quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Na Fazenda do Itu

Na Fazenda do Itu


Nessas andanças pelo Rio Grande do Sul, eu tenho constatado muitas coisas interessantes. Três delas: a força avassaladora do Correio do Povo no interior do nosso Estado, a permanência do mito Getúlio Vargas e a beleza das nossas paisagens. O Rio Grande é um mundo. Um universo feito de cores, de aromas e de valores próprios. Estive no último final de semana, com Christopher Goulart, neto de Jango, em Santiago e Jaguari, a convite, respectivamente, da advogada Iara Castiel e do secretário da Educação Milton Bolzan. Santiago tem a cara gaúcha da boa e velha campanha, ainda que cada vez mais produzindo soja. Jaguari tem a marca da colonização italiana. Uma pequena cidade com identidade, personalidade e charme.

No sábado, fomos a Itaqui visitar a Fazenda do Itu, onde Getúlio viveu seu autoexílio no final dos anos 1940. Alceu Nicola, atual proprietário, recebeu-nos com a tradicional hospitalidade dos gaúchos. Gosto de dizer que a Fazenda do Itu é um mistério geográfico: quase todo mundo pensa que fica em São Borja, mas faz parte de Itaqui, embora esteja talvez mais próxima do atual município de Maçambará e muito acessível a partir de Santiago. Na época de Getúlio, era mais fácil chegar de avião particular. Fico imaginando uma cena: o vivente descendo numa pista de pouso mais parecida com uma cancha de carreira e montando num cavalo bem encilhado à espera. Foi na Fazenda do Itu que o jornalista Samuel Wainer entrevistou Getúlio e dele arrancou a famosa frase: "Voltarei, mas como líder de massas, não de partidos". Wainer, durante a conversa, nada anotou. Reconstitui depois tudo de cabeça. Deve ter burilado um pouco o material. Virou "O Profeta".

Embora não tenha demonstrado, senti uma forte emoção na Fazenda do Itu. O que me tocou mais foi a paisagem, a vastidão dos campos, um sentimento de pertencimento a algo impalpável, porém muito concreto, um estilo de vida, uma presença histórica, uma atmosfera. Sou sensível a esse imaginário das coxilhas e do Pampa. Esse Pampa com coxilhas, cenário completo e variado do gaúcho sul-rio-grandense, o sul-rio-grandense transformado em gaúcho, herdeiro do gaudério, nosso antepassado andarilho meio vago, meio heroico, meio homem, meio centauro. Fiquei olhando a casa, a pequena varanda onde Getúlio se sentava na rede para matear e fumar charuto. Experimentei o que todo visitante já experimentou. Só que, como sabia o poeta, o vivenciar é um viver com os cheiros de vida.

Pensei no homem, no todo-poderoso Vargas, o deputado, o ministro, o presidente da Província, o revolucionário, o presidente provisório, o presidente constitucional, o ditador, o exilado, o "ex-tudo" atravessando dias de reflexão e paz, "solito" como uma alma penada penando suas desilusões e preparando seu retorno triunfal e derradeiro. A história é um grande romance, uma narrativa do presente sobre o passado. O Rio Grande do Sul é uma epopeia. Como dizia o outro, cada um com o seu cada qual: Getúlio, Jango e Leonel "Itagiba" me fascinam mais do que Bento, Neto e Canabarro. Que coisa!

Juremir Machado da Silva

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