Paulo Castelo Branco*
Os novos movimentos de protesto popular se tornaram inoperantes nestes tempos de tantas falcatruas. As alegações dos governos de que não houve aumento da corrupção, e sim, incremento das investigações pode levar a população a se sentir segura quanto à veracidade das informações procedentes do poder instituído.
Sem a presença da UNE (União Nacional dos Estudantes – para quem já esqueceu), nos debates e nas ruas, parece que a situação do país é tranqüila, seguindo o rumo certo da democracia plena. A vitória dos ex-militantes de esquerda amorteceu os sentimentos profundos que explodiam nas manifestações que chegavam a colocar na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, milhares de brasileiros unidos em busca da utopia.
Foram muitas as ocasiões, desde a redemocratização, nas quais o povo foi para as ruas exigindo o fim da corrupção, do desemprego, dos impostos extorsivos, da insegurança pública e da falta de assistência à saúde.
Nesses novos tempos, o que vemos são os estudantes em busca de meia-entrada em tudo e recebendo as benesses do poder. Até mesmo as esperanças com a nova liderança estudantil se esvaem no silêncio de suas estrelas quando devem se pronunciar sobre as mazelas do país. É triste a constatação da leveza das palavras e das ações, que são tão distantes dos tempos dos Josés que lideravam os movimentos estudantis à época da ditadura: José Dirceu e José Serra; e agora, Josés?
A acomodação popular é conseqüência da falta de líderes. Os que existem foram cooptados pelo poder e silenciam, ou são extremamente moderados em seus pronunciamentos. O movimento sindical está satisfeito com tudo que acontece, e até os sem-terra ficam sossegados, despertando somente quando os recursos oficiais que os mantêm minguam. O último movimento popular de que se tem notícia foi o “Cansei”, que, parece, se cansou mesmo.
Mas existe um trabalho de bastidores que os políticos têm considerado muito bom para a governabilidade. É o protesto virtual que abarrota de mensagens as caixas-postais dos computadores oficiais. No mais recente episódio – o que examinava a cassação do presidente do Senado Federal, senador Renan Calheiros –, as informações publicadas na imprensa diziam que milhares de internautas pediam sessão e votação abertas e a cassação do senador.
As máquinas não suportaram tantas mensagens de protesto. É sabido que este método de protesto é infrutífero. Os senadores não precisam ter acesso direto aos e-mails, que são lidos por assessores. E, a prática é simples: aperta-se a tecla “selecionar tudo” e, em seguida, a tecla “delete”. Pronto. Sem polícia, sem violência e sem transtornos. As vias públicas ficam liberadas, os políticos tranqüilos e o povo sem respostas.
A solução do protesto virtual vem se juntar ao namoro no chat e à traição conjugal sem conseqüências para a família. Hoje é possível acompanhar os movimentos dentro de casa através de câmeras ligadas ao computador. É assim que muitos crimes são desvendados, muitos desaparecidos são localizados, e, também, muitas contas bancárias são violadas. É o mundo moderno, e ninguém, em sã consciência, se colocará contrariamente à evolução.
O que nos deixa perplexos é a desunião na defesa do interesse público. A população brasileira está inerte e voltada para seus problemas pessoais. Os que possuem condições financeiras se confinam em suas fortalezas, e os pobres se amedrontam com a violência urbana e, também, se curvam à força dos marginais que dominam as comunidades e as periferias das cidades.
Mesmo quando a criminalidade e a violência quase destroem a vida dos cidadãos de bem, eles se sentem impotentes para exigir das autoridades a proteção policial e programas sociais que minimizam as agruras. Se as autoridades instalarem computadores nas comunidades e na periferia, nenhum cidadão terá motivação para protestar pessoalmente contra os descalabros dos governos e governantes que se homiziam nos palácios cercados de segurança e se movimentam em viaturas, aviões e vagões blindados e com vidros escuros. Os protestos virtuais chegarão e serão deletados.
*Paulo Castelo Branco é advogado, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e autor dos livros Brasília 2030 – a reconstrução, A morte de JK e A poeira dos dias.
