terça-feira, 9 de junho de 2009

MINC; O PT, E A QUESTÃO DO MEIO AMBIENTE

Paulo Moura
Desde a década de 1970 até os dias de hoje, evoluiu muito o nível de informação da sociedade mundial sobre a questão da preservação do meio ambiente. De um movimento social de características marginais, que contava com apoio restrito em setores de classe média e no meio acadêmico, o ambientalismo foi, aos poucos, conquistando os corações e as mentes das pessoas, e, a partir daí, ganhou amplos espaços institucionais, seja no âmbito da sociedade, das empresas, da mídia, do mundo da política e do Estado.

No início, o preconceito marcava a ótica das empresas, assim como dos sindicatos e partidos – especialmente os de esquerda - sobre a questão ecológica. Na visão contábil estreita dos paradigmas teóricos da economia no século passado, o custo ambiental não era levado em consideração para a formação dos preços e, em geral, as empresas não gostavam dos ambientalistas. Empresários e sindicalistas viam nos ecologistas um fator de pressão pela elevação dos custos em função da necessidade de investimentos na recuperação ou preservação do ambiente, que a produção nos moldes antigos gerava.

Muita gente ainda não assimilou essa compreensão. Os sindicatos não gostavam dos ambientalistas, pois viam na elevação dos custos de produção e dos preços dos produtos daí decorrente, um fator de desaquecimento da economia, e, conseqüentemente, de restrição à geração de empregos. Além dessa visão obtusa, os partidos de esquerda, em geral ligados à luta sindical, agregavam outro preconceito à forma como viam os ambientalistas. A luta pela preservação do meio ambiente era vista como um passa-tempo romântico de jovens desocupados.

Quem participou do surgimento e ascensão do movimento ambientalista no Brasil nos anos 1970 e durante a década de 1980, sabe do que se está falando. Segmentos do movimento ambientalista brasileiro tentaram aproximar o PT de sua causa, oportunizando visitas de deputados do Partido Verde alemão ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, então presidido por Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, e da própria direção nacional do PT. Na diplomacia tudo se passava como se as simpatias fossem recíprocas. Pura hipocrisia.

Foi com o crescimento dos Verdes em âmbito mundial, e com o surgimento de Chico Mendes, um “sindicalista-ambientalista”, que as coisas mudaram um pouco. Hoje em dia, como o ambientalismo ganhou a simpatia das amplas maiorias sociais; empresas; sindicatos e partidos viram-se obrigados a mudar sua postura em relação à questão ambiental. Atualmente, são raras as grandes empresas do setor industrial, entidades civis representativas, partidos e governos que não tenham suas políticas ambientais. Alguns mudaram e abraçaram a causa por assimilarem sinceramente a compreensão correta de que a preservação do meio ambiente é essencial à sustentabilidade da vida no planeta. Outros mudaram, seja no meio empresarial, seja no meio sindical ou político, por razões de mercado. Isto é, como as maiorias acham a questão ambiental relevante, é uma questão de sobrevivência política ou econômica dar importância ou transparecer que se dá importância à ecologia.

Hoje, o conceito de sustentabilidade é estratégico para o desenvolvimento de empresas e nações. Ele envolve algo mais complexo do que a preservação do meio ambiente apenas, como em geral é compreendido. Trata-se de aprender a sobreviver numa sociedade que se articula como rede distribuída e na qual a mudança constante e veloz é ingrediente intrínseco à dinâmica dos processos sociais, econômicos, políticos e culturais. É nesse contexto que a aceitação da ideia de que é impossível controlar a natureza vai sendo, gradativamente, substituída pela ideia de que é preciso aprender a conviver em harmonia com ela. Isso muda a concepção paradigmática que se tem da ciência, e também, da gestão da economia, das empresas e das políticas públicas em geral. Numa sociedade capitalista a preservação do maior ambiente pode ser uma atividade lucrativa, além de essencial à sobrevivência dos negócios e da sociedade em geral. No momento em que os empreendedores entenderem isso, andaremos a passos largos na direção da preservação da natureza.

No entanto, assim como há inúmeras empresas que usam o marketing ecológico como fraude para encobrir práticas que, de fato, não incorporaram o paradigma ecológico à sua visão da economia e da produção, há partidos políticos que fazem o mesmo. No caso dos partidos, a adesão se dá por mera questão de captação de votos no mercado político, sem que, de fato, essas agremiações dêem a devida importância à questão ambiental em sua visão de mundo, em seus programas de governo e em suas práticas cotidianas. Esse é o caso do PT.

Não se está aqui a defender uma visão fundamentalista e religiosa do ambientalismo. Hoje em dia, todas as religiões e correntes de pensamento político têm os seus “xiitas”. O fundamentalismo sempre existiu, mas hoje ele é mais uma das tantas doenças sociais da pós-modernidade. O debate sobre os transgênicos foi emblemático no sentido de mostrar até onde pode ir o “xiitismo” ambientalista no Brasil. Mas foi, também, extremamente educativo no sentido de comprovar até onde vai a “devoção” do PT à causa ambiental.

Em meio à tempestade de informações contraditórias que a mídia divulga sobre os benefícios e malefícios simultâneos de determinados produtos de consumo, só resta entregar à sorte o destino da nossa saúde. A guerra de marketing entre fabricantes de produtos alimentícios, farmacêuticos, de combustíveis e outros, converteu em pseudonotícia o que é, de fato, “jornalanda”. Isto é, propaganda disfarçada de jornalismo científico. Se fosse possível, o ideal seria somente consumir produtos naturais. Mas, vá saber o que é realmente natural nas prateleiras dos supermercados?

