por Ralph J. Hofmann
Meu amigo Jayme Copstein escreve uma crônica da qual respeitosamente pinço os seguintes parágrafos:
“E foi assim, com os oficiantes falando da mensagem de amor do Natal até que um deles decidiu transformar o púlpito em tribuna e explicar a origem das desgraças nacionais: o roubo do nosso ouro pelos colonizadores portugueses.
Apesar de a pregação ter muito pouco a ver com o Natal de Jesus, fiquei matutando sobre o destino do ouro “roubado” como disse o pregador. Como Portugal jamais conseguiu ser uma nação rica, quem ficou com ele? Um pouco mais de investigação haveria de revelar o nome dos receptadores.
Como sempre procuro luzes para iluminar a minha ignorância, falei a alguém ao lado das minhas preocupações em identificar os intrujões. Disse-me o vizinho que pregador estava enganado. Que fora Dom João VI, quando foi embora do Brasil que levou todo o nosso ouro. Acrescentou enfático: “Foi ele quem ensinou o nosso povo a roubar!”
Não tive muito que dizer. D. João VI deixou o Brasil em 1821 e já se vão 187 anos, tempo mais que suficiente para mudar os costumes. Mas, como a minha inteligência é tão pequena, não pude perceber a genialidade desse homem, tão perito na arte, a ponto de antecipar em mais de um século, por exemplo, a invenção da cueca, criada com o fim exclusivo de transportar mensalões não contabilizados e depois desvirtuada para substituir os prosaicos ceroulões daquela época.”
Nem D. João VI dava sinais externos de riqueza excepcional ao chegar de volta a Portugal, nem as próximas geração da coroa portuguesa demonstraram acesso a tais riquezas e nesta altura já não se minerava grandes fortunas no Brasil.
Mas Portugal foi um dos principais clientes das indústrias de porcelana, tapeçaria e tecidos luxuosos estabelecidos na França por Henrique IV, e fortalecidos por seu neto Luiz XIV assessorado pelo Cardeal Richelieu e Mazarin ao tempo de Luiz XV. A França não minerava, mas recolhia ouro, poderio militar e grandeza.
Tirem-se as conclusões. O rombo foi muito antes de 1808 a 1820.
Mas também vamos discutir o assunto por outro prisma.
À época o Brasil era um domínio de Portugal. Portugal era uma monarquia. O chefe de estado era o Rei. Donde levar o ouro para Portugal era lícito pelas leis da época. Não pagar os impostos seria a ilicitude. Não tivesse falhado a inconfidência mineira a história seria outra. Podia ser injusto. Poderia ser uma justificativa para alijar o opressor. Mas não alijaram. Preferiram acertar-se. Compor-se com a coroa. Trair a conjura dos companheiros mineiros. Aceitar a carga de impostos por uma percentagem menor não revelando o quanto haviam realmente escondido dos cobradores ao longo de uma década.
Mas isto não nos lembra algo mais atual? A carga de impostos chega aos 40%. O governo “made in Brazil” cobra como e fossemos um povo conquistado. “Vae victi”, é o que nos diz quando reclamamos,” ai dos vencidos”. E o povo o que faz? Aplaude. Ou pelo menos, segundo consta, 73% aplaudem. O poeta e autor alemão Erich Kaestner uma vez disse numa conferência. “É triste sorver da cáca em que estás nadando.” Os 73% de aprovação são literalmente um sinal de que a cáca está sendo apreciada por muitos. Ou será outro conto do vigário. Jeitinho, que nem Tiradentes pagar pelos muitos. Os muitos recebendo um tapinha nas mão e simplesmente passando a recolher os impostos em bases correntes.
Cada período da história precisa ser julgado à luz dos costumes da época em que ocorreram. No tempo da derrama não se contestava o direito do rei taxar aos mineradores. Afinal, eram concessões da coroa. Alegava-se o valor da importância ser demasiado se os atrasados fossem cobrados. Isto quebraria a indústria do ouro.
E cá para nós, o ouro não construía um Portugal maior e mais eficaz. Construía um Portugal perdulário em que o rei mantinha seus nobres satisfeitos e gordos com sinecuras bem pagas pelas colônias (não só do Brasil mas de Timor e Damão, Macau e Coromandel, Angola e Moçambique. As fábricas de Porcelana em Sèvres festejavam, as tecelagens de Lyon também. Os ingleses entraram na corrida muito mais tarde. Par o momento satisfaziam-se com o saque, particularmente quando Portugal passou a ser propriedade do dei da Espanha. Idéia!!! Terão os espanhóis também se remunerado com ouro Brasileiro?
Mas a realidade é uma só. Um grupo de bárbaros ocupou o Brasil. Ainda está exaurindo o ouro do povo. Cobra impostos sobre impostos sobre impostos. Aplica em compra de simpatizantes uma pequena parte. A maior parte embolsa remunerando-se pela extenuante tarefa de saquear-nos, tarefa que herdou dos governantes brasileiros do tempo do Reino Unido de Portugal e Algarves, digamos que o avô do atual regime.
Enquanto isto Robin Hood dorme seu sono final em sua cova à sombra dos salgueiros da floresta de Sherwood. Não vai atacar os cobradores de impostos e resgatar o Rei Ricardo Coração de Leão, que poderia trazer paz e felicidade ao reino.
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