O que está acontecendo com a eleição presidencial brasileira? Por que a oposição anda tão atordoada? Por que as pesquisas de opinião, que há poucos meses apontavam pra vitória de José Serra no 1º turno parecem ter do nada virado a favor da candidata do presidente Lula, Dilma Roussef, até outro dia uma ilustríssima desconhecida?
Como na vida, em política as explicações simples e fáceis para problemas complexos costumam sempre ser as explicações erradas. Vejo especialmente no Twitter, grandes companheiros conservadores e de oposição ao lulismo buscarem as causas onde elas não estão. Acusam a manipulação das pesquisas. Reclamam da antecipação da eleição. Buscam no Bolsa Família a causa. Pode até ter um pouco disso tudo. Mas não é só isso que explica o aparente descarrilhamento da oposição justamente quando seu trem parecia apontar para uma chegada vitoriosa a estação.
Manipulação de pesquisas? Os partidos da oposição têm pesquisas próprias internas que monitoram a situação minuto a minuto, estado a estado. Certamente num volume menor do que o Palácio do Planalto, mas ainda assim eles as têm. Alguém aqui acha que se os números de Vox Populi e Sensus estivessem tão fora da realidade, os próprios partidos de oposição já não teriam botado a boca no mundo? Não teriam contratado um instituto americano (são os melhores do mundo) e provado que os nacionais foram comprados? Se têm uma coisa que não existe em política são políticos inocentes.
Antecipação da campanha? Perfeito. Lula sabia que sua jogada era de altíssimo risco. Apostou em eleger o poste. A única maneira de tornar a manobra factível era antecipar o jogo. E ele antecipou. Fez o que deveria fazer sob o seu ponto de vista. O único dever do poder é com sua preservação e ampliação. Esse é o jogo. A regra sempre foi essa. E a oposição sabe (ou deveria saber) disso.
Bolsa Compra de Voto das Famílias? Ótimo. Explicaria o sucesso especialmente no Nordeste, onde o programa tem sua maior inserção. Acontece que Dilma vem crescendo parelho, em todo o país. Se sua intenção de voto estivesse concentrada no Nordeste a explicação até faria sentido. Mas não está. E isso é ainda mais preocupante para a oposição.
A bem da verdade, a oposição está perdendo o jogo para si mesma. Como perdeu em 2002. Como perdeu em 2006. E está arriscando repetir a proeza. Em 2002, a derrota começou a se desenhar com o esfarelamento do consórcio de partidos que sustentavam FHC. Até mesmo o saudoso ACM subiu no palanque lulista na Bahia, dada a trágica e patética maneira com que a articulação política foi conduzida no final do segundo mandato fernandista. A oposição tinha Roseana Sarney passando Lula no 1º turno e o PSDB jogou a Polícia Federal pra cima dela e desmontou sua candidatura. Dentro do PSDB, Serra tratorou Tasso Jereissatti, tradicional fonte financeira das campanhas do PFL/PSDB e o irmão de Tasso, o magnata Carlos, foi parar no colo de Lula. A disputa pela indicação se arrastou praticamente até a convenção, vencida a fórceps por Serra.
Em 2006 a oposição já chegou com uma situação muito pior do que tinha apenas um ano antes. Em 2005, pesquisas apontavam Lula com até 25% das intenções de voto. Praticamente morto. E então surgiu a tese da sangria. Ao invés de cumprir seu dever constitucional e pedir o impeachment do presidente a oposição foi "sangrá-lo". Mesmo assim, a oposição ainda tinha em José Serra um candidato que empatava com Lula no 1º turno e ganhava dele no 2º, conforme as pesquisas apontavam. E o que preferiu fazer? Escolher Alckmin, que suou frio pra não perder no 1º e conseguiu fazer menos votos no 2º turno do que já tinha feito na 1ª rodada. Uma campanha pífia, covarde, de concurso de empreiteiras (eu fiz isso, Lula fez aquilo, eu faço aquele outro, Lula faz mais e assim sucessivamente).
A escolha de Alckmin foi trágica. Mas eu sempre pensei que tinha sido um dedaço da cúpula em José Serra, uma espécie de volta pelos tratoraços de 2002. Até aparecer a revista Piauí com o perfil de Serra e FHC contando que ele tinha sido o escolhido em 2006. Mas desistiu. Segundo Fernando (e vários outros entrevistados), porque Serra não entra em dividida. Só vai na boa. Tem medo de arriscar. Preferiu o governo de SP ganho a correr o risco de perder a Presidência.