O debate mundial sobre biocombustíveis é notório caso de guerra de lobbies na mídia. O debate sobre aquecimento global, idem. Poucos sabem que há uma corrente de cientistas boicotada pela mídia e pelas agências de financiamento de pesquisa, que afirma que o aquecimento atual tem causas naturais e cíclicas. Enquanto isso, muita gente ganha audiência, votos e dinheiro fazendo estardalhaço em sentido contrário. Quem tem razão? Não dá para saber. Pode-se escolher um lado, mas ao fazê-lo, se estará agindo com se escolhe um time de futebol para torcer.

Ouvindo-se especialistas, por exemplo, aprende-se que não há transgênicos em geral. As conclusões da ciência se aplicam exclusivamente a cada produto pesquisado. Caso a caso. Aprende-se, também, que as conclusões a que a Ciência já chegou são sobre os efeitos de curto prazo dos transgênicos, alguns comprovadamente inofensivos, se considerados os efeitos sobre a saúde humana no espaço de tempo em que as pesquisas foram realizadas. Não há resultados sobre os efeitos de longo prazo, simplesmente por que não há prazo suficiente transcorrido entre a criação dos produtos e seu consumo prolongado. Conseqüentemente, ainda não sabemos qual o efeito potencial do consumo prolongado da maioria dos produtos geneticamente modificados. Assim como também não sabemos os efeitos do consumo prolongado de Coca-Cola, água mineral engarrafada, açúcar refinado, água encanada e tratada (?), margarina, salsichas, etc.

Dessa maneira, a atitude mais sensata e inteligente é incentivar a continuidade das pesquisas, pois estão em jogo, além de questões estratégicas sobre o futuro da economia das nações, a alimentação da humanidade e a extinção da fome no mundo nos próximos anos. Assim, rotular os produtos com selos de identificação, de forma a que o consumidor possa escolher livremente, sobre o risco que assume correr, é solução no mínimo sensata.

Politizar e ideologizar a questão dos transgênicos, nessas circunstâncias - como de resto quaisquer questões relacionadas à ecologia - é algo que somente interessa aos fundamentalistas românticos, aos políticos mal intencionados, interessados em manipular eleitoralmente a desinformação ou a ingenuidade dos incautos. Na juventude, o romantismo e a ingenuidade são méritos. Depois de certa idade, é indicador de falta de experiência; ou de inteligência.

A aproximação do PT com o ambientalismo se viabilizou por motivos eleitoreiros. E, foi facilitada por Chico Mendes, cujo discurso articulava, de forma coerente, a questão da preservação do meio ambiente com as questões ligadas à sobrevivência econômica, dos trabalhadores extrativistas, autoproclamados “povos da floresta”, organizados num movimento de repercussão internacional que proporcionou a ascensão política da ministra do Meio Ambiente.

A combativa senadora Marina Silva foi às lágrimas ante a opção da cúpula do governo do qual participava e segue defendendo, pelo pragmatismo econômico em detrimento das posições dos ecologistas com relação à edição da MP dos transgênicos. Pragmáticos na garantia do faturamento das exportações de soja e de olho no potencial opositor do próspero setor do agronegócio, como possível obstáculo à reeleição de Lula, o Palácio do Planalto cedeu às pressões dos produtores rurais. Com isso, abriu sérias arestas com os ambientalistas, a ponto de quase, já naquela época, demitir-se a ministra do Meio Ambiente, um verdadeiro ícone internacional do movimento. Imaginem-se as pressões que levaram a sua demissão agora.

De olho na penetração eleitoral dos ambientalistas; e sempre preocupados com sua imagem perante a opinião pública nacional e internacional, os petistas resolveram compensar os ecologistas, nomeando Carlos Minc, um “verde pragmático”, para substituir Marina Silva.

Minc é rápido. Percebeu a armadilha e tratou de virar a trajetória da bala para o atirador. Por que Marina Silva caiu? Obviamente porque contrariava interesses que, quem a substituiu espera que o novo ministro não contrarie mais. Se não, porque mudar de ministro? As circunstâncias são evidentes, ainda que Minc se recuse a vestir a carapuça de alguém que veio para desbloquear o que a ex-ministra barrava.

Fernando Gabeira, um legítimo franco atirador da política brasileira, que jamais poderá ser acusado de falta de inteligência ou de falta de senso de oportunidade, e cujos compromissos com a causa ambiental são insuspeitos, errou depois de velho ao imaginar que o PT não era o que é. Mas teve o suficiente desprendimento de cair fora do governo ao perceber o erro, certamente por descobrir quais são os verdadeiros compromissos do PT com a causa da ecologia. Muitos de seus companheiros do PV seguem no governo e aliados do PT. Com o tempo aprenderão o que Gabeira já aprendeu. E o que, talvez, Marina Silva esteja aprendendo.

Carlos Minc que se cuide. Chegou sua vez de enfrentar essa contradição. O PAC enpacou. Governo e produtores rurais, por razões distintas, querem dobrar a espinha de Minc. Chegou a hora da verdade. Ou Lula apóia Minc, ou prioriza seus interesses eleitorais.
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