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Roberto Fleury/UnB Agência
A União Nacional dos Estudantes inicia nesta segunda uma campanha por mudanças na política econômica. O mote do movimento é “Fora Meirelles!” Uma referência ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, transformado pela entidade estudantil em ícone da ortodoxia econômica. Para marcar o início de sua cruzada, a UNE reunirá num ato público, entre outras personalidades, os economistas Carlos Lessa, Luiz Gonzaga Beluzzo e Paulo Nogueira Batista, além do sociólogo Emir Sader.
Será às 10h desta segunda, na Faculdade de Direito da USP, no Largo do São Francisco. Do encontro, resultará um manifesto, a ser entregue a Lula no próximo dia 13. Ouvido pelo blog, o presidente da UNE, Gustavo Petta (PC do B), 25 anos, disse que o ato desta segunda “é o embrião de uma mobilização nacional.” Estudante do último ano de jornalismo na PUC de Campinas, Petta afirma que, se Lula não mudar o modelo econômico, “isso será considerado como uma traição”. Abaixo, a entrevista:
- Por que a UNE quer mudar a política econômica?
A insatisfação existe desde o primeiro mandato do Lula. O ato desta segunda-feira é o embrião de uma mobilização nacional, reunindo entidades do movimento sociais como UNE, MST, CUT e várias outros. O sentido é pressionar o governo para que seja mais ousado no segundo mandato.
- Por que o lema ‘Fora Meirelles’?
A troca do Henrique Meirelles é emblemática. Se, na hora da mudança de ministros, o Lula colocasse no Banco Central uma nova diretoria, outro presidente, daria uma sinalização de que o segundo mandato vai ser diferente. Lula fala em investimentos na infra-estrutura, na educação, na saúde. Como fazer isso mantendo a atual política, que impede o crescimento e impõe o superávit fiscal de 4,25% do PIB?
- O patrono dessa política é Lula, não o Meirelles. Não seria o caso de um Fora Lula?
Nossa pressão é direcionada ao presidente. O Lula está falando muito em mudança, em desenvolvimento, em ousadia. Para que isso se concretize, ele teria que mudar as pessoas que dirigem o Banco Central. O Henrique Meirelles personifica o conservadorismo, a subordinação ao sistema financeiro. Mas pode tirar o Meirelles e colocar no lugar dele outra pessoa também identificada com a mesma política ortodoxa. Então, na verdade, nossa pressão é dirigida ao Lula.
- Qual é o plano econômico da UNE?
Nesta segunda, vamos divulgar um manifesto. Está sendo construído e aponta alguns caminhos. Para dar mais consistência às nossas propostas, vamos fazer, no início do ano que vem, um seminário. É uma iniciativa conjunta da UNE e da Faculdade de Ciências Humanas da USP. Discutiremos alternativas para o desenvolvimento, ouvindo intelectuais e economistas que estão incomodados com o atual rumo. Com isso, teremos mais base de sustentação para nossas propostas. Não queremos ficar só no chavão. Vamos propor caminhos.
- Mas que pontos da atual política incomodam a UNE?
Percebe-se claramente que é necessário mudar. Neste ano, a economia vai crescer menos de 3% do PIB. Países da América Latina e outras nações emergentes crescem muito mais. A atual política monetária, extremamente ortodoxa, é incompatível com a política de desenvolvimento. E a economia condiciona todas as outra áreas –educação, saúde, reforma agrária. Com um superávit fiscal de 4,25% do PIB não sobra nada para o governo investir.
Será às 10h desta segunda, na Faculdade de Direito da USP, no Largo do São Francisco. Do encontro, resultará um manifesto, a ser entregue a Lula no próximo dia 13. Ouvido pelo blog, o presidente da UNE, Gustavo Petta (PC do B), 25 anos, disse que o ato desta segunda “é o embrião de uma mobilização nacional.” Estudante do último ano de jornalismo na PUC de Campinas, Petta afirma que, se Lula não mudar o modelo econômico, “isso será considerado como uma traição”. Abaixo, a entrevista:
- Por que a UNE quer mudar a política econômica?
A insatisfação existe desde o primeiro mandato do Lula. O ato desta segunda-feira é o embrião de uma mobilização nacional, reunindo entidades do movimento sociais como UNE, MST, CUT e várias outros. O sentido é pressionar o governo para que seja mais ousado no segundo mandato.
