sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Testemunhos da variação climática

O professor Luiz Pessenda e sua equipe de seis alunos trabalham nos mangues da Ilha do Cardoso na reconstrução do paleoambiente, isto é, no estudo do que ocorreu no Brasil nos últimos 40 mil anos em relação ao clima e à vegetação. Esse espaço de tempo é determinado pela capacidade máxima de detecção do tempo pelo método do Carbono 14, que, segundo Pessenda, é extremamente confiável e de uso universal. Trabalhos semelhantes o professor associado da USP já realizou na Amazônia, especialmente na Ilha de Marajó.
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A datação de materiais interessa a pesquisadores de muitas áreas do conhecimento, especialmente arqueólogos, geólogos, químicos e físicos como o próprio Pessenda, que é formado na Unesp de Rio Claro, tem mestrado e doutorado em química analítica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, especialização em solos e nutrição de plantas pelo Cena e fez pós-graduação em isótopos ambientais no Canadá.
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Para entender o clima atual é preciso conhecer o clima do passado. Muitas instituições e empresas interessam-se por isso. Entre 60% e 70% das pesquisas e dos exames feitos no laboratório do Cena têm caráter de cooperação científica e acadêmica, e pelo menos 20% são prestação de serviço. Com a Vale do Rio Doce existe convênio, pois a empresa de mineração possui reserva de 23 mil hectares de mata atlântica em Linhares (ES) e está interessada em prestigiar e dar apoio logístico a pesquisas científicas sobre solos, botânica, animais e aves, entre outros aspectos. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) não recusa ajuda a projetos do Laboratório de Carbono 14, cujo curso é avaliado pela Capes com nota máxima.Empunhando um “testemunho” do mangue, tubo de aproximadamente 1,80m cheio de material para análise, Pessenda informa que será uma tarefa para alguns meses.
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Dentro do tubo de alumínio pode haver vestígios de ossos, carvão, madeira e conchas – tudo será datado. É possível que os resultados indiquem que em outros tempos a conformação da Ilha do Cardoso e demais áreas do litoral brasileiro tenha sido bem diferente do que é hoje, e até que tenha havido várias glaciações. O clima de épocas antigas tinha suas peculiaridades, porque não sofria interferência do homem. Atualmente, a atuação humana força mudanças.
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Um dos integrantes da equipe de Pessenda, Antonio Álvaro, que acaba de concluir o curso de Biologia na Esalq, confirma que há indicação de que o nível do mar pode ter sido mais baixo do que agora, ou que tenha variado algumas vezes, assim como o clima variou entre períodos secos e úmidos. Outros pesquisadores que ao meio-dia da segunda-feira passada acabavam de retornar da Ilha do Cardoso, suados e enlameados, eram Mariah Izar Francesquini e Jaime Rissi Passarini. Uma parte da equipe recolhe material da mata, outra do mangue, e cada pesquisador faz no laboratório a análise do material que coletou. No final é feita uma apresentação do conjunto, que servirá de subsídio para o estudo mais completo do quaternário na Ilha do Cardoso.

(Envolverde/Jornal da USP)

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