Desde aquela eleição o governador mineiro Aécio Neves vem colocando seu nome a disposição do PSDB para concorrer a Presidência. Tem uma belíssima gestão em Minas Gerais para mostrar. Tem o sobrenome de seu avô, quase um sinônimo de estadista para quem conhece a história política nacional. Tem uma reconhecida capacidade de articulação e aglutinação política. Mas Serra sempre apareceu melhor nas pesquisas. O que Aécio propôs? Que os tucanos se modernizassem. Que passassem a fazer política de verdade, com povo, com gente, com a base e a militância do partido. Não a política decidida dentro do restaurante Fasano em São Paulo por 3 ou 4 "cardeais". Pediu prévias. E o PSDB protelou. Protelou. Protelou. E por fim cancelou com a singela e ridícula desculpa de que não tinha o cadastro atualizado de seus filiados. Como um partido que sequer consegue organizar o cadastro de seus filiados se propões a governar o Brasil? Só Deus pra explicar. E então, sem prévias, sem consulta as bases, sem espaço para se apresentar, Aécio tomou uma decisão óbvia: desistiu, abrindo caminho para que o PSDB e a oposição organizassem a campanha de Serra.
Desde então, qual foi a melhor coisa que a oposição conseguiu fazer? Organizar um palanque duplo no Rio de Janeiro, estado em que conta com os dois primeiros colocados na disputa pelo governo do estado disputando a tapa pra ver quem oferece palanque para Dilma. Um palanque duplo! Para Serra e Marina Silva (PV). Uma coisa nunca feita antes na história deste país. Muito provavelmente, porque não tem a menor lógica.
Somem-se todos estes fatos. Deixe-se a paixão de lado. Ignore-se toda a discussão sobre a administração lulista. Isso não ganhará a eleição. Isso não desalojará o lulismo do centro do poder. Porque isso simplesmente não interessa pro eleitor comum. Ele quer saber como anda a vida e como vai ficar em um futuro governo. Com a antecipação da campanha, com um discurso estratégico focado (nós somos melhores do que eles), com uma candidata escolhida com um ano de antecedência, o lulismo vem dando uma aula de como fazer política à oposição.
O que resta nesta altura do jogo é muito pouco. Ou bem Serra assume a candidatura de vez e para de brincar (política é coisa séria, não de moleque, ainda mais em se tratando de Presidência da República) ou abre espaço para que a oposição crie um fato novo com a candidatura Aécio Neves. E aí Aécio vai ter de suar, trabalhar, conversar e convencer como nunca para tentar operar um milagre. Porque nessa altura do jogo, vencer o consórcio lulista após este caminhão de erros, terá que ser classificado como obra do Divino.
Uma pena contar com uma oposição assim para um governo desastrado, autoritário e corrupto. Pobre Brasil.
Eduardo Bisotto
Como na vida, em política as explicações simples e fáceis para problemas complexos costumam sempre ser as explicações erradas. Vejo especialmente no Twitter, grandes companheiros conservadores e de oposição ao lulismo buscarem as causas onde elas não estão. Acusam a manipulação das pesquisas. Reclamam da antecipação da eleição. Buscam no Bolsa Família a causa. Pode até ter um pouco disso tudo. Mas não é só isso que explica o aparente descarrilhamento da oposição justamente quando seu trem parecia apontar para uma chegada vitoriosa a estação.
Manipulação de pesquisas? Os partidos da oposição têm pesquisas próprias internas que monitoram a situação minuto a minuto, estado a estado. Certamente num volume menor do que o Palácio do Planalto, mas ainda assim eles as têm. Alguém aqui acha que se os números de Vox Populi e Sensus estivessem tão fora da realidade, os próprios partidos de oposição já não teriam botado a boca no mundo? Não teriam contratado um instituto americano (são os melhores do mundo) e provado que os nacionais foram comprados? Se têm uma coisa que não existe em política são políticos inocentes.
Antecipação da campanha? Perfeito. Lula sabia que sua jogada era de altíssimo risco. Apostou em eleger o poste. A única maneira de tornar a manobra factível era antecipar o jogo. E ele antecipou. Fez o que deveria fazer sob o seu ponto de vista. O único dever do poder é com sua preservação e ampliação. Esse é o jogo. A regra sempre foi essa. E a oposição sabe (ou deveria saber) disso.
Bolsa Compra de Voto das Famílias? Ótimo. Explicaria o sucesso especialmente no Nordeste, onde o programa tem sua maior inserção. Acontece que Dilma vem crescendo parelho, em todo o país. Se sua intenção de voto estivesse concentrada no Nordeste a explicação até faria sentido. Mas não está. E isso é ainda mais preocupante para a oposição.
