quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Economia da Holanda escapa da crise

AMSTERDÃ - Os funcionários da Royal Philips Electronics na cidade de Drachten, que esperavam ser demitidos, ficaram perplexos quando o gerente da fábrica disse que a empresa estava trazendo da China, para a Holanda, sua unidade de produção dos seus sofisticados e caros barbeadores elétricos.

Rob Karsmakers, o gerente da fábrica que retornou ao país depois de quatro anos trabalhando para a Philips na Ásia, disse aos empregados que a empresa vai aumentar os investimentos na empresa em Drachten, onde emprega 2 mil pessoas. "Um engenheiro de produto em Xangai hoje é tão caro quanto em Drachten", disse Karsmakers, que dirige a fábrica desde 2009. A Philips emprega 14 mil pessoas na Holanda.

A Holanda, quinta maior economia do euro, aumentou seu poder de atração e se tornou uma potência no setor de manufatura. Hoje, ela lidera em áreas como calças e uniformes de combate para o Exército americano. A Apple utiliza chips produzidos pela ASML Holdings para o seu iPhone e iPad, e a TomTom ajuda os motoristas a navegarem por estradas desconhecidas.

Nos primeiros nove meses do ano, o superávit comercial holandês foi o segundo mais alto da região do euro, ficando atrás da Alemanha, segundo a Eurostat. A Holanda foi o sétimo país exportador nos últimos cinco anos, segundo a ING Grope e a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento. "A Holanda é um país de comércio, é assim que ganhamos nosso dinheiro", disse Maarten Leen, economista da ING.

Estabelecida como porta de entrada para a Europa, com cinco importantes portos marítimos e o aeroporto de Schiphol próximo de Amsterdã, os holandeses têm conseguido manter um superávit de conta corrente desde 1981, disse Leen.

A agência Standard & Poor’s confirmou em 13 de janeiro a nota de crédito de longo prazo de triplo A da Holanda, citando os seus "sólidos e sustentáveis superávits de conta corrente", que se mantiveram em uma média de 6,4% entre 2005 e 2010.

As marcas globais holandesas hoje abrangem a cerveja Heineken, a Royal Dutch Shell e Unilever, fabricante do sabonete Dove, o chá Lipton e o sorvete Magnum. Produtos químicos como as tintas Sikkens da Akzo Nobel, e maquinário como os sistemas de litografia da ASML constituem uma parte substancial do crescimento das exportações, além dos produtos agrícolas, como flores, cebolas e tomates.

Os setores de tecnologia e química têm registrado um vigoroso crescimento das exportações desde 1996, com aumentos de 4% e 5,8% ao ano, dados, respectivamente, da CBS e do departamento de estatística holandês. "Temos uma infraestrutura superior, com docas em Roterdã, Delzijl e Geleen, e uma conexão com o sistema de dutos de gás e etileno nos países em torno, como Bélgica, Antuérpia e na área do Reno, na Alemanha", disse Werner Fuhrman, vice-presidente da VNCI, a federação das indústrias químicas holandesas.

No caso da ASML Holding, sua posição na Holanda é chave, uma vez que a companhia depende de "centenas de fornecedores de alta tecnologia" e institutos de pesquisa para desenvolver seus scanners para litografia, disse o diretor financeiro Peter Wennink. Um trabalho especializado "que conseguimos realizar rápida e eficazmente com parceiros no sul da Holanda". A ASML Holding, que tem uma fatia de mercado de 80% no setor de equipamentos de semicondutores, está inserida na região de Brainport, ao sul da Holanda, em um centro industrial que reúne indústrias alimentícias, automotivas, design e tecnologia, incluindo a Philips e a TomTom.

Já a Karsmakers, ao trazer a produção dos seus barbeadores para a unidade de pesquisa em Drachten, para atender o mercado europeu, ela abriu uma grande oportunidade em termos locais, uma vez que os custos de transporte serão reduzidos.

A Philips mantém sua produção de barbeadores mais baratos na China, para atender ao mercado asiático.

A façanha das indústrias do país atraiu pretendentes. Na década passada, companhias holandesas, incluindo o ABN Amro Bank, que foi a maior instituição bancária do país, e a empresa aérea Royal KLM, caíram em mãos de proprietários estrangeiros, o que provocou uma controvérsia generalizada na Holanda sobre a venda de uma empresa nacional.

Hoje, os holandeses têm outros desafios. Com a crise da dívida europeia, e dois terços das suas exportações ainda dependentes da Europa Ocidental, o país se defronta com o "grande desafio de manter o crescimento observado nos últimos 15 anos", disse Leen.

Com o centro da economia mundial mudando para a China, Índia e Brasil, a inovação na Holanda deve ajudar o país a manter sua posição comercial, disse Maxime Verhagen, ministro da Economia, em um discurso na Universidade de Wageningen.

Segundo Verhagen, o futuro reside no desenvolvimento de produtos inovadores que ajudem a reduzir as emissões de gás carbônico, enfrentar os efeitos adversos do envelhecimento e a crescente demanda por alimentos

Tradução Terezinha Martino

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