domingo, 9 de julho de 2006

Colhendo o que plantou

PT perde terreno na classe média
Para reverter rejeição, governo anunciou redução de tarifas telefônicas e vai rever MP dos Domésticos
Marcelo de Moraes

Apontado como um dos fatores decisivos para a derrota do PT em capitais importantes, como São Paulo e Porto Alegre, nas eleições municipais de 2004, o fantasma da perda do voto da classe média volta a assombrar a campanha petista.
Auxiliares diretos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do comando do PT admitem que a campanha vem perdendo densidade junto a essa camada. O governo começa a apresentar medidas que ajudem a reverter o quadro.
Dados referentes à última pesquisa do Datafolha mostram que o tucano Geraldo Alckmin já leva vantagem sobre Lula entre os eleitores com renda familiar entre 5 e 10 salários mínimos e na faixa superior a 10 mínimos. Na primeira faixa, que vai de R$ 1,75 mil a R$ 3,5 mil, Alckmin bate Lula por 40% a 37%, segundo pesquisa dos dias 28 e 29 de junho divulgada no dia 30. Na outra faixa, que inclui eleitores com renda familiar acima de R$ 3,5 mil, a vantagem é maior ainda: Alckmin ganha por 40% a 34%.A rejeição ao nome de Lula na classe média também é maior que a de Alckmin. Nesse cenário, a situação do petista é mais grave ainda, já que sua rejeição chega a 46% entre quem ganha mais de R$ 3,5 mil, contra 27% de Alckmin, e a 41% na faixa salarial imediatamente abaixo. O índice do tucano é de 18% nessa camada. A rejeição assusta os petistas. No caso de quem ganha acima de R$ 3,5 mil, os números do Datafolha indicam que Lula é rechaçado praticamente na proporção de um em cada dois entrevistados.
Dirigentes petistas já detectaram alguns pontos que têm feito a candidatura de Lula perder espaço na classe média. Segurança, tributação e tarifas elevadas, crise no setor aéreo no período próximo às férias escolares e a chamada MP dos Domésticos (que obriga patrões a recolher Fundo de Garantia do Tempo de Serviço para empregados domésticos e pagar multa de 40% na demissão sem justa causa) são alguns dos problemas na mesa de discussões dos estrategistas.
Alguns movimentos têm sido feitos para aliviar a insatisfação da classe média. Na quarta-feira, o governo anunciou a decisão de reduzir tarifas das contas telefônicas, numa diminuição média do custo de ligações em telefonia fixa em torno de 0,50%. É a primeira redução nas tarifas desde a privatização do setor, há oito anos, e contraria as operadoras, que tinham pedido autorização à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para aumentar as tarifas em 4,5% para ligações locais. A Anatel recusou.Outra providência foi a conversa entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, com os diretores dos bancos oficiais (Banco do Brasil, Caixa, BNDES, Banco da Amazônia e Banco do Nordeste), quinta-feira, recomendando que aumentem os empréstimos às pessoas físicas e jurídicas, além de reduzir os custos dos financiamentos.E o governo já revê o formato da MP dos Domésticos. O presidente deve vetar o pagamento da multa de 40% em caso de demissão sem justa causa. O governo também autorizou em abril o reajuste de 8% nas faixas salariais englobadas pela tabela do Imposto de Renda para Pessoa Física. Com a tabela defasada, cada vez mais pessoas deixavam de ser isentas ou mudavam para alíquotas de pagamento mais elevadas por conta das reposições salariais.
A oposição avalia também que a queda de Lula junto à classe média se deve ao maior acesso dessa camada aos meios de comunicação e percepção maior do envolvimento de integrantes do PT em escândalos de corrupção."Isso está mais do que estudado em situações como a do escândalo do mensalão.
Há até um estudo feito para o caso do Canadá, ano passado, que mostra que numa situação de envolvimento com corrupção reage mais quem está mais informado. Estes são os leitores de jornais, ou mais ou menos 20% da população. Sempre, claro, na classe média", avalia o prefeito do Rio, César Maia (PFL). Maia prevê a possibilidade de Lula perder espaço junto aos eleitores de camadas sociais mais baixas, onde lidera com folga, conforme seja divulgado o envolvimento do PT com escândalos.

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