Um desejo e tanto
Do blog do Alon
O que lhe falta para, finalmente, ficar de bem com a vida? Talvez a certeza de que os adversários precisarão engolir no futuro uma narrativa história hegemônica ao gosto do presidente que sai
É fascinante observar o comportamento do presidente que sai, nestes últimos dias de mandato. É de todo não convencional.
A alegria por terminar bem o segundo e último quadriênio é merecida e compreensível. Mais enigmática é a ofensiva permanente contra os políticos batidos, especialmente contra os derrotados com a participação direta e intensa de sua excelência.
Ainda que o valor de tal participação possa ser discutido. O mapa eleitoral nos estados permite concluir que a coalizão do presidente ganhou onde ganharia mesmo sem a performance presencial dele, e perdeu em lugares-chave onde o chefe de governo empenhou-se pessoal e avassaladoramente pelos candidatos.
Quando o vetor presidencial foi mais decisivo? Talvez na costura das alianças para o Senado, onde pretendia montar uma maioria confortável para Dilma Rousseff. Conseguiu, mas isso não irradiou pelos estados, especialmente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Não que as derrotas locais tirem o sono dos sacrificados, metodicamente alojados em boas posições na máquina federal.
Enfim, o presidente colhe os frutos da vitória, mas, como já se notou, o triunfo não parece ter trazido paz de espírito a sua excelência.
É até compreensível que ele continue a fustigar a imprensa e a oposição, numa operação para enfraquecer as possíveis fontes de crítica e resistência ao poder de Dilma.
Mas espezinhar os políticos derrotados nos estados? Gente que visivelmente terá imensa dificuldade para retomar a trajetória? Para quê?
Há explicações de viés psíquico, mas eu confesso ter algum pé atrás com essas coisas. Políticos são especialistas em não dinamitar as últimas pontes que os ligam a adversários, que amanhã poderão ser necessários como aliados. Daí por que a perenidade de certos rituais protetores da honra.
O presidente que sai se dá ao trabalho de percorrer o país para tripudiar sobre -e tentar cobrir de ridículo- gente que não teve sorte nas urnas. Os gestos carregam tinturas supostamente relacionadas à política, quando entra em pauta a derrota na votação da CPMF no Senado. Mas Dilma tem teoricamente maioria no Congresso para retomar o imposto, se decidir pagar o preço.
Será que o quase ex-presidente tenta mostrar a possíveis resistentes o que poderá lhes passar se arrumarem problemas para a sucessora? Ou é só pessoal mesmo?
Toda vez que o tema das motivações presidenciais entra em pauta assomam duas tentações igualmente perigosas. A primeira é analisar o personagem exclusivamente pelo ângulo da racionalidade política. A segunda é acreditar piamente na prevalência dos aspectos emocionais.
A verdade científica deve estar em alguma combinação das duas coisas, em algum ponto intermediário, mas um detalhe é inescapável: o presidente da República que conseguiu dois mandatos para si e mais um para sua indicada não parece estar deixando o cargo de bem a vida. Falta alguma alguma coisa, que ele parece desejar e ainda não ter.
O que lhe falta para, finalmente, ficar de bem com a vida? Talvez a certeza de que os adversários precisarão engolir no futuro uma narrativa história hegemônica ao gosto do presidente que sai. Seria um desejo e tanto.
Essa certeza nem ele nem ninguém pode ter com margem razoável de segurança.
Narrativas também flutuam ao sabor da política, são funções com variáveis obscuras, e que podem surgir como do nada, depois de dormitar por longos períodos.
Do blog do Alon
O que lhe falta para, finalmente, ficar de bem com a vida? Talvez a certeza de que os adversários precisarão engolir no futuro uma narrativa história hegemônica ao gosto do presidente que sai
É fascinante observar o comportamento do presidente que sai, nestes últimos dias de mandato. É de todo não convencional.
A alegria por terminar bem o segundo e último quadriênio é merecida e compreensível. Mais enigmática é a ofensiva permanente contra os políticos batidos, especialmente contra os derrotados com a participação direta e intensa de sua excelência.
Ainda que o valor de tal participação possa ser discutido. O mapa eleitoral nos estados permite concluir que a coalizão do presidente ganhou onde ganharia mesmo sem a performance presencial dele, e perdeu em lugares-chave onde o chefe de governo empenhou-se pessoal e avassaladoramente pelos candidatos.
Quando o vetor presidencial foi mais decisivo? Talvez na costura das alianças para o Senado, onde pretendia montar uma maioria confortável para Dilma Rousseff. Conseguiu, mas isso não irradiou pelos estados, especialmente no Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Não que as derrotas locais tirem o sono dos sacrificados, metodicamente alojados em boas posições na máquina federal.
Enfim, o presidente colhe os frutos da vitória, mas, como já se notou, o triunfo não parece ter trazido paz de espírito a sua excelência.
É até compreensível que ele continue a fustigar a imprensa e a oposição, numa operação para enfraquecer as possíveis fontes de crítica e resistência ao poder de Dilma.
Mas espezinhar os políticos derrotados nos estados? Gente que visivelmente terá imensa dificuldade para retomar a trajetória? Para quê?
Há explicações de viés psíquico, mas eu confesso ter algum pé atrás com essas coisas. Políticos são especialistas em não dinamitar as últimas pontes que os ligam a adversários, que amanhã poderão ser necessários como aliados. Daí por que a perenidade de certos rituais protetores da honra.
O presidente que sai se dá ao trabalho de percorrer o país para tripudiar sobre -e tentar cobrir de ridículo- gente que não teve sorte nas urnas. Os gestos carregam tinturas supostamente relacionadas à política, quando entra em pauta a derrota na votação da CPMF no Senado. Mas Dilma tem teoricamente maioria no Congresso para retomar o imposto, se decidir pagar o preço.
Será que o quase ex-presidente tenta mostrar a possíveis resistentes o que poderá lhes passar se arrumarem problemas para a sucessora? Ou é só pessoal mesmo?
Toda vez que o tema das motivações presidenciais entra em pauta assomam duas tentações igualmente perigosas. A primeira é analisar o personagem exclusivamente pelo ângulo da racionalidade política. A segunda é acreditar piamente na prevalência dos aspectos emocionais.
A verdade científica deve estar em alguma combinação das duas coisas, em algum ponto intermediário, mas um detalhe é inescapável: o presidente da República que conseguiu dois mandatos para si e mais um para sua indicada não parece estar deixando o cargo de bem a vida. Falta alguma alguma coisa, que ele parece desejar e ainda não ter.
O que lhe falta para, finalmente, ficar de bem com a vida? Talvez a certeza de que os adversários precisarão engolir no futuro uma narrativa história hegemônica ao gosto do presidente que sai. Seria um desejo e tanto.
Essa certeza nem ele nem ninguém pode ter com margem razoável de segurança.
Narrativas também flutuam ao sabor da política, são funções com variáveis obscuras, e que podem surgir como do nada, depois de dormitar por longos períodos.
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