou e se reelegeu com um plano de uma palavra só: real. Lula chegou e permaneceu no poder por que a população se convenceu de que a hora dele tinha chegado, pois estava cansada da elite que governava.
Os candidatos não gostam de perder tempo com esforços inúteis. Para que fazer detalhados e minuciosos planos de governo, se a eleição é sempre incerta? Apenas para satisfazer uma formalidade, dado que os eleitores pouco vão vê-los?
Na disputa, o máximo que as candidaturas apresentam são “planos de campanha”, não “de governo”. Na essência, são ideias pensadas para se transformar em peças de propaganda, que nem precisam ser inteiramente realistas. Como se destinam à televisão, têm que ser simples e curtas, sem fundamentações e cálculos de viabilidade. Seu objetivo é fixar, através do conteúdo, a imagem que se pretende projetar para o candidato: “conhece as pessoas carentes”, “sabe o que fazer para resolver os problemas do povo” e atributos semelhantes. Não são formuladas para governar, mas para ganhar a eleição.
Por isso, os verdadeiros planos só são elaborados depois que o candidato vence, quando seus assessores recebem os dados de dentro do governo e se dedicam seriamente a eles. É nas equipes de transição que se fazem planos de governo, não nas de campanha.
Quem reclama da falta de “planos de governo” nestas eleições talvez não se dê conta, mas, para a maioria das pessoas, eles são claros: Dilma quer manter e Serra mudar o que Lula está fazendo. Essa informação basta para elas.
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