terça-feira, 10 de março de 2009

Brasil um país mais velho

Por Washington Castilhos, da Agência Fapesp


Agência FAPESP – A população brasileira está envelhecendo em ritmo acelerado e até 2050 quase 30% da população do país terá acima de 60 anos e a idade média deverá chegar aos 81 anos. Por sua vez, o número de pessoas entre 0 e 14 anos se encontra em declínio. Com taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição, nascem cada vez menos crianças no país.

Com isso, o número de habitantes deverá parar de crescer e até diminuir, passando de cerca de 219 milhões em 2039 – quando atingiria seu máximo – para 215,2 milhões em 2050. Por outro lado, o aumento da população em idade adulta e economicamente ativa poderá representar uma grande vantagem para a economia brasileira nos próximos 30 anos.

Essas são projeções de um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e apresentado na semana passada. Intitulado “Projeções da população do Brasil por sexo e idade: 1980-2050”, o trabalho reconstituiu o crescimento populacional desde 1980 e, a partir de dados sobre fecundidade e mortalidade, faz projeções até o ano de 2050.

Em entrevista à Agência FAPESP, o demógrafo Luiz Antônio Oliveira, coordenador de população e indicadores sociais do IBGE e um dos responsáveis pela pesquisa, fala dos impactos de o país estar caminhando rumo a um perfil demográfico cada vez mais envelhecido e de como poderá se preparar para isso.

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Agência FAPESP –Quais poderão ser as principais mudanças na dinâmica demográfica da população brasileira nos próximos 30 anos?

Luiz Antônio Oliveira – As tendências demográficas mudam. Em nosso estudo, buscamos reconstituir o crescimento da população e das componentes demográficas desde 1980. Pudemos então, a partir daí, fazer as projeções para as próximas décadas, levando em conta as hipóteses recomendadas internacionalmente sobre os comportamentos dos níveis de fecundidade e de mortalidade. Daqui a 30 anos, a população brasileira deverá parar de crescer e começar a diminuir. Em 2039, ela alcançará seu maior tamanho, que estimamos em 219,1 milhões de habitantes. A partir daí, passará a declinar, caindo para 215,2 milhões. Também observamos que a população brasileira está envelhecendo cada vez mais e que nascem menos crianças. Em 2000, tínhamos 51 milhões de pessoas na faixa etária entre 0 e 14 anos, o que representava 29,8% da população brasileira. Em 2050, esse número cairá para 28,3 milhões, representando 13,1%. Por sua vez, o grupo acima de 60 anos, que era de 14 milhões em 2000, representando 8,1% da população total, aumentará enormemente, para 64 milhões, passando a representar 29,8%. Em resumo, o país está envelhecendo.

Agência FAPESP –Esse é um fenômeno que já vem sendo observado, não?

Oliveira – Sim. Em 2008, a esperança de vida de um brasileiro ao nascer é de 72,7 anos, bem maior que no passado – em 1940, era de 45,5 anos. Ou seja, estamos vivendo 27,2 anos a mais. Para 2050, a hipótese é que a vida média do brasileiro chegue ao patamar de 81 anos. Se separarmos por sexo, veremos que, em 2008, a média de vida para as mulheres está em 76,6 anos e, para os homens, em 69 anos, uma diferença de 7,6 anos.

Agência FAPESP – As mulheres têm sobrevida maior?

Oliveira – Sim, e isso se deve a uma série de fatores. Em nosso país, essa situação é ainda mais agravada pela mortalidade de jovens do sexo masculino entre os 18 e 30 anos por causas associadas à violência. Para se ter uma idéia, a incidência da mortalidade masculina no grupo etário entre os 20 e 24 anos é quase quatro vezes superior à feminina. Se isso não ocorresse, a esperança de vida dos homens seria de dois a três anos maior do que é hoje. Portanto, se não houver uma mudança nesse padrão, em 2050 o Brasil terá 7 milhões de mulheres a mais do que homens. Elas, na verdade, já são maioria. Para cada 100 meninos nascidos, nascem em média 105 meninas, é uma constatação biológica. Outro fator é que a mortalidade infantil dos meninos é maior que a das meninas.

Agência FAPESP –Os resultados do estudo feito pelo IBGE mostram que, por um lado, estão nascendo cada vez menos crianças no Brasil, que atualmente já tem uma taxa de fecundidade baixa. Por outro lado, o número de pessoas em idade potencialmente ativa se encontra em pleno processo de ascensão. Isso não será bom para a economia do país?

Oliveira – Sem dúvida, se soubermos aproveitar. Nos últimos 20 anos temos observado o crescimento da população em idade adulta, que vai dos 15 aos 59 anos, e da chamada população economicamente ativa, da faixa dos 20 aos 30 e dos 30 aos 40 anos. São pessoas que estão no mercado de trabalho, assegurando a sobrevivência da família. Esse movimento tende a continuar para daqui a 20 anos e isso, em teoria, é bom, pode ser visto como uma vantagem demográfica para a Economia. A Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios] de 2007 apresentava uma taxa média de 1,95 filho por mulher. A estimativa aponta para uma taxa de fecundidade em 2030 de 1,5 filho por mulher, que estaria abaixo do nível de reposição. Países como Espanha, Itália, Alemanha e França têm taxas de 1,2 ou 1,3 filho por mulher. Com a diminuição nas taxas de fertilidade, diminui também o peso das crianças de 0 a 14 anos sobre a população de 15 a 64 anos de idade, economicamente ativa. A população com idades em ingresso no mercado de trabalho (15 a 24 anos) passa pelo máximo de 34 milhões de pessoas, contingente que tende a diminuir nos próximos anos. O aproveitamento dessa oportunidade pode proporcionar um crescimento econômico ao país, se as pessoas forem bem preparadas e qualificadas profissionalmente.

Agência FAPESP – Por outro lado, com taxa de fecundidade baixa e após o envelhecimento do contingente de pessoas economicamente ativas, o aumento no número de idosos não poderá vir a ser um problema para o país?

Oliveira – Sim, se essa população não for produtiva acabará sendo um peso. A população tem que envelhecer com condições físicas e materiais. Terá de haver melhorias nas condições de vida, na área da saúde e nas ofertas de trabalho. Que essa seja uma população de idosos ativos e produtivos. Políticas de saúde e de inserção na economia terão que ser desenvolvidas. O país também terá que estar preparado para o impacto desse envelhecimento populacional na Previdência Social.

Agência FAPESP – Se o ritmo de crescimento populacional do Brasil ainda fosse o mesmo que o da década de 1950, a população brasileira atual seria muito maior do que 189 milhões. O país está acompanhando um fenômeno mundial de declínio populacional?

Oliveira – Sim, esse é um fenômeno resultante da globalização, da melhoria nos níveis de educação e inserção social, das mudanças nos padrões de família e do maior acesso aos métodos anticoncepcionais. Até 2050, o Brasil deverá passar da quinta para a oitava posição no ranking dos países mais populosos. Atualmente estamos atrás somente da China, Índia, Estados Unidos e Indonésia, mas, como deveremos parar de crescer em 2039, há a possibilidade de países como Paquistão e Bangladesh passarem o Brasil em números de habitantes, por terem taxas de fecundidade maiores do que a nossa.

(Envolverde/Agência Fapesp)

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