Se houve ou não fraude nas eleições do Irã ou até que ponto os protestos foram instigados de fora, não sei (afinal, eu não posso saber tudo!), mas a melhor notícia sobre as manifestações de rua naquele país é que elas parecem ter transcendido o mero inconformismo eleitoral. O candidato derrotado nas eleições, Mousavi, seria melhor do que o Ahmadinejad, o que já não é dizer muito, mas era um produto da mesma ortodoxia e não representava uma mudança muito radical nos costumes políticos do país. Se não fosse uma alternativa aceitável ao atual presidente, com a bênção dos aiatolás, Mousavi nem seria candidato. Mas pelo menos uma parte dos manifestantes, pelo que se viu e se leu, protestava justamente contra o sistema que dava tal poder sobre a política e a vida dos iranianos a líderes religiosos. Era uma clara manifestação de insurgência secular, de saco cheio com a prepotência teísta.
Uma revolta a ser imitada, para a boa saúde do planeta, onde quer que Deus, nas suas diferentes versões, seja invocado para justificar o obscurantismo e a violência. Principalmente no Oriente Médio, onde os monoteísmos se engalfinham há anos e cada versão de Deus tem suas razões para a intransigência. Israel é um estado laico, mas o fundamentalismo religioso aliado à extrema direita, hoje no poder, o leva a comportar-se, muitas vezes, como uma teocracia impiedosa. O Hamas se sobrepôs à secular Autoridade Palestina porque prometia uma violência mais efetiva contra Israel, mas também pelo seu apelo religioso, pela promessa de que tinha um deus forte.
A nação que, de um jeito ou de outro, domina a região, com a benção dos americanos, a Arábia Saudita, além de ser uma das teocracias mais retrógradas é uma das últimas monarquias absolutas do mundo. O Irã tem pelo menos a desculpa de que o deus dos aiatolás reina sobre uma republica.
Mas isto é um pobre consolo para quem vive num país em muitos sentidos moderno e com uma cultura notável, e deve se resignar a ser tutelado em tudo - da escolha de candidatos à escolha da roupa apropriada - por meia dúzia de cléricos com linha direta para Deus.
MILÍMETROS
Não sei se você se deu conta: o mundo esteve à beira de uma catástrofe nestes últimos dias. Por uma questão de milímetros a final da Copa das Federações não foi entre África do Sul e Estados Unidos. O que obrigaria todos os cronistas esportivos do mundo a mudar de profissão, ou dedicar-se exclusivamente ao ping-pong. Foi por pouco.
Uma revolta a ser imitada, para a boa saúde do planeta, onde quer que Deus, nas suas diferentes versões, seja invocado para justificar o obscurantismo e a violência. Principalmente no Oriente Médio, onde os monoteísmos se engalfinham há anos e cada versão de Deus tem suas razões para a intransigência. Israel é um estado laico, mas o fundamentalismo religioso aliado à extrema direita, hoje no poder, o leva a comportar-se, muitas vezes, como uma teocracia impiedosa. O Hamas se sobrepôs à secular Autoridade Palestina porque prometia uma violência mais efetiva contra Israel, mas também pelo seu apelo religioso, pela promessa de que tinha um deus forte.
A nação que, de um jeito ou de outro, domina a região, com a benção dos americanos, a Arábia Saudita, além de ser uma das teocracias mais retrógradas é uma das últimas monarquias absolutas do mundo. O Irã tem pelo menos a desculpa de que o deus dos aiatolás reina sobre uma republica.
Mas isto é um pobre consolo para quem vive num país em muitos sentidos moderno e com uma cultura notável, e deve se resignar a ser tutelado em tudo - da escolha de candidatos à escolha da roupa apropriada - por meia dúzia de cléricos com linha direta para Deus.
MILÍMETROS
Não sei se você se deu conta: o mundo esteve à beira de uma catástrofe nestes últimos dias. Por uma questão de milímetros a final da Copa das Federações não foi entre África do Sul e Estados Unidos. O que obrigaria todos os cronistas esportivos do mundo a mudar de profissão, ou dedicar-se exclusivamente ao ping-pong. Foi por pouco.
Luiz Fernando Veríssimo
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