sexta-feira, 17 de abril de 2009

Ditabranda e ditadura

Escrito por Gilvan Rocha
14-Abr-2009


O Golpe de Estado de 1964, no Brasil, apesar de ter sido o episódio histórico talvez de maior importância na nossa história recente, nunca foi discutido da forma devida. Pouco se escreveu e esse pouco tem se revelado de péssima qualidade ou plenamente insuficiente, na medida em que se atém à seqüência de fatos, sem, contudo, analisar a natureza do golpe.

Ora, o Golpe de 1964 teve dois momentos. No primeiro instante ele ficou nos limites do bonapartismo, ou seja, foi uma medida de força em nome de todas as facções da burguesia para afastar o perigo de uma insurreição popular, visto que a crescente radicalização das massas trabalhadoras começava a fugir do controle das direções nacionais reformistas, representadas especialmente pelo PCB e PTB, e o exemplo de Cuba, onde um movimento de caráter nacionalista e reformista, sob a bandeira do "pátria ou morte venceremos", por força das massas trabalhadoras, transformou-se numa revolução anticapitalista. O que não era do propósito dos seus românticos dirigentes.

O primeiro momento do golpe tinha aos olhos da burguesia um caráter cirúrgico e logo se voltaria para a ordem democrática burguesa, ou seja, para o festejado Estado de direito. Esse era o acordo entre as partes. Mas, com a retomada do movimento de massas, fossem os estudantes e suas passeatas, fossem os metalúrgicos de Osasco e Contagem, fossem as greves dos bancários em Porto Alegre, Guanabara e Fortaleza, causou-se medo às classes dominantes e a extrema direita se aproveitou do momento para perpetrar um golpe dentro do golpe com o Ato Institucional número 5, em 1968. Assim, tivemos uma "ditabranda" na primeira fase, onde os casos de tortura se circunscreveram ao Recife e à Guanabara; e a partir de 1968 tivemos uma ditaduríssima, particularmente no governo do senhor Garrastazu Médici, de triste memória.

Ao invés de nos escandalizarmos com os rótulos, ditadura e ditabranda, convinha nos escandalizar com o fato de "esquerda" e direita, num pacto silencioso, buscarem pôr uma pedra sobre esse episódio que, se elucidado, muito poderia auxiliar em nossa caminhada.

Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos - CAEP.
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COMENTÁRIO:
"Laguardia disse...
Realmente, até hoje não vi nenhum relato isento sobre o movimento de 1964.Geralmente temos relatos apaixonados da esquerda e da extrema direita apixonados, sem a devida isenção.A verdade é que havia, pelo menos no princípio, amplo apoio popular ao moviemnto militar. Não podemos nos esquecer que João Goulard tinha sido eleito vic-presidente e não era do mesmo partido de Janio Quadros, eleito com ampla vantagem eleitoral. Jango pertencia a chapa do General Lott.Logo depois de deposto Jango foi substituido pelo presidente da Camara dos Deputados Ranieri Mazzili (se não me falha a memória), tendo o congresso depois eleito o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco para assumir a presidência da República.A idéia de Castelo Branco era de ao final de seu mandato realizar eleições livres, que era o que o povo esperava.Na época havia dois candidatos fortes. Um JK, que era muito popular, havia construído Brasilia e era, a meu ver na época o preferido dos eleitores, e Carlos Lacerda, goveernador do Estado da Guanabara.Uma linha dura do exercito, liderada por Costa e Silva mudou o rumo da história.Até hoje busco alguma publicação que conte a história deste período com isenção."

Um comentário:

Laguardia disse...

Realmente, até hoje não vi nenhum relato isento sobre o movimento de 1964.

Geralmente temos relatos apaixonados da esquerda e da extrema direita apixonados, sem a devida isenção.

A verdade é que havia, pelo menos no princípio, amplo apoio popular ao moviemnto militar. Não podemos nos esquecer que João Goulard tinha sido eleito vic-presidente e não era do mesmo partido de Janio Quadros, eleito com ampla vantagem eleitoral. Jango pertencia a chapa do General Lott.

Logo depois de deposto Jango foi substituido pelo presidente da Camara dos Deputados Ranieri Mazzili (se não me falha a memória), tendo o congresso depois eleito o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco para assumir a presidência da República.

A idéia de Castelo Branco era de ao final de seu mandato realizar eleições livres, que era o que o povo esperava.

Na época havia dois candidatos fortes. Um JK, que era muito popular, havia construído Brasilia e era, a meu ver na época o preferido dos eleitores, e Carlos Lacerda, goveernador do Estado da Guanabara.

Uma linha dura do exercito, liderada por Costa e Silva mudou o rumo da história.

Até hoje busco alguma publicação que conte a história deste período com isenção.