sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ranzinzices

CÉSAR VALENTE
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Insensatez (atualizado)

Quem não me conheça e leia as notas que estão abaixo, pode pensar que sou um insensível. Ao contrário: gosto de mágica e mágicos, não vejo nada de errado em fazer ou assistir a um festival de mágicas. Acho que o servidor público precisa de qualificação e quanto melhores cursos lhe forem oferecidos, melhor. A vocação da Ilha de Santa Catarina é mesmo o turismo e todo o esforço de aprimorar os serviços, treinar mão-de-obra, dotar a região de infra-estrutura, é importante.

Então por que essa implicância com o LHS?

Ontem conversei com um professor de uma escola pública em Itajaí, que foi inundada na enchente do final do ano passado. Minha mulher tinha ido levar alguns livros para ajudar a repor o que foi perdido na biblioteca da escola. Além dos livros de literatura, eles estão também sem livros didáticos: o que a água não destruiu na escola, destruiu na casa dos alunos, a maioria dos quais teve enormes perdas. Não encontram, naturalmente, quem ouça seus pedidos e reclamos. Não há recursos, não há gerência, não há vontade, ao que parece, de resolver esses “pequenos” problemas que tornam o dia-a-dia das comunidades pobres um inferno.

Mas o governo estadual tem R$ 4 milhões para editar um atlas de Santa Catarina, cujo principal uso, além de ajudar o amigo editor, é mostrar para investidores como é lindo este paraíso.

Os governos federal, estadual e municipal têm alguns caralhões de reais para adular os abobrões do turismo e fazer a festa dos “parceiros” da mídia.

O governo tem também merdalhões de reais para financiar festivais de todo tipo e importar tudo o que o provinciano e inculto (verniz cultural não é suficiente para que alguém seja considerado culto) governador acha lindo mundo afora.

Nos hospitais públicos falta tudo. Basta ir a qualquer emergência. Pode ser na capital do estado. Conversem com os servidores da saúde, ouçam as queixas de quem está lá com algum parente com a vida por um fio.

A segurança pública está jogada às traças. Soldados da tropa de elite da briosa Polícia Militar vão, fardados, bater em rivais, atendendo não seus deveres constitucionais, mas aos reclamos do ciúme.Valentões em causa própria.

Traficantes informam que policiais têm esquema de extorsão. Um deles confirma o que a cidade toda suspeitava: foi solto por policiais que estão acima da lei. As “autoridades” da segurança, em ridículos óculos de grife, de boné e gravata, posam para fotos entregando chaves de viaturas, enquanto o cidadão cumpridor dos deveres se borra de medo dos bandidos propriamente ditos e dos policiais bandidos.

As prisões viraram piada internacional: as fugas não podem mais ser, tecnicamente, classificadas como fugas, porque não há obstáculos sérios a serem vencidos. Há um criminoso favorecimento que, no entanto, passa batido. Ninguém está nem aí para isso.

Portanto, gastar R$ 4 milhões com assinaturas de jornais e revistas quando faltam às escolas livros didáticos básicos, gastar mais outro tanto de milhões comprando produtos da dinamarquesa Lego, sem investir um centavo na construção de recursos didáticos locais, entre outras iniciativas que nascem como soluços, sem qualquer planejamento amplo ou integração a uma ação de médio ou longo prazos, nada mais é que insensatez.

E, antes que me esqueça: numa democracia, cada povo tem o governo que merece.

Tenham todos um ótimo final de semana. Segunda eu volto (ou a qualquer momento, em edição extraordinária).

ATUALIZAÇÃO DAS CINCO

Enquanto não aparecem comentários e cartinhas defendendo LHS e suas iniciativas contra as aleivosias que lancei, um e-mail me avisa que na listinha acima esqueci outras coisas que estão mal postas no estado. Diz que eu não poderia ter deixado de falar nas estradas, no escandaloso relacionamento de graduados servidores com as empreiteiras e, principalmente, nas duas pontes (Colombo Salles e Pedro Ivo), que estão há anos sem a conservação devida. Me avisa, o leitor, que pontes desse tipo precisam, de tempos em tempos, de inspeções detalhadas, usando inclusive mergulhadores para avaliar o estado dos pilares que estão embaixo dágua. Só que, ao que tudo indica, as verbas são consumidas sem que o trabalho seja feito. Quando ocorrer um desastre, certamente recorrerão à caridade do magnânimo e cego povo brasileiro. E dirão, com os olhos lacrimejantes e uma entonação de fazer inveja a Procópio Ferreira, Paulo Autran ou Mazzaropi: “eu não sabia!”

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