Rudolfo Lago
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09/06/2011 - 16h34
Minoria em seu próprio governo
“Parece ter ficado uma lição para Dilma: paquidermes podem ser animais bem dóceis, até resolverem não ser”
É comum acontecer, em países que, ao contrário daqui, não têm eleições para o Executivo e para o Legislativo casadas, os presidentes ficarem em minoria no Congresso. Agora, nunca se viu um governante eleger uma base avassaladoramente grande, fazer a oposição entrar em parafuso, forjar a quase extinção de uma das suas legendas adversárias, e, mesmo assim, perder de forma vergonhosa, como aconteceu com a presidente Dilma Rousseff na votação do Código Florestal. Naquele dia, nas últimas semanas de maio, Dilma não foi derrotada por seus adversários. Ela foi derrotada pelos seus aliados. Ficou, assim, em minoria dentro do seu próprio governo.
Duas frases ditas naquela quarta-feira, 25 de maio, resumem com perfeição esse fenômeno. A primeira foi dita pelo líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN): “Eu também sou governo”. A segunda foi dita pela senadora Kátia Abreu, do Tocantins, líder ruralista que está trocando o DEM pelo PSD: “Se eles têm os ministros do Meio Ambiente, nós temos os ministros da Agricultura”.
Henrique Eduardo Alves orientou o PMDB a desafiar solenemente as orientações vindas do Palácio do Planalto. Quando questionado, disse que ele era tão governo quanto a presidente! Ou seja: negou a Dilma o posto de chefe, colocou-a como mais uma. Que, naquele momento, devia enfiar a viola no saco porque estava em minoria. E Kátia, que não é governo, arrematou com uma constatação certeira: o governo é mesmo dividido com relação às questões ambientais, abriga ao mesmo tempo ambientalistas e representantes do agronegócio. A senadora, pelo menos, mostrou que, neste ponto, o conflito enfiado dentro do próprio governo não é uma exclusividade de Dilma.
Adotou-se no Brasil uma lógica de composição de maioria política que o ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta certa vez apelidou de “partido-ônibus”: apertando, sempre cabe mais um. Não interessa saber como o político pensa, se tem alinhamento ideológico com os pensamentos que vão nortear a administração, nada disso. Se está disposto a votar com o governo, é bem-vindo. E ganhará seu naco de poder. Assim, os governos brasileiros costumam ter gente ligada a toda e qualquer linha de pensamento que possa se reverter em votos nas eleições e nas votações no Congresso. Há o megaempresário e há o sindicalista. Há o religioso retrógrado e há o cientista arrojado. Há o moralista conservador e há o representante dos homossexuais. E há o ecologista e o empresário rural. Que tudo se resolva na base da queda de braço. E, Dilma viu agora, se o presidente ficar do lado menor, problema dele.
Dilma está furiosa. Foi tratorada pelos seus aliados. Para quem tem fama de mandona, deve ter sido mesmo horrível ficar de espectadora na votação do Código Florestal. Parece ter ficado uma lição sobre a sua base de sustentação imensa, mas sem qualquer alinhamento ideológico: paquidermes podem ser animais bem dóceis, até resolverem não ser.
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09/06/2011 - 16h34
Minoria em seu próprio governo
“Parece ter ficado uma lição para Dilma: paquidermes podem ser animais bem dóceis, até resolverem não ser”
É comum acontecer, em países que, ao contrário daqui, não têm eleições para o Executivo e para o Legislativo casadas, os presidentes ficarem em minoria no Congresso. Agora, nunca se viu um governante eleger uma base avassaladoramente grande, fazer a oposição entrar em parafuso, forjar a quase extinção de uma das suas legendas adversárias, e, mesmo assim, perder de forma vergonhosa, como aconteceu com a presidente Dilma Rousseff na votação do Código Florestal. Naquele dia, nas últimas semanas de maio, Dilma não foi derrotada por seus adversários. Ela foi derrotada pelos seus aliados. Ficou, assim, em minoria dentro do seu próprio governo.
Duas frases ditas naquela quarta-feira, 25 de maio, resumem com perfeição esse fenômeno. A primeira foi dita pelo líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN): “Eu também sou governo”. A segunda foi dita pela senadora Kátia Abreu, do Tocantins, líder ruralista que está trocando o DEM pelo PSD: “Se eles têm os ministros do Meio Ambiente, nós temos os ministros da Agricultura”.
Henrique Eduardo Alves orientou o PMDB a desafiar solenemente as orientações vindas do Palácio do Planalto. Quando questionado, disse que ele era tão governo quanto a presidente! Ou seja: negou a Dilma o posto de chefe, colocou-a como mais uma. Que, naquele momento, devia enfiar a viola no saco porque estava em minoria. E Kátia, que não é governo, arrematou com uma constatação certeira: o governo é mesmo dividido com relação às questões ambientais, abriga ao mesmo tempo ambientalistas e representantes do agronegócio. A senadora, pelo menos, mostrou que, neste ponto, o conflito enfiado dentro do próprio governo não é uma exclusividade de Dilma.
Adotou-se no Brasil uma lógica de composição de maioria política que o ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta certa vez apelidou de “partido-ônibus”: apertando, sempre cabe mais um. Não interessa saber como o político pensa, se tem alinhamento ideológico com os pensamentos que vão nortear a administração, nada disso. Se está disposto a votar com o governo, é bem-vindo. E ganhará seu naco de poder. Assim, os governos brasileiros costumam ter gente ligada a toda e qualquer linha de pensamento que possa se reverter em votos nas eleições e nas votações no Congresso. Há o megaempresário e há o sindicalista. Há o religioso retrógrado e há o cientista arrojado. Há o moralista conservador e há o representante dos homossexuais. E há o ecologista e o empresário rural. Que tudo se resolva na base da queda de braço. E, Dilma viu agora, se o presidente ficar do lado menor, problema dele.
Dilma está furiosa. Foi tratorada pelos seus aliados. Para quem tem fama de mandona, deve ter sido mesmo horrível ficar de espectadora na votação do Código Florestal. Parece ter ficado uma lição sobre a sua base de sustentação imensa, mas sem qualquer alinhamento ideológico: paquidermes podem ser animais bem dóceis, até resolverem não ser.
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