Os novos movimentos de protesto popular se tornaram inoperantes nestes tempos de tantas falcatruas. As alegações dos governos de que não houve aumento da corrupção, e sim, incremento das investigações pode levar a população a se sentir segura quanto à veracidade das informações procedentes do poder instituído.
Sem a presença da UNE (União Nacional dos Estudantes – para quem já esqueceu), nos debates e nas ruas, parece que a situação do país é tranqüila, seguindo o rumo certo da democracia plena. A vitória dos ex-militantes de esquerda amorteceu os sentimentos profundos que explodiam nas manifestações que chegavam a colocar na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, milhares de brasileiros unidos em busca da utopia.
Foram muitas as ocasiões, desde a redemocratização, nas quais o povo foi para as ruas exigindo o fim da corrupção, do desemprego, dos impostos extorsivos, da insegurança pública e da falta de assistência à saúde.
Nesses novos tempos, o que vemos são os estudantes em busca de meia-entrada em tudo e recebendo as benesses do poder. Até mesmo as esperanças com a nova liderança estudantil se esvaem no silêncio de suas estrelas quando devem se pronunciar sobre as mazelas do país. É triste a constatação da leveza das palavras e das ações, que são tão distantes dos tempos dos Josés que lideravam os movimentos estudantis à época da ditadura: José Dirceu e José Serra; e agora, Josés?
A acomodação popular é conseqüência da falta de líderes. Os que existem foram cooptados pelo poder e silenciam, ou são extremamente moderados em seus pronunciamentos. O movimento sindical está satisfeito com tudo que acontece, e até os sem-terra ficam sossegados, despertando somente quando os recursos oficiais que os mantêm minguam. O último movimento popular de que se tem notícia foi o “Cansei”, que, parece, se cansou mesmo.
Mas existe um trabalho de bastidores que os políticos têm considerado muito bom para a governabilidade. É o protesto virtual que abarrota de mensagens as caixas-postais dos computadores oficiais. No mais recente episódio – o que examinava a cassação do presidente do Senado Federal, senador Renan Calheiros –, as informações publicadas na imprensa diziam que milhares de internautas pediam sessão e votação abertas e a cassação do senador.
As máquinas não suportaram tantas mensagens de protesto. É sabido que este método de protesto é infrutífero. Os senadores não precisam ter acesso direto aos e-mails, que são lidos por assessores. E, a prática é simples: aperta-se a tecla “selecionar tudo” e, em seguida, a tecla “delete”. Pronto. Sem polícia, sem violência e sem transtornos. As vias públicas ficam liberadas, os políticos tranqüilos e o povo sem respostas.
A solução do protesto virtual vem se juntar ao namoro no chat e à traição conjugal sem conseqüências para a família. Hoje é possível acompanhar os movimentos dentro de casa através de câmeras ligadas ao computador. É assim que muitos crimes são desvendados, muitos desaparecidos são localizados, e, também, muitas contas bancárias são violadas. É o mundo moderno, e ninguém, em sã consciência, se colocará contrariamente à evolução.
O que nos deixa perplexos é a desunião na defesa do interesse público. A população brasileira está inerte e voltada para seus problemas pessoais. Os que possuem condições financeiras se confinam em suas fortalezas, e os pobres se amedrontam com a violência urbana e, também, se curvam à força dos marginais que dominam as comunidades e as periferias das cidades.
Mesmo quando a criminalidade e a violência quase destroem a vida dos cidadãos de bem, eles se sentem impotentes para exigir das autoridades a proteção policial e programas sociais que minimizam as agruras. Se as autoridades instalarem computadores nas comunidades e na periferia, nenhum cidadão terá motivação para protestar pessoalmente contra os descalabros dos governos e governantes que se homiziam nos palácios cercados de segurança e se movimentam em viaturas, aviões e vagões blindados e com vidros escuros. Os protestos virtuais chegarão e serão deletados.
*Paulo Castelo Branco é advogado, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e autor dos livros Brasília 2030 – a reconstrução, A morte de JK e A poeira dos dias.
Um comentário:
Pragmatismo puro!
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