Terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Conforme observei aqui, a pesquisa CNT-Sensus até parecia encomendada para reforçar a candidatura de Ciro Gomes (PSB) à Presidência. Hoje, é o menos provável. Mas não é impossível que isso aconteça. No caso de Ciro levar o pleito adiante, as condições teriam de ser negociadas com o PT. Lá está ele no Estadão Online: será candidato, sim. Só se seu partido não quiser. O jornal anuncia uma entrevista com ele nesta quarta.
Vamos começar pela coisa óbvia: fazê-lo candidato em São Paulo é um desses delírios de potência de Lula, que chega a ser, convenham, humilhante para Ciro. Ele até tentou, transferiu o título, viu seu nome ser testado nas pesquisas. Seria esmagado por Geraldo Alckmin — ou, numa hipótese muito menos provável, pelo próprio José Serra. Imaginem: abandonar o Ceará, seu estado (nasceu em São Paulo por acidente), para ser humilhado eleitoralmente bem longe de casa… Seria uma sandice!
Agora voltemos àquela hipótese. Ciro iria para a disputa só com o seu PSB? A chance de ver minguar seus votos e de sair da disputa menor do que entrou é grande. Também é humilhação. Lula não se incomodaria em tê-lo na TV atirando contra Serra — sua obsessão —, e isso também é um papel… humilhante. O ideal seria o Planalto arranjar as coisas para dar uns partidecos para uma coligação liderada pelo PSB. Mas a coisa teria de ser feita com cuidado: não poderia ser nada que o tornasse viável. E se toma o lugar de Dilma como o continuador de Lula? Com tempo, não duvidem, ele é um candidato melhor do que ela — refiro-me a produtos eleitorais apenas, sem juízo de valor sobre o conteúdo.
Serra, no cenário em que Ciro não está — e isto é quase ignorado pela imprensa “isenta” — , vence no primeiro turno. O fato não comove os petistas. Acham que é só questão de tempo para a sua candidata empatar com Serra e depois ultrapassá-lo. Ciro alerta, e com razão (de seu ponto de vista, de quem quer ver a derrota tucana), que se trata de uma estratégia arriscada.
Ciro pode odiar tudo o que escrevo, e presumo por quê, mas sabe que vive uma situação um tanto surrealista. Ninguém, e isso inclui alguns petistas, foi mais fiel a Lula e até ao petismo do que ele; essa fidelidade inclui até a sua disposição para a canelada e para atirar antes e ver quantos morreram depois. Tivesse o apoio e a visibilidade que tem Dilma, seria um candidato bem mais perigoso para os adversários. É um político de palanque, coisa que Dilma não é. Afinal, já se pode dizer que ele vem de longe, né?, lá da Arena, quando ela ainda estava, ao menos intelectualmente, ligada à VPR. Como equação eleitoral, é evidente que ele era de mais fácil solução do que ela. O diabo é que o petismo é o que é. E eu tenho a certeza de que Ciro ainda não compreendeu isso direito.
Ser o petismo o que é implica que o partido, se tivesse de escolher uma de duas coisas, preferiria perder com Dilma e depois soltar os cachorros loucos contra Serra a vencer com Ciro Gomes e ser seu caudatário. Não se trata de escolher o “Indivíduo A” ou o “Indivíduo B”. Trata-se de satisfazer as necessidades de um organismo que inclui partido, sindicatos, movimentos sociais, fundos de pensão, empresários escolhidos etc.
Ciro nunca compreendeu que ele é, no máximo, o agregado da turma. Ele é o criado José Dias de Dom Casmurro. É tolerado como alguém da família sem jamais ter sido. Aquele resolvia a sua presença na casa alheia abusando dos superlativos e conselhos inúteis. Ciro faz a sua tarefa sendo também superlativo nos xingamentos contra os adversários do PT. Aquele, quando não tinha o que dizer, mandava ver um “Lindíssimo!” Ciro, quando não tem o que dizer, afirma que os adversários querem destruir o Brasil…
Lula o quer para isso: para que use a sua pistola verbal. No arranjo primeiro pensado pelo petista, Ciro ficaria em São Paulo atacando o presidenciável José Serra, tentando desconstruir a imagem do governador. Não deu. Não é impossível que Lula considere a hipótese de tê-lo a mando disputando a Presidência. Mas terá de ser uma operação segura, que não abra a menor perspectiva de que ele venha a vencer o pleito.
Ciro tem de entender que o PT não o quer para casar, mas para se divertir. Jamais será esposa do PT. É só a concubina do coroné. É querida, sim, mas tem de morar nos arrabaldes e não pode ir à missa de domingo.
Reinaldo Azevedo
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