Na semana passada, o presidente José Sarney tentou reverter com um discurso em plenário o fortalecimento da corrente que defendia sua renúncia. Ganhou apenas a solidariedade do presidente Lula e um pouco mais de tempo para tomar medidas concretas que tirem o Senado da berlinda. A verdade é que Sarney está comprometido até o talo com as irregularidades administrativas ora descobertas. Seu jogo será o de ganhar tempo até que a imprensa enjoe do tema. É a tendência predominante, já que não interessa ao governo a morte política de Sarney. Ruim com ele, pior sem ele. Sarney é uma espécie de poder moderador nas relações do governo com o PMDB. Ainda que não seja confiável, como se viu no episodio da instalação da CPI da Petrobras, quando ele não moveu um dedo para ajudar o governo. Além do mais, não existe alternativa a Sarney. Renan Calheiros, outro pólo de poder em franca recuperação. Ser líder do PMDB está de bom tamanho.
No PT, há quem comemore muito o desgaste de Sarney. O partido se sentiu traído pelo PMDB. Achava-se no direito de comandar o Senado, uma vez que apoiou a candidatura de Michel Temer (PMDB-SP) para a presidência da Câmara. De certa forma, tem toda razão. Até mesmo o presidente Lula teria ouvido de Sarney que não seria candidato. Depois, docemente constrangido, mudou de idéia. Ganhou e mergulhou o Senado em uma das mais graves crises de sua história, pois, a exemplo de situações limites da nossa história, os vencidos não respeitaram o resultado do jogo e deflagaram uma guerra de foice no escuro, como dizia Tancredo Neves.
A rigor, Sarney deveria renunciar bem como os demais membros da atual mesa. Um nova eleição deveria ser feita, além de uma ampla auditoria externa e independente nas contas do Senado. Porém, nada disso vai acontecer. Pelas seguintes razões: a oposição está desarvorada e acoelhada diante do assunto. Teme ser atingida por acusações graves. Par a sociedade, a crise do Senado é mais uma que acontece das inúmeras que já aconteceram. No governo, a crise – se não é boa – também não é tão ruim desde que a imagem do presidente seja preservada. Assim, o que deve prevalecer é o imobilismo e o desinteresse geral. Ou seja, daqui a algumas semanas a imprensa baixa o tom e vai atrás de outro tema. Aos poucos, Sarney recuperará a mobilidade política e tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes. Essa é a tendência predominante.
No entanto, sempre existe um “porém”. Nesse caso, a crise do PMDB no Senado tem vários pontos de interrogação. Um deles se refere a relação do partido com o PT na sucessão. O governo sabe que o PMDB será vital na disputa em 2010. Principalmente, por causa do tempo de televisão. Por outro lado, parte do PMDB se sente tentado em se juntar a Serra. Alguns acham que, independente de quem ganhar, o partido será parte do governo. Assim, o ideal é lançar um candidato próprio e alavancar alianças regionais. Não são opções fáceis. Faltando pouco mais de dezoito meses para o fim da “Era Lula”, o quadro político tende a ser cada vez pior. E, neste momento, o governo está paralisado e sem iniciativa. Esperando a fogueira do Senado baixar. Não é o ideal. É o que resta fazer. Até mesmo pelo fato que de a sucessão de 2010, seja qual for a chapa governista, será decidida pelo ambiente econômico que dificilmente será impactado negativamente pelas trapalhadas de nosso sistema político.
Murillo de Aragão é mestre em Ciência Política, doutor em Sociologia pela UnB e presidente da Arko Advice – Análise Política.
No PT, há quem comemore muito o desgaste de Sarney. O partido se sentiu traído pelo PMDB. Achava-se no direito de comandar o Senado, uma vez que apoiou a candidatura de Michel Temer (PMDB-SP) para a presidência da Câmara. De certa forma, tem toda razão. Até mesmo o presidente Lula teria ouvido de Sarney que não seria candidato. Depois, docemente constrangido, mudou de idéia. Ganhou e mergulhou o Senado em uma das mais graves crises de sua história, pois, a exemplo de situações limites da nossa história, os vencidos não respeitaram o resultado do jogo e deflagaram uma guerra de foice no escuro, como dizia Tancredo Neves.
A rigor, Sarney deveria renunciar bem como os demais membros da atual mesa. Um nova eleição deveria ser feita, além de uma ampla auditoria externa e independente nas contas do Senado. Porém, nada disso vai acontecer. Pelas seguintes razões: a oposição está desarvorada e acoelhada diante do assunto. Teme ser atingida por acusações graves. Par a sociedade, a crise do Senado é mais uma que acontece das inúmeras que já aconteceram. No governo, a crise – se não é boa – também não é tão ruim desde que a imagem do presidente seja preservada. Assim, o que deve prevalecer é o imobilismo e o desinteresse geral. Ou seja, daqui a algumas semanas a imprensa baixa o tom e vai atrás de outro tema. Aos poucos, Sarney recuperará a mobilidade política e tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes. Essa é a tendência predominante.
No entanto, sempre existe um “porém”. Nesse caso, a crise do PMDB no Senado tem vários pontos de interrogação. Um deles se refere a relação do partido com o PT na sucessão. O governo sabe que o PMDB será vital na disputa em 2010. Principalmente, por causa do tempo de televisão. Por outro lado, parte do PMDB se sente tentado em se juntar a Serra. Alguns acham que, independente de quem ganhar, o partido será parte do governo. Assim, o ideal é lançar um candidato próprio e alavancar alianças regionais. Não são opções fáceis. Faltando pouco mais de dezoito meses para o fim da “Era Lula”, o quadro político tende a ser cada vez pior. E, neste momento, o governo está paralisado e sem iniciativa. Esperando a fogueira do Senado baixar. Não é o ideal. É o que resta fazer. Até mesmo pelo fato que de a sucessão de 2010, seja qual for a chapa governista, será decidida pelo ambiente econômico que dificilmente será impactado negativamente pelas trapalhadas de nosso sistema político.
Murillo de Aragão é mestre em Ciência Política, doutor em Sociologia pela UnB e presidente da Arko Advice – Análise Política.
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