terça-feira, 13 de setembro de 2011

Da miséria da crítica à prática miserável

Da miséria da crítica à prática miserável


O Partido dos Trabalhadores é herdeiro de toda a tradição crítica pátria. Uma tradição que remonta as primeiras greves operárias lideradas por anarquistas no comecinho do século passado. Que passa pela fundação do Partido Comunista do Brasil (depois brasileiro), evolui com dissidências trotskystas, passa pela formação do esquerdismo sindical estatal (do velho PTB), tem a criação da esquerda armada, fora os aparatos intelectuais (adeptos da Escola de Frankfurt e gramscianos, muito especialmente) e finalmente se junta tudo mais o esquerdismo teológico (Teologia da Libertação) na fundação do PT.

A massa crítica acumulada pela junção de tantos entes diferenciados entre si é monstruosa. É um século inteiro de luta e análise política. De crítica da realidade. De criação de propostas. De enfrentamento. De uma ou outra vitória pontual e centenas de derrotas. Derrotas que foram essenciais para a chegada plena ao poder com Lula.

Enquanto isso o agrupamento que hoje forma a "oposição", grosso modo (salvo uma ou duas exceções do PSDB, que penaram no exílio, como FHC e Serra) passou as últimas décadas pendurada nas tetas do Estado. Nunca perderam nada. Estiveram sempre entre os vencedores. Logo, nunca criaram nenhuma tradição crítica. Não passaram por nenhum processo sério de luta política. De crítica da realidade. De criação de propostas. De enfrentamento. Em suma, tem uma tradição de perfeita bundãozice.

O que esperar de uma oposição destas? Absolutamente nada. Para esta oposição, a luta com o petismo resume-se a uma disputa para ver quem gerencia o puteiro. Não existe nenhuma crítica organizada ao tamanho do Estado (e não me venham com bobagem de criticar o aparelhamento, porque onde houver um órgão estatal sempre haverá nomeações, independentemente do grupo político a ocupar o poder em um dado momento). Não existe nenhuma crítica organizada a inexistência de uma Federação digna de ser chamada por este nome. Não existe nenhuma crítica organizada a centralização excessiva dos recursos e a verdadeira ilha em meio a Nação que Brasília se tornou. Tudo se resume a um tecnocratismo chato, insosso, nojento, ditado por pesquisas que não servem de nada, a não ser render mais e mais para marqueteiros incompetentes que entendem de política o mesmo que eu entendo de badminton.

E a nova oposição? Esta que surge na internet, na sociedade, de maneira difusa, caótica, esparsa? Bom, aí já é outro caso. É o caso de um bebê que ainda engatinha. Que ainda está na fase da indignação. Pra traçar um paralelo, ainda que grosseiro, com a esquerda, eu diria que a oposição que está surgindo na web está no mesmo estágio dos anarquistas do começo do século passado. É a fase da indignação, do "contra tudo que está aí", da falta de propostas, de ação política clara, de análise, de nada.

O negócio é tacar o pau na Dilma, batizá-la de "mulher de um neurônio" (o espertão que fala isso só esquece que a "mulher de um neurônio" chegou a Presidência da República. Ela deve ser descerebrada. O espertão é ele mesmo), tacar o pau no Lula, que jamais poderá ser reconhecido como o maior político da segunda metade do século XX no Brasil (o maior deve ser o espertão que tem meia dúzias de seguidores no twitter e que se for disputar um cargo não enche uma Kombi de eleitores para votarem nele) e por aí vai.

Da miséria da crítica à prática miserável é um passo. Aí surgem idéias absolutamente jeniais, como imitar os caras-pintadas (movimento mais esquerdista do país nos últimos, sei lá, 50 anos), desta vez contra a corrupção, fazer um sete de setembro negro (imitando o MST, que promovia o grito dos excluídos com barulho quando o PT era oposição) e por aí afora.

Da miséria da crítica de não reconhecer a inteligência e capacidade política da Dilma, da miséria da crítica de não reconhecer em Lula ao menos o segundo maior líder de massas da história do Brasil (talvez e só talvez superado apenas por Getúlio), da miséria da crítica de não reconhecer no petismo a maior força política coletiva organizada já surgida em terras pátrias, nasce a prática miserável de fazer política com o fígado, com preconceito, de ver no Bolsa Família a única razão para as vitórias petistas (como se 2002 não tivesse existido) de acionar a boca antes do cérebro e se indignar muito, sem fazer sequer cócegas no poder do petismo.

Mas, já que eu reconheço que a tal da oposição na web é ainda só um bebê, que da "oposição" institucional não se deve esperar nada, o negócio é ter paciência e esperar. Algo que sobrou para a esquerda. E continuar fazendo a crítica interna. Quem sabe daqui uns 50 anos surge algo que preste de toda esta maçaroca difusa que por hora se limita a indignação contra o petismo.

Oremos.


Eduardo Bisotto

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