quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Como conciliar os antigos credos com as novas convicções?

Nas circunstâncias dos anos 80, frente à grande ofensiva do mal chamado neoliberalismo, e, sobretudo, frente à desagregação fulminante do socialismo soviético e de suas adjacências na Europa Central, a revolução cubana pareceu adernar. Progressivamente, e no desespero, engavetou antigos dogmas igualitaristas e nacionalistas e se abriu para o turismo e para o capital internacional, mantendo, porém, a centralização política e o partido único. Para as esquerdas brasileiras, envolvidas em lutas institucionais democráticas, tornou-se cada vez mais dificíl lidar com a revolução cubana.
Exercitou-se o turismo ideológico, de solidariedade, suscitando entre críticos impiedosos a maldosa asserção de que Cuba transformara-se na Disneylândia das esquerdas. Pequenos grupos ativos ainda tentam manter a chama, organizando eventos e atos públicos de apoio, mas uma grande parte observa com constrangimento as últimas evoluções da política do Estado cubano e as viagens de seu Líder Máximo.
Na luta desigual entre Golias (EUA) e David (Cuba), é quase insuportável não olhar o pequeno com simpatia. Pode ser uma atitude generosa, mas já não tem nada a ver com o internacionalismo revolucionário de antanho.
E assim, nas relações entre as esquerdas brasileiras e a revolução cubana, tão marcadas em outros tempos pelo heroísmo e pela idéia da revolução, sobrou uma certa melancolia. E uma atmosfera de naufrágio.
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Daniel Aarão Reis Filho é professor de História Contemporânea da UFF.

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