terça-feira, 7 de outubro de 2008

E o vencedor é…

Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

Em todos os critérios importantes, o PMDB lidera ou avançou bem. O que não acontece com as outras grandes siglas. Nenhuma consegue apresentar tal portfólio

Por Alon Feuerwerker

É normal que os partidos e militantes escolham os números mais convenientes para propagar a idéia de que venceram as disputas políticas nas quais tenham se envolvido. É razoável, entretanto, que essas compilações interessadas passem pelo crivo da crítica, para que a fumaça ideológica e propagandística esconda menos a realidade.

Veja-se por exemplo a situação do PSDB nas capitais. Os tucanos venceram em Curitiba e Teresina, ambas reeleições. Ficaram fora ou foram colocados (pelo eleitor) para fora da decisão em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza, Goiânia e Belém. Ou seja, se o ângulo de visão incidir nas grandes capitais, referência política e um mecanismo válido de análise nacional, o desempenho do PSDB foi pouco mais que desastroso.

Mas, veja bem, os tucanos poderão dizer que estão na decisão no Rio com um vice, e que em São Paulo têm um aliado bem posicionado para levar a eleição. E que só perdem nacionalmente em número de municípios para o PMDB. E que estão logo atrás no PT em número de votos. E que esses dados mostram como a legenda foi capaz de sobreviver, ainda que com arranhões, a um quadro nacional radicalmente desfavorável.

Argumentos há para todos os gostos. O PT elegeu prefeitos em seis capitais no primeiro turno. Seis cidades onde já governava, sendo que em cinco delas tratou-se de reeleição. Na sexta, Recife, foi quase uma recondução, já que o prefeito João Paulo elegeu um assim chamado poste. Com todo o respeito. Nas capitais, o desenho da vitória ou da derrota política do PT, do avanço ou não do partido, será escrito no próximo dia 26. Em São Paulo, Porto Alegre e Salvador.

Se o PT retomar São Paulo, será saudado em verso e prosa como o campeão político desta eleição. Se, pelo menos, conquistar Porto Alegre e Salvador, poderá dizer que melhorou em relação a 2004, dada a perda de Belo Horizonte (onde tinha o prefeito e agora emplacou só um vice no turno final). Se, porém, ficar sem nenhuma dessas metrópoles, inevitavelmente a análise política deverá concluir que o PT terá permanecido estacionado no mesmo patamar. Apesar de controlar a máquina do governo federal há seis anos, apesar de Luiz Inácio Lula da Silva fazer um governo de resultados muito bons e apesar de a oposição, mais perdida do que cego em tiroteio, não ter discurso para enfrentar a situação.

Dirão os petistas, possivelmente com razão, que os resultados finais daqui a três semanas vão apontar algum avanço nas grandes cidades-pólo. Mas já é possível garantir que, em número de prefeituras, mesmo nos grandes centros, não haverá o vistoso salto à frente sonhado pelos otimistas. E um dos dados mais reveladores desta eleição é que o PT está apenas em quinto lugar no número de vereadores, atrás inclusive do PP e do Democratas. Dos grandes partidos que passaram pelo poder no Brasil, talvez o PT se mostre o menos apto, até agora, a capilarizar o poder da sigla. Estacionou no número de votos para prefeito de 2004 para cá. Eis um bom tema para os nossos cientistas políticos.

Quem está bem mesmo é o PMDB. Lidera em prefeitos e vereadores, mas reverteu a tendência recente de ser empurrado para os grotões. Reelegeu seus prefeitos em Goiânia e Campo Grande. Em Porto Alegre, é favorito à reeleição. Em Florianópolis, também. E emplacou candidatos fortemente competitivos no Rio e em Belo Horizonte. Qual é o calcanhar de aquiles do peemedebismo? As grandes capitais do Nordeste. Natal talvez seja o símbolo mais doloroso.

O PMDB também tomou do petismo a posição de partido mais votado para as prefeituras. Isso sem ter lançado candidato em São Paulo, coisa que fizeram DEM, PT e PSDB. Ou seja, em todos os critérios importantes, o PMDB lidera ou avançou bem. O que não acontece com as outras grandes siglas. Nenhuma consegue apresentar tal portfólio.

O PMDB é, por enquanto, o grande líder desta eleição. Ele só perde para um outro partido, que não está registrado na Justiça Eleitoral. É o Partido da Reeleição, consagrado pelo eleitor brasileiro de norte a sul, de leste a oeste. É revelador que um dos itens da sempre falada e nunca realizada reforma política seja abolir a reeleição. Trata-se de um sintoma, mais um, de como os políticos costumam alhear-se da realidade, de como têm dificuldade de buscar a sintonia com o cidadão comum.

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