quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Marta escolheu o pior caminho para perder a eleição

Ricardo Noblat

Em 2002, o publicitário Duda Mendonça inventou o "Lulinha Paz & Amor" porque a maioria dos brasileiros se recusava a eleger o "Lula ex-metalúrgico quase sempre de mau humor", derrotado três vezes antes.

A maioria dos paulistanos esperava uma Marta menos Fávre e mais Suplicy no momento em que ela tenta se reeleger prefeita pela segunda vez.

Marta em estado bruto e com a arrogância à flor da pele enfrentou, ontem, um adversário ameno e com cara de bom moço no debate promovido pela Rede Bandeirantes de Televisão.

"Virgem Maria", espantou-se Gilberto Kassab depois de uma intervenção particularmente dura de Marta. "Virgem Maria" - deve ter repetido parte dos assistentes do lado de cá da telinha.

Uma idéia do que viria à noite fora oferecida ao longo do dia na forma de um comercial da campanha de Marta no rádio e na televisão.

O comercial faz insinuações a respeito da vida privada de Kassab (DEM). Uma voz de homem não identificada diz que o eleitor tem o direito de saber se Kassab é casado e se tem filhos.

"Você sabe mesmo quem é o Kassab? Sabe de onde ele veio? Qual a história do seu partido?" - pergunta a voz. Para deixar como últimas perguntas: "Sabe se ele é casado? Tem filhos?"

Outro comercial na mesma linha critica o passado político de Kassab e pergunta por fim: "Será que ele esconde mais coisas?"

Marta se fez de boba quando jornalistas sugeriram que os comerciais nada tinham a ver com a sua biografia de apresentadora de programa de televisão onde orientava as pessoas a desfrutarem dos prazeres do sexo.

- O que você está querendo insinuar? - respondeu Marta à pergunta de uma jornalista da Folha de S. Paulo. "São direitos de informação que todo mundo tem que ter".

Desesperada com a derrota que se avizinha, Marta mandou todos os escrúpulos às favas e tentou arrombar a porta da vida privada do seu adversário.

Tem cabimento, sim, examinar a trajetória política de Kassab - assim como Kassab, se quisesse, poderia examinar a trajetória política de Marta.

Não tem cabimento, o menor cabimento, discutir-se se Kassab é casado ou solteiro, se tem filhos ou não. Suponho que ele seja solteiro, sem filhos. Do contrário já teria se exibido por aí na companhia da família.

Sim, mas o que há de relevante nisso? No que pode mudar o voto do eleitor a informação sobre o estado civil de Kassab?

Sejamos claros: a ultra-liberal sexológa Marta, que não renuncia ao sobrenome do ex-marido, quer sugerir que Kassab é gay. Correligionários no Rio do candidato a prefeito Eduardo Paes (PMDB) se valem do mesmo jogo baixo e sujo contra Fernando Gabeira (PV).

No caso de Gabeira, bocas de aluguel percorrem a zona oeste da cidade e faixas da zona sul dissiminando o boato de que ele é gay, viciado em drogas e ateu.

De Lula, em 1989, a turma de Fernando Collor disse que congelaria os depósitos das cadernetas de poupança. Foi Collor que congelou. De Gabeira se diz que reforçará com drogas a merenda escolar.

O Instituto Datafolha pôs Kassab 17 pontos percentuais à frente de Marta em pesquisa de intenção de voto divulgada na semana passada. O Ibope divulgará amanhã nova pesquisa sobre a eleição em São Paulo.

Marta tinha dois caminhos igualmente limpos para sair do episódio eleitoral ainda em curso: o primeiro, contrariar todas as previsões e derrotar Kassab. O segundo, perder para ele, mas manter intacto seu expressivo patrimônio eleitoral e a imagem de uma política respeitável.

Tudo indica que Marta escolheu um terceiro caminho - o do abastardamento.

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