Escrito por Léo Lince
A entrevista do senador Jarbas Vasconcelos na revista Veja, sem a menor sombra de dúvida, foi a bomba da semana. Ainda não se sabe, vai depender do desdobrar dos acontecimentos, qual será o potencial de abalo do petardo. Tanto pode, como aconteceu naquela célebre entrevista do Pedro Collor, ser o sinal de alerta para o combate geral à corrupção que mina os pilares da República ou, pelo contrário, esgotar-se em si mesma, como o clarão fugaz dos fogos de artifício.
A importância do chamado "desabafo" do senador, que tem o mérito de estimular o debate sobre uma questão crucial da política brasileira contemporânea, está menos no que foi dito e mais no ponto a partir do qual se origina a denúncia. Dizer que o PMDB "é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem norte. É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho nos cargos", embora verdadeiro, não constitui novidade. Até as pedras da rua sabem. A grande novidade, mais uma vez a lembrança de Pedro Collor, é ouvir semelhante juízo da boca de Jarbas Vasconcelos. Ele foi prefeito, governador, deputado e agora é senador pelo denunciado PMDB, do qual é nome nacional e quadro histórico. Se o seu libelo se esgotar na mera entrevista, será o fim da picada.
O grupo da moral homogênea que dirige o ajuntamento peemedebista, como era de se esperar, fez cara de paisagem. Os dois escassos nomes citados na entrevista tiveram reações semelhantes. Renan Calheiros, que voltou a dar cartas no Senado, afirmou nem ter lido, logo, nada tinha a declarar. Sarney leu, mas foi lacônico: "não vou diminuir o debate" e, na certa, tampouco estará interessado em aumentá-lo. Michel Temer, que acumula as presidências da Câmara dos Deputados e do PMDB, não se sentiu obrigado a tomar qualquer providência. Disse, naquele formalismo postiço de mordomo, não estar disposto a "imprimir relevância ao que é destituído de especificidade". São da turma que querem o esquecimento rápido do episódio e, para tanto, esperam a "compreensão" do próprio denunciante.
Por isso mesmo, está absolutamente certo o PSOL, com sua pequena e aguerrida bancada, quando declara concordância com a denúncia do senador e, ao mesmo tempo, cobra dele o detalhamento de situações, nomes e fatos. Certamente não faltarão ao senador, com a vivência dos problemas que lhe animaram a conceder tão contundente entrevista, condições para satisfazer tal requisito. Na certa, o PSOL também deve ter cobrado o apoio do senador para a oportuna iniciativa pela construção, no Congresso Nacional e junto a outras entidades da sociedade, de um Fórum Permanente pela Ética na Política. Operando no mesmo sentido, o presidente em exercício do Conselho Federal da OAB, Vladimir Rossi Lourenço, cobrou do Ministério Público a apuração com urgência das denúncias feitas.
Ao acusar o seu próprio partido de estar dominado pelo intestino grosso da baixa política, Jarbas Vasconcelos recolocou em cena o debate sobre a corrupção sistêmica. Ele sabe que o pau que sustenta a lona do circo onde o fisiologismo faz a festa está na chefia dos executivos. Responsabilizou, com acerto, o governo Lula, mas poderia ter ido além. Para ficar apenas nos três maiores orçamentos do Brasil, faltou nomear o tucano Serra e o demo-pefelista Kassab. O PMDB está lá, ao que consta com as práticas de sempre, na base de apoio. Ao disputarem o partido símbolo da pequena política, tais governos não são prisioneiros, mas beneficiários e artífices de um mesmo e detestável padrão de política.
Léo Lince é sociólogo.
A entrevista do senador Jarbas Vasconcelos na revista Veja, sem a menor sombra de dúvida, foi a bomba da semana. Ainda não se sabe, vai depender do desdobrar dos acontecimentos, qual será o potencial de abalo do petardo. Tanto pode, como aconteceu naquela célebre entrevista do Pedro Collor, ser o sinal de alerta para o combate geral à corrupção que mina os pilares da República ou, pelo contrário, esgotar-se em si mesma, como o clarão fugaz dos fogos de artifício.
A importância do chamado "desabafo" do senador, que tem o mérito de estimular o debate sobre uma questão crucial da política brasileira contemporânea, está menos no que foi dito e mais no ponto a partir do qual se origina a denúncia. Dizer que o PMDB "é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem norte. É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho nos cargos", embora verdadeiro, não constitui novidade. Até as pedras da rua sabem. A grande novidade, mais uma vez a lembrança de Pedro Collor, é ouvir semelhante juízo da boca de Jarbas Vasconcelos. Ele foi prefeito, governador, deputado e agora é senador pelo denunciado PMDB, do qual é nome nacional e quadro histórico. Se o seu libelo se esgotar na mera entrevista, será o fim da picada.
O grupo da moral homogênea que dirige o ajuntamento peemedebista, como era de se esperar, fez cara de paisagem. Os dois escassos nomes citados na entrevista tiveram reações semelhantes. Renan Calheiros, que voltou a dar cartas no Senado, afirmou nem ter lido, logo, nada tinha a declarar. Sarney leu, mas foi lacônico: "não vou diminuir o debate" e, na certa, tampouco estará interessado em aumentá-lo. Michel Temer, que acumula as presidências da Câmara dos Deputados e do PMDB, não se sentiu obrigado a tomar qualquer providência. Disse, naquele formalismo postiço de mordomo, não estar disposto a "imprimir relevância ao que é destituído de especificidade". São da turma que querem o esquecimento rápido do episódio e, para tanto, esperam a "compreensão" do próprio denunciante.
Por isso mesmo, está absolutamente certo o PSOL, com sua pequena e aguerrida bancada, quando declara concordância com a denúncia do senador e, ao mesmo tempo, cobra dele o detalhamento de situações, nomes e fatos. Certamente não faltarão ao senador, com a vivência dos problemas que lhe animaram a conceder tão contundente entrevista, condições para satisfazer tal requisito. Na certa, o PSOL também deve ter cobrado o apoio do senador para a oportuna iniciativa pela construção, no Congresso Nacional e junto a outras entidades da sociedade, de um Fórum Permanente pela Ética na Política. Operando no mesmo sentido, o presidente em exercício do Conselho Federal da OAB, Vladimir Rossi Lourenço, cobrou do Ministério Público a apuração com urgência das denúncias feitas.
Ao acusar o seu próprio partido de estar dominado pelo intestino grosso da baixa política, Jarbas Vasconcelos recolocou em cena o debate sobre a corrupção sistêmica. Ele sabe que o pau que sustenta a lona do circo onde o fisiologismo faz a festa está na chefia dos executivos. Responsabilizou, com acerto, o governo Lula, mas poderia ter ido além. Para ficar apenas nos três maiores orçamentos do Brasil, faltou nomear o tucano Serra e o demo-pefelista Kassab. O PMDB está lá, ao que consta com as práticas de sempre, na base de apoio. Ao disputarem o partido símbolo da pequena política, tais governos não são prisioneiros, mas beneficiários e artífices de um mesmo e detestável padrão de política.
Léo Lince é sociólogo.
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