- Por que o lema ‘Fora Meirelles’?
A troca do Henrique Meirelles é emblemática. Se, na hora da mudança de ministros, o Lula colocasse no Banco Central uma nova diretoria, outro presidente, daria uma sinalização de que o segundo mandato vai ser diferente. Lula fala em investimentos na infra-estrutura, na educação, na saúde. Como fazer isso mantendo a atual política, que impede o crescimento e impõe o superávit fiscal de 4,25% do PIB?
- O patrono dessa política é Lula, não o Meirelles. Não seria o caso de um Fora Lula?
Nossa pressão é direcionada ao presidente. O Lula está falando muito em mudança, em desenvolvimento, em ousadia. Para que isso se concretize, ele teria que mudar as pessoas que dirigem o Banco Central. O Henrique Meirelles personifica o conservadorismo, a subordinação ao sistema financeiro. Mas pode tirar o Meirelles e colocar no lugar dele outra pessoa também identificada com a mesma política ortodoxa. Então, na verdade, nossa pressão é dirigida ao Lula.
- Qual é o plano econômico da UNE?
Nesta segunda, vamos divulgar um manifesto. Está sendo construído e aponta alguns caminhos. Para dar mais consistência às nossas propostas, vamos fazer, no início do ano que vem, um seminário. É uma iniciativa conjunta da UNE e da Faculdade de Ciências Humanas da USP. Discutiremos alternativas para o desenvolvimento, ouvindo intelectuais e economistas que estão incomodados com o atual rumo. Com isso, teremos mais base de sustentação para nossas propostas. Não queremos ficar só no chavão. Vamos propor caminhos.
- Mas que pontos da atual política incomodam a UNE?
Percebe-se claramente que é necessário mudar. Neste ano, a economia vai crescer menos de 3% do PIB. Países da América Latina e outras nações emergentes crescem muito mais. A atual política monetária, extremamente ortodoxa, é incompatível com a política de desenvolvimento. E a economia condiciona todas as outra áreas –educação, saúde, reforma agrária. Com um superávit fiscal de 4,25% do PIB não sobra nada para o governo investir.
- A manutenção do modelo abalaria o apoio da UNE a Lula?
Se Lula não sinalizar mudanças claras, haverá um aumento da tensão. No primeiro mandato, quando se falou na possibilidade de impeachment, pautado pela direita, os movimentos sociais perceberam que seria pior a volta de setores conservadores. E nos posicionamos contra o impeachment. Agora, com a perspectiva de impeachment totalmente afastada, a cobrança vai ser muito maior. Não há mais o argumento da herança maldita do governo anterior. Se as mudanças não vierem, isso será considerado como uma traição.
- A UNE ajudou a derrubar Collor. Sob Lula, pôs a ética em segundo plano. Foi um acerto?
Avaliamos que a UNE não poderia se tornar, junto com outros movimentos, uma tropa de choque da direita, que tentou se tornar porta-voz da ética na política. Sabíamos que isso era um jogo. E tomamos cuidado para não fazer o jogo da direita. Ao mesmo tempo, nunca deixamos de exigir a punição dos os envolvidos, até para evitar que a contaminação de toda a esquerda brasileira.
- As punições ocorreram a contento?
Acho que não, a coisa ainda está em processo. Há o caso das sanguessugas, ainda inconcluso. No caso do dossiê também as pessoas ainda não foram punidas. Todos os envolvidos precisam ser punidos. Muitos políticos foram punidos pelo povo. Outros, que foram reeleitos, talvez não sejam punidos porque, neste caso das sanguessugas, a própria CPI parece estar em crise na reta final.
- A sensação de impunidade não o incomoda como presidente da UNE?
Incomoda. Mas também incomoda o fato de que esses casos que ocorreram agora não são novos. Ocorrem há muito tempo. Várias CPIs foram engavetadas no período Fernando Henrique. Tudo isso incomoda. Boa parte da imprensa teve agora um comportamento bem diferente de períodos anteriores.
- As perversões da era FHC –da compra de votos da reeleição aos problemas nas privatizações– são conhecidas porque a imprensa noticiou, não?
Lógico. Mas não foi no mesmo tom. Nesse caso do dossiê, alguns veículos cobriram de forma equivocada. De todo modo, causa incômodo ver, no Brasil, tantos casos de corrupção, novos e velhos, sem resolução.
