segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Funcionalismo público é gasto e um problema


Funcionalismo público é gasto e um problema
Estamos diante de um governo mais nefasto, mais inimigo dos trabalhadores e mais privatista mesmo que o de FHC.

por Raphael Tsavkko Garcia (14/08/2012)
em Brasil




O governo parece ter entendido que os servidores em greve pelo país não são imbecis. Ou, ao menos, que não são tão imbecis quanto o Planalto pensava. A desculpa – esfarrapada – de que não existe dinheiro suficiente para pagar salários decentes para, por exemplo, os professores, caiu por terra. Conto da carochinha que até o mais fanático governista vinha encontrando dificuldades para sustentar.

“Não tem dinheiro, pois estamos na crise”, foi a segunda mentira a cair por terra. Oras, Dilma e sua equipe vivem alardeando que o Brasil não foi atingido pela crise graças à genialidade petista, logo, como a crise chega apenas quando trabalhadores querem salários?

Os fatos e investimentos do governo deixavam clara a mentira. São 40 bilhões para um trem-bala absolutamente inútil, mais tantos bilhões para militares (que torturaram Dilma, mas, em clara Síndrome de Estocolmo, viraram amigos da presidente) “se moverem” quando houver perigo ao bom funcionamento dos serviços públicos – em outras palavras, para substituir, bater ou matar grevistas. Nem FHC chegou perto de proposta tão fascista. E os bilhões não faltam para Belo Monte e dezenas de outros projetos mais ou menos demagógicos, para Olimpíadas, Copa, remoções forçadas de famílias… A lista é infindável.

Finalmente veio a desculpa do “privilegiamos o trabalhador vulnerável, os que tem estabilidade não precisam de mais nada”. Mas, como a desculpa era igualmente esfarrapada, não colou e rapidamente Mantega chegou com a desculpa final. Ao menos esta é mais honesta e próxima da realidade. Simplesmente o governo não quer e não vai dar aumentos, pois quer privilegiar investimentos. Sim, os bilhões e bilhões para obras responsáveis por destruições, remoções, genocídio indígena, etc., mas, ainda assim, “investimentos”.

“Sabemos que há limitações orçamentárias”, disse o ministro. “Por isso, vamos estabelecer prioridades. Além da ampliação do processo de desoneração da folha de salários de setores intensivos de mão de obra, vamos fazer uma nova rodada de concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.”

Obviamente, faltou perguntar ao digníssimo ministro por que salário para professores, por exemplo, é tratado como despesa, como simples gasto, e não como um importante investimento na educação. Claro que este jamais admitiria que o governo simplesmente não dá a mínima para educação, preferindo ganhar louros com cotas e bolsas (que têm função mais emergencial, apesar de corretas) do que efetivamente investir na área desde o ensino básico até a pós-graduação.

O governo ao menos admitiu que o funcionalismo público é encarado como gasto, como despesa. São ônus e não são encarados como um investimento em diversas áreas. Especialistas são vistos como um problema, ao invés de capazes de propor soluções, de trabalhar pelo país. Professores são lixo, um estorvo.

De quebra, o ministro ainda deixou claro que, não satisfeito em não aumentar salários, quer “desonerar folhas”, o que combina com as propostas ridículas feitas aos professores que, no fim, diminuía seus salários, ou com a desastrosa MP, depois cancelada, que reduzia em 50% os salários dos médicos. E ainda vai levar adiante processos de privatização de portos, rodovias…

“Só a Petrobras investirá mais de R$ 80 bilhões e a Vale, cerca de R$ 40 bilhões.” Ele soa otimista: “Com essas medidas e o cenário de retomada da economia neste semestre, tenho certeza que os investimentos voltarão a se acelerar. Muitos empresários ficaram temerosos com a recaída lá fora, diante da incapacidade da Europa em resolver rapidamente seus problemas. Mas vão perceber que o Brasil está em um momento muito bom, fazendo uma reforma estrutural.”

A clara intenção do governo é a de deixar felizes e alegres empresários com ricos investimentos. Quanto à “reforma estrutural”, não se surpreendam se uma reforma da CLT surgir no horizonte. E, novamente, nenhuma surpresa caso o projeto seja idêntico aos já propostos/discutidos por FHC – e combatidos, então, pelo PT.

Enfim, estamos diante de um governo mais nefasto, mais inimigo dos trabalhadores e mais privatista mesmo que o de Fernando Henrique Cardoso. A diferença é que, no caso do PT, há uma imensa cooptação de sindicatos, centrais e movimentos sociais que, nos bolsos do Planalto, aplaudem entusiasmados toda e qualquer proposta criada especialmente para diminuir e mesmo retirar seus poderes e relevância.

A honestidade momentânea governamental apenas serviu para desmascarar o caráter deste governo, o de inimigo dos trabalhadores.

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