segunda-feira, 3 de julho de 2006

Artigo

Nem Lula nem Alckmin
Marco Antônio Tavares Coelho - Maio 2006


Nesta antevéspera das eleições de outubro, os brasileiros que batalham por mudanças em favor da maioria de nosso povo estão diante de um quadro eleitoral inaceitável. Isto porque os grandes partidos - PT, PSDB e PFL -, com a possibilidade virtual de serem vitoriosos no pleito, de forma algum merecem o voto dos eleitores.
Desde o fim da
ditadura a questão primordial para o país, além do vital interesse em consolidar e aperfeiçoar o regime democrático, reside na necessidade de superar uma política econômica que privilegia a minoria que se enriquece a cada momento, em detrimento da imensa maioria, à qual apenas chegam os restos do banquete do “progresso” nacional.
Face a essa questão básica como se colocam esses grandes partidos políticos? De um lado, temos o PT, uma agremiação que sempre alardeava seu empenho em modificar a realidade nacional. Todavia, ao assumir o governo federal, limitou-se a distribuir migalhas para os mais pobres, enquanto beneficia sobretudo as empresas financeiras, nacionais e estrangeiras, e os que vivem de rendas no Brasil. Ademais, implantou um sistema colossal de corrupção nos órgãos públicos, conforme assinalou o procurador-geral da República, além de não enfrentar o gravíssimo problema da
segurança pública.
O PSDB e o PFL, que se apresentam como oposição a Lula e ao PT, sequer acenam como uma alteração essencial nos destinos do Brasil. Ao lado disso, a cúpula do PSDB curvou-se diante da exigência de Geraldo Alckmin de ser o candidato da “oposição”, quando o setor mais esclarecido dessa corrente pleiteava que José Serra fosse o porta-bandeira de novos tempos para o Brasil. Assim, sem realizar qualquer consulta a seus partidários, lançaram um candidato divorciado das causas populares e que carrega nas costas o fardo de ser um dos responsáveis pela crise na segurança pública em São Paulo, mesmo porque colocou à frente desse desafio uma personalidade conhecida pelo seu vezo arbitrário e seu empenho em desrespeitar os direitos humanos.
Por que estamos, até agora, diante de uma disputa eleitoral em que não se vislumbra a possibilidade de um avanço na causa democrática e progressista? Não existem outras agremiações disputando as eleições? Sim, e penso que elas poderão ter um papel significativo em outubro, como mostraremos mais adiante.
Nas próximas eleições pode-se dar um passo efetivo para corrigir erros calamitosos que vêm sendo cometidos pelos governantes desde a derrocada do regime militar. Entretanto, as normas que regem esse pleito criaram enormes dificuldades para uma ação positiva da cidadania. Entre elas, destaca-se o fato de que, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, foram proibidas alianças entre forças políticas que em diversos estados desejam marchar unidas para eleger bons candidatos, independente de sua ligação com essa ou aquela sigla partidária.
Ao mesmo tempo, vão usar as votações em outubro a fim de introduzir barreiras aos pequenos partidos, porque querem acabar com a possibilidade de a população criar e manter livremente agremiações que expressem seus anseios. Em outras palavras, pretendem montar uma oligarquia reacionária, com camarilhas que até podem se revezar no poder, a fim de manter intocáveis os grupos que dominam o Brasil.
Mas podemos e devemos reagir contra isso. Temos nas mãos uma arma contra esse conluio a fim de iniciarmos uma mudança substancial na realidade política. Essa arma é o apoio a um movimento que vem surgindo em diversos setores da população, que conflui para a seguinte atitude: repúdio das candidaturas de Lula e Alckmin, votando em qualquer candidato dos outros partidos ou manifestando esse protesto pelo voto em branco ou pelo voto nulo.
Enfim, devemos aplicar um choque cívico nas cúpulas dos grandes partidos políticos. Esse é o caminho que devemos trilhar, aqui e agora, para que o Congresso Nacional, a ser eleito em outubro, não seja surdo e mudo diante de um clamor popular que exprima a vontade irrefreável da cidadania.
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Marco Antônio Tavares Coelho é jornalista e foi deputado federal, cassado em 1964. Escreveu, entre outros, Herança de um sonho. As memórias de um comunista (2000), O Rio das Velhas - memória e desafios (2002) e Os descaminhos do São Francisco (2005). Este texto também foi publicado em La Insignia.

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