- A insatisfação coma economia vai desaguar nas ruas?
Essa é a idéia. Já existe unidade entre os movimentos –UNE, MST, CUT e outros. Se o governo não for ousado nas mudanças, o tensionamento vai ser muito maior. Começa no início do ano que vem. E haverá manifestações de rua.
- Sob Collor, havia o mote ético. A troca do modelo econômico animaria os estudantes a encher as ruas?
Não. Essa é uma dificuldade. A bandeira da ética representava um apelo muito maior na época do Collor. Mas vamos fazer a ligação da economia com temas que envolvem a vida das pessoas. No caso da UNE, mostraremos que essa política econômica impede os investimentos em educação pública. O pessoal do MST vai falar da reforma agrária. A turma da CUT falará de emprego, de salário mínimo. Se dissemos apenas ‘vamos mudar a política econômica’, não mobilizaremos milhares de pessoas. Mas se mostramos que, sem mudanças, o país fica estagnado em todas as áreas, conseguiremos sensibilizar as nossas bases.
Se Lula não sinalizar mudanças claras, haverá um aumento da tensão. No primeiro mandato, quando se falou na possibilidade de impeachment, pautado pela direita, os movimentos sociais perceberam que seria pior a volta de setores conservadores. E nos posicionamos contra o impeachment. Agora, com a perspectiva de impeachment totalmente afastada, a cobrança vai ser muito maior. Não há mais o argumento da herança maldita do governo anterior. Se as mudanças não vierem, isso será considerado como uma traição.
- A UNE ajudou a derrubar Collor. Sob Lula, pôs a ética em segundo plano. Foi um acerto?
Avaliamos que a UNE não poderia se tornar, junto com outros movimentos, uma tropa de choque da direita, que tentou se tornar porta-voz da ética na política. Sabíamos que isso era um jogo. E tomamos cuidado para não fazer o jogo da direita. Ao mesmo tempo, nunca deixamos de exigir a punição dos os envolvidos, até para evitar que a contaminação de toda a esquerda brasileira.
- As punições ocorreram a contento?
Acho que não, a coisa ainda está em processo. Há o caso das sanguessugas, ainda inconcluso. No caso do dossiê também as pessoas ainda não foram punidas. Todos os envolvidos precisam ser punidos. Muitos políticos foram punidos pelo povo. Outros, que foram reeleitos, talvez não sejam punidos porque, neste caso das sanguessugas, a própria CPI parece estar em crise na reta final.
- A sensação de impunidade não o incomoda como presidente da UNE?
Incomoda. Mas também incomoda o fato de que esses casos que ocorreram agora não são novos. Ocorrem há muito tempo. Várias CPIs foram engavetadas no período Fernando Henrique. Tudo isso incomoda. Boa parte da imprensa teve agora um comportamento bem diferente de períodos anteriores.
- As perversões da era FHC –da compra de votos da reeleição aos problemas nas privatizações– são conhecidas porque a imprensa noticiou, não?
Lógico. Mas não foi no mesmo tom. Nesse caso do dossiê, alguns veículos cobriram de forma equivocada. De todo modo, causa incômodo ver, no Brasil, tantos casos de corrupção, novos e velhos, sem resolução.
- A insatisfação coma economia vai desaguar nas ruas?
Essa é a idéia. Já existe unidade entre os movimentos –UNE, MST, CUT e outros. Se o governo não for ousado nas mudanças, o tensionamento vai ser muito maior. Começa no início do ano que vem. E haverá manifestações de rua.
- Sob Collor, havia o mote ético. A troca do modelo econômico animaria os estudantes a encher as ruas?
Não. Essa é uma dificuldade. A bandeira da ética representava um apelo muito maior na época do Collor. Mas vamos fazer a ligação da economia com temas que envolvem a vida das pessoas. No caso da UNE, mostraremos que essa política econômica impede os investimentos em educação pública. O pessoal do MST vai falar da reforma agrária. A turma da CUT falará de emprego, de salário mínimo. Se dissemos apenas ‘vamos mudar a política econômica’, não mobilizaremos milhares de pessoas. Mas se mostramos que, sem mudanças, o país fica estagnado em todas as áreas, conseguiremos sensibilizar as nossas bases.
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