segunda-feira, 30 de março de 2009

Educação redentora... ou quase isso

Gabriel Perissé


Algumas idéias, tantas vezes repetidas, reiteradas, reforçadas, acabam por se integrar às nossas crenças. Uma crença que se impõe cada vez mais — a educação como elemento fundamental para a construção de um projeto nacional, para o crescimento econômico do Brasil, para a redenção do país.

Não faltam frases definitivas, colhidas na mídia, de norte a sul.

“Os povos que querem crescer defendem a ‘Escola’ como único meio social capaz de abarcar ricos e pobres na escalada do desenvolvimento sustentável”, disse o professor João Carlos Costa na Rádio Universidade de Santa Maria (RS).

A educação “está fortemente associada ao dinamismo e ao sucesso no processo de geração e distribuição de riquezas”, leio no site do Ministério do Planjenamento.

Aloizio Mercadante, em 2002, num Seminário Internacional cujo tema era “Brasil: como crescer? Para onde crescer?”, declarou ao Jornal da USP: “O investimento na educação, na ciência e na tecnologia é fundamental. A educação é hoje o problema estrutural mais grave do país, o ensino está tomado por uma grande mediocridade”.

Educação como acesso para o desenvolvimento. Educação como prioridade, como a menina dos olhos de todos os governantes. Quem dirá o contrário?

Tarso Genro, em entrevista à Folha Online (24/06/2005): “Eu acho que a visão da educação como prioridade em um novo modelo de desenvolvimento, cujos elementos de transição estão sendo construídos, na minha opinião, pelo governo atual é que pode realmente alavancar o país para um patamar superior”.

As declarações com a mesma preocupação se acumulam. Educação já. Educação que redime. Educação como prioridade. Quem dirá o contrário?

José Medeiros, ex-secretário de Educação, escreveu na Gazeta de Alagoas, em setembro de 2006: “A educação é alavanca propulsora da melhoria social. Isso é dito nas campanhas eleitorais. Passada a eleição, tudo volta à rotina e nem sempre substanciais melhorias são colocadas em prática”.

Educação é alavanca, é instrumento de redenção social, é prioridade das prioridades, é salvação da lavoura, é o melhor investimento. Quem dirá o contrário?

Louvores à educação abstrata, esperança nessa educação idéia, abordagem da educação tema, elogios à educação sonho, educação que paira sobre nossas cabeças, espírito benfazejo distribuindo bênçãos para quem erguer as mãos.

Ninguém dirá o contrário. Acreditamos na educação. Acreditamos na escola. Acreditamos nos professores. Contudo, essa crença esbarra numa “coisa” complexa, que parece diluir todas as nossas palavras: a realidade.

Gabriel Perissé é doutor em educação pela USP e escritor.
Web Site: www.perisse.com.br
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