A bem da verdade, a oposição está perdendo o jogo para si mesma. Como perdeu em 2002. Como perdeu em 2006. E está arriscando repetir a proeza. Em 2002, a derrota começou a se desenhar com o esfarelamento do consórcio de partidos que sustentavam FHC. Até mesmo o saudoso ACM subiu no palanque lulista na Bahia, dada a trágica e patética maneira com que a articulação política foi conduzida no final do segundo mandato fernandista. A oposição tinha Roseana Sarney passando Lula no 1º turno e o PSDB jogou a Polícia Federal pra cima dela e desmontou sua candidatura. Dentro do PSDB, Serra tratorou Tasso Jereissatti, tradicional fonte financeira das campanhas do PFL/PSDB e o irmão de Tasso, o magnata Carlos, foi parar no colo de Lula. A disputa pela indicação se arrastou praticamente até a convenção, vencida a fórceps por Serra.
Em 2006 a oposição já chegou com uma situação muito pior do que tinha apenas um ano antes. Em 2005, pesquisas apontavam Lula com até 25% das intenções de voto. Praticamente morto. E então surgiu a tese da sangria. Ao invés de cumprir seu dever constitucional e pedir o impeachment do presidente a oposição foi "sangrá-lo". Mesmo assim, a oposição ainda tinha em José Serra um candidato que empatava com Lula no 1º turno e ganhava dele no 2º, conforme as pesquisas apontavam. E o que preferiu fazer? Escolher Alckmin, que suou frio pra não perder no 1º e conseguiu fazer menos votos no 2º turno do que já tinha feito na 1ª rodada. Uma campanha pífia, covarde, de concurso de empreiteiras (eu fiz isso, Lula fez aquilo, eu faço aquele outro, Lula faz mais e assim sucessivamente).
A escolha de Alckmin foi trágica. Mas eu sempre pensei que tinha sido um dedaço da cúpula em José Serra, uma espécie de volta pelos tratoraços de 2002. Até aparecer a revista Piauí com o perfil de Serra e FHC contando que ele tinha sido o escolhido em 2006. Mas desistiu. Segundo Fernando (e vários outros entrevistados), porque Serra não entra em dividida. Só vai na boa. Tem medo de arriscar. Preferiu o governo de SP ganho a correr o risco de perder a Presidência.
Desde aquela eleição o governador mineiro Aécio Neves vem colocando seu nome a disposição do PSDB para concorrer a Presidência. Tem uma belíssima gestão em Minas Gerais para mostrar. Tem o sobrenome de seu avô, quase um sinônimo de estadista para quem conhece a história política nacional. Tem uma reconhecida capacidade de articulação e aglutinação política. Mas Serra sempre apareceu melhor nas pesquisas. O que Aécio propôs? Que os tucanos se modernizassem. Que passassem a fazer política de verdade, com povo, com gente, com a base e a militância do partido. Não a política decidida dentro do restaurante Fasano em São Paulo por 3 ou 4 "cardeais". Pediu prévias. E o PSDB protelou. Protelou. Protelou. E por fim cancelou com a singela e ridícula desculpa de que não tinha o cadastro atualizado de seus filiados. Como um partido que sequer consegue organizar o cadastro de seus filiados se propões a governar o Brasil? Só Deus pra explicar. E então, sem prévias, sem consulta as bases, sem espaço para se apresentar, Aécio tomou uma decisão óbvia: desistiu, abrindo caminho para que o PSDB e a oposição organizassem a campanha de Serra.
Desde então, qual foi a melhor coisa que a oposição conseguiu fazer? Organizar um palanque duplo no Rio de Janeiro, estado em que conta com os dois primeiros colocados na disputa pelo governo do estado disputando a tapa pra ver quem oferece palanque para Dilma. Um palanque duplo! Para Serra e Marina Silva (PV). Uma coisa nunca feita antes na história deste país. Muito provavelmente, porque não tem a menor lógica.
Somem-se todos estes fatos. Deixe-se a paixão de lado. Ignore-se toda a discussão sobre a administração lulista. Isso não ganhará a eleição. Isso não desalojará o lulismo do centro do poder. Porque isso simplesmente não interessa pro eleitor comum. Ele quer saber como anda a vida e como vai ficar em um futuro governo. Com a antecipação da campanha, com um discurso estratégico focado (nós somos melhores do que eles), com uma candidata escolhida com um ano de antecedência, o lulismo vem dando uma aula de como fazer política à oposição.
O que resta nesta altura do jogo é muito pouco. Ou bem Serra assume a candidatura de vez e para de brincar (política é coisa séria, não de moleque, ainda mais em se tratando de Presidência da República) ou abre espaço para que a oposição crie um fato novo com a candidatura Aécio Neves. E aí Aécio vai ter de suar, trabalhar, conversar e convencer como nunca para tentar operar um milagre. Porque nessa altura do jogo, vencer o consórcio lulista após este caminhão de erros, terá que ser classificado como obra do Divino.
Uma pena contar com uma oposição assim para um governo desastrado, autoritário e corrupto. Pobre Brasil.
Eduardo Bisotto
Nenhum comentário:
Postar um comentário