quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ao fundo, o Kremlim

Ao fundo, o Kremlim

Em uma conversa tendo ao fundo o Kremlim e a Igreja de São Basílio, ouvi de alguns russos influentes nas esferas de poder da Rússia que o Brasil está definitivamente no radar do mundo.

Perguntei o que significava estar no radar. A resposta foi clara e direta: a opinião do Brasil deve ser considerada em todos os temas globais; o potencial econômico deve ser considerado; e a vocação para o exercício do "soft power" deve ser muito bem compreendida.

Aproveitando o mote, disse que a percepção nova do que era o Brasil decorria não apenas do rebaixamento geral do mundo após a crise de 2008. “Como assim?”, perguntaram-me.

Não sabiam do caminho das transformações. Era compreensível. O Brasil sempre foi um país longe demais. Até mesmo para nossos vizinhos, já que o centro econômico e político do país sempre foi longe de nossas fronteiras.

Longe de tudo e de todos e vivendo na esquina distante do mundo civilizado, a distância nos despertou um sentimento de dependência e de abandono. Até mesmo de carência por ser reconhecido como algo viável.

Historicamente, a carência por reconhecimento ficava evidente com o deslumbramento existente com notas e notícias que saiam sobre nós na imprensa internacional: a síndrome do “deu no New York Times”.

O mundo, pelo seu lado, nos tratava como algo exótico e inseguro. Terra de carnaval, futebol e do sexo fácil. Um lugar para não ser levado definitivamente a sério.

Porém, tudo muda. Nos anos 80, recuperamos nossa democracia. Ainda imperfeita e cheia de desvios, talvez seja a melhor entre os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Nos anos 90, controlamos a inflação e criamos uma moeda. Abrimos um pouco nossa economia. Ganhamos um pouco mais de eficiência. Criamos a cultura da prudência nas finanças públicas com a Lei de Responsabilidade Fiscal e a adoção do compromisso com o superávit primário.

Na primeira década do novo século, avançamos em questões sociais importantes e fomos beneficiados com investimentos e exportações. Descobrimos o pré-sal.

Mas a maior conquista no início do século 21 foi o aumento da nossa classe média e o destravamento do mercado interno, que ainda poderá nos impulsionar mais longe.

Com tudo isso, o distante Brasil ficou mais perto e mais interessante. E será ainda mais a partir da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Nunca mais seremos os mesmos.

Temos ainda um longo caminho a percorrer. Muitas transformações e aperfeiçoamentos a fazer. Mesmo sem elas, já estamos na primeira divisão de um mundo em crise.

Quando escrevia este artigo, o Brasil tinha amplo destaque nas edições européias do Financial Times e do Wall Street Journal. Prova de que estamos no radar do mundo de forma consistente.



Murillo de Aragão é cientista político

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