Escrito por Leo Lince
02-Jul-2010
O cidadão comum, que se julga bem informado por ler os jornalões de circulação nacional ou acompanhar o noticiário da televisão ou do rádio pode até pensar que só existem duas candidaturas disputando as eleições presidenciais que se avizinham.
Ou, talvez, duas e meia. Afinal, além da Dilma e do Serra, também a candidata dos verdes, Marina, de uns tempos para cá passou a ser contemplada pelos grandes meios. Prestou vassalagem aos dogmas do ideário dominante (independência do Banco Central, política social focada e saída legitimadora para o agronegócio) e ganhou a condição de coadjuvante no jogral do sistema.
Mas, no fundamental, os espaços da mídia grande estão voltados para a tarefa maior: imprimir um verniz de veracidade numa polarização que é falsa. A opção entre Dilma e Serra, apresentada como única alternativa real, é só do que se fala, propaga e alardeia na mídia grande. Feições distintas de um mesmo modelo, a candidata oficial e o candidato oficioso, na realidade, disputam apenas qual será o melhor gerente do continuísmo.
A mecânica da exclusão de qualquer alternativa crítica pode ser observada, igualmente, em outras dimensões da engrenagem política. Exemplos? São tantos. Alguns deles, nem todos, é claro, estão ao alcance de quem faz a leitura atenta dos jornais. Anotar as informações fragmentadas do dia-a-dia e, depois, agrupar tais fragmentos em um mosaico que possa desvendar o sentido geral do processo.
Já dá para saber, por exemplo, que a próxima campanha presidencial será a mais cara da história do Brasil. O tesoureiro do PT já fez previsão para os gastos da Dilma: acima dos R$ 500 milhões. A campanha do Serra não deve ficar atrás. Ou seja, os gastos legais, declarados, dos dois principais candidatos da ordem podem ultrapassar a marca do bilhão de reais. O financiamento privado de campanha, além de fator incontrolável de corrupção, termina por se constituir como poderosa cláusula de exclusão.
Já dá para saber também que pelo menos alguns dos institutos de pesquisa de opinião estão trabalhando com uma metodologia estranhíssima. Ao perguntar a preferência do cidadão consultado, primeiro se apresenta uma cartela só com os nomes de Dilma, Serra e Marina, depois outra cartela com os demais candidatos. O resultado é distorcido na certa. Um absurdo total, no entanto praticado abertamente. A última pesquisa do Ibope, deu até no jornal que a patrocinou, foi feita assim.
O uso escancarado da máquina pública por tucanos e petistas, as violações flagrantes da legislação eleitoral, deixando claro que o rigor da lei está reservado para os "outros", são elementos nos quais se revelam os termos do acordo tácito entre as forças dominantes. O nome disto é pacto de exclusão, uma aberração política que define o cenário da disputa eleitoral de 2010 como um fim de ciclo.
Léo Lince é sociólogo.
02-Jul-2010
O cidadão comum, que se julga bem informado por ler os jornalões de circulação nacional ou acompanhar o noticiário da televisão ou do rádio pode até pensar que só existem duas candidaturas disputando as eleições presidenciais que se avizinham.
Ou, talvez, duas e meia. Afinal, além da Dilma e do Serra, também a candidata dos verdes, Marina, de uns tempos para cá passou a ser contemplada pelos grandes meios. Prestou vassalagem aos dogmas do ideário dominante (independência do Banco Central, política social focada e saída legitimadora para o agronegócio) e ganhou a condição de coadjuvante no jogral do sistema.
Mas, no fundamental, os espaços da mídia grande estão voltados para a tarefa maior: imprimir um verniz de veracidade numa polarização que é falsa. A opção entre Dilma e Serra, apresentada como única alternativa real, é só do que se fala, propaga e alardeia na mídia grande. Feições distintas de um mesmo modelo, a candidata oficial e o candidato oficioso, na realidade, disputam apenas qual será o melhor gerente do continuísmo.
A mecânica da exclusão de qualquer alternativa crítica pode ser observada, igualmente, em outras dimensões da engrenagem política. Exemplos? São tantos. Alguns deles, nem todos, é claro, estão ao alcance de quem faz a leitura atenta dos jornais. Anotar as informações fragmentadas do dia-a-dia e, depois, agrupar tais fragmentos em um mosaico que possa desvendar o sentido geral do processo.
Já dá para saber, por exemplo, que a próxima campanha presidencial será a mais cara da história do Brasil. O tesoureiro do PT já fez previsão para os gastos da Dilma: acima dos R$ 500 milhões. A campanha do Serra não deve ficar atrás. Ou seja, os gastos legais, declarados, dos dois principais candidatos da ordem podem ultrapassar a marca do bilhão de reais. O financiamento privado de campanha, além de fator incontrolável de corrupção, termina por se constituir como poderosa cláusula de exclusão.
Já dá para saber também que pelo menos alguns dos institutos de pesquisa de opinião estão trabalhando com uma metodologia estranhíssima. Ao perguntar a preferência do cidadão consultado, primeiro se apresenta uma cartela só com os nomes de Dilma, Serra e Marina, depois outra cartela com os demais candidatos. O resultado é distorcido na certa. Um absurdo total, no entanto praticado abertamente. A última pesquisa do Ibope, deu até no jornal que a patrocinou, foi feita assim.
O uso escancarado da máquina pública por tucanos e petistas, as violações flagrantes da legislação eleitoral, deixando claro que o rigor da lei está reservado para os "outros", são elementos nos quais se revelam os termos do acordo tácito entre as forças dominantes. O nome disto é pacto de exclusão, uma aberração política que define o cenário da disputa eleitoral de 2010 como um fim de ciclo.
Léo Lince é sociólogo.
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