sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Dilma não é Silva

Certamente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem as suas razões, além de credenciais de sobra, para assumir o confronto com o lulismo.

Não é candidato a nada e fez um governo respeitável, que deve ser defendido já que os petistas decidiram por fazer da comparação entre os dois períodos recentes da história do Brasil meio de propaganda eleitoral antecipada.

Por falar em comparação, não há como fugir da tarefa de mostrar ao brasileiro que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, definitivamente não é a imagem e a semelhança de Lula.

Ela pode ser a herdeira política do lulismo por ter sido ungida a tal condição pelo patrão, mas nem de longe podem lhe ser atribuídas as qualidades incontestáveis do líder político que é Lula, nem tampouco tolerados na ministra os despautérios verbais que consagraram o presidente.

Ao contrário de Lula, Dilma não tem a seu favor a prerrogativa do “homem comum.” Se o presidente se orgulha de ser o primeiro brasileiro sem curso superior a governar o País e ser o menino pobre da Caatinga que venceu na vida, Dilma faz parte do estamento dos letrados.

Não possui o passado brejeiro de uma menina pobre a passear nos campos do senhor no Vale do Jequitinhonha, pois pouco conhece da Minas Gerais natal.

Por isso foi severamente cobrada quando incutiu informações falsas na Plataforma Lattes a respeito da sua formação acadêmica.

De Lula pouco importa saber se concluiu o primeiro grau ou tem diploma do Senai. Em relação a Dilma é fundamental comprovar se é mestre, doutora ou não passou do bacharelado.

Da ministra se espera algo além do que os comentários ocos, razão por que sistematicamente ela é confrontada ao se comportar como um Pacheco de saias, aquele caríssimo personagem de Eça de Queirós.

Lula pode tropeçar na língua portuguesa tanto para falar com os seus iguais no sertão do Seridó, cuja expressão verbal é simpatizada, quanto para discursar nos foros internacionais, onde os tropeços são intraduzíveis para o francês ou inglês.

Já Dilma não possui tais escusas escapatórias, por essa razão foi duramente criticada por fazer mau uso da sintaxe. Aliás, de Dilma se espera a fluência em pelo menos uma língua estrangeira e um português apurado.

De igual forma, Lula pode dar opiniões descabidas sobre assuntos da maior complexidade, já ao boneco do ventríloquo é defeso dizer em uma conferência internacional sobre mudanças climáticas que “o meio ambiente é uma ameaça ao desenvolvimento sustentável.”

Por fim Lula teve o direito de desacreditar todas as evidências de fatos graves de improbidade que ocorreram no seu governo, uma vez que a sua popularidade é incondicional.

Já Dilma ficou muito mal na história do dossiê montado para desmoralizar a família do ex-presidente FHC no caso do escândalo dos cartões corporativos.

E talvez fique pior por, em vez punir a autora do dossiê que trabalha a poucos metros de sua escrivaninha, tentar colocá-la no Tribunal de Contas da União, inventar para ela a tal Comissão da Verdade e a eleger sucessora – depois de Dirceu e Dilma, só falta a Erenice na Casa Civil!

Lula fez história como líder operário e chegou ao poder com tal legitimação que a sua fonte de autoridade é originária na própria imagem, não depende sequer do seu partido.

Já Dilma é derivada do sucesso do presidente. Para a oposição, quanto mais Dilma tentar reproduzir o padrão político e pessoal do seu mentor e protetor, mais fácil será convencer o brasileiro de que “o Lula foi muito bom para o País”, obrigado, mas positivamente o Brasil merece alguma coisa melhor do que uma presidente cujo grande mérito é ser um produto político pirateado.

Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador pelo DEM-GO

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