Raymundo Araujo Filho
15-Abr-2009
Tenho, e já há bastante tempo, denunciado uma velha tática jornalística, hoje muito usada pelo que chamo de jornalismo lulo-petista.
O estratagema consiste na "eleição" de adversários com opiniões insustentáveis, para fazer com que Lula e seu esquema político mantenham, aos olhos da opinião pública, uma fachada "popular" de "apoio aos pobres" etc. Chamo isso de Refração Ilusória à Esquerda ou, de forma mais coloquial, "a transformação da discussão política em um Fla-Flu", isto é, o abandono das divergências conceituais (tática de jogo e estratégias a serem alcançadas) pela simples disputa de poder por grupos antagônicos. É mais ou menos o que se sucede nesta política Fla-Flu que denuncio.
Enquanto isso, o chamado jornalismo lulo-petista faz bonito, combatendo com artigos e bravatas os generais e direitistas saudosos da ditadura que hoje, decrépitos, reúnem-se em eventos comemorativos à quartelada de 64. Mas, contraditoriamente, este mesmo jornalismo adesista limita-se a criticar os representantes deste segmento que têm lugar (e de destaque) no governo Lula, que apóiam. Criticam o Jobim e o Edson Lobão, mas não quem os nomeou e os mantém no governo.
E ainda, "por falta de espaço na agenda", deixam de responder às críticas à esquerda que lhes são feitas. Querem dar a impressão de que o Lula e sua base aliada de "esquerda" (menos de 10% do total) configuram-se como uma espécie de Rubicão, delimitando o que é esquerda e direita.
É este pequeno exército de jornalistas lulo-petistas que abarrotam a mídia, notadamente a alternativa e internética (listas, jornais virtuais, blogs políticos etc.), com artigos, nos quais tergiversam a realidade, escolhendo as Vejas, Organizações Globo, RBS, Grupo Folha, entre outros, como se estivessem em campos ideológicos, e de projetos para o país, antagônicos.
Quando, na verdade, a esta altura do campeonato, penso estar claro que é muito mais uma briga de quadrilhas econômicas e políticas que estão jogando pela conquista do aparelho político e de Estado. Todas as forças deste combate são hegemônicas ou neoliberais radicais, ou reformistas do capitalismo quando muito. Talvez por acharem que é preciso mais miséria para a criação da tal "contradição visível às massas".
Mas todos os Rubicões deságuam no mar. E não seria diferente no Brasil, onde o Amazonas, o São Francisco, o Paraíba, o Uruguai deságuam no mesmo mar, o Atlântico.
Recentemente, com a agudização da fragilidade do (ou falta de) projeto do governo Lula, são necessárias mais e mais concessões, não só no campo econômico, mas também no político.
Para gerir esta "crise" de acumulação de capital, etapa prevista pelo assalto neoliberal iniciado há 25 anos, Lula precisou tomar todas as medidas de transferência direta do erário para as economias privadas. Tudo em nome da tal estabilidade. Esta ação integrada com os patrões do primeiro mundo culmina com o empréstimo "chic" para o FMI de 5% de nosso sofrido e injusto superávit primário. Enquanto isso, reduz a carga de impostos (dinheiro para a coletividade) para facilitar e abaixar o custo das empreiteiras e que tais, nesta farsa midiática do PAC da Habitação. Enquanto remédios, passagens (não as de avião) e comida aumentam a olhos (e bolsos!) vistos. Fora a exposição do fiasco das estradas, transportes de massa, hospitais públicos e serviços básicos, privatizados, ineficientes e caríssimos.
O aplauso da mídia corporativa tão combatida pelo jornalismo lulo-petista foi total. O comentarista econômico da Rede Globo e a representante das corporações nesta Organização do Cidadão Kane brasileiro pessoalmente manifestaram-se de acordo e saudaram a "solidez" da economia brasileira.
Esta mesma mídia, tão combatida pelo jornalismo lulo-petista, omitiu da opinião pública não só a notícia em destaque, mas também análises e contradições de importantes medidas deste governo que temos. Uma foi a sanção da lei que entrega para as mineradoras e companhias de energia elétrica as cavernas brasileiras e todo o patrimônio histórico-cultural, material e estratégico que elas podem representar. Nem um pio deram, em total anuência a tamanho absurdo. E os lulo-petistas também calaram.
Outra omissão gravíssima diz respeito à Lei do Gás, sancionada em março e quase que totalmente omitida pela grande mídia - e silenciada convenientemente pelos bocas-tortas da adesão, de plantão vigilante para poderem omitir-se. Este decreto presidencial, em resumo, privatiza os gasodutos, impõe que o gás a ser industrializado na refinaria Abreu e Lima virá da Nigéria, onde é explorado pela anglo-saxônica (olhos azuis) da Brittish Oil e transportado por navios da própria. E todos calados, os Al e os Capones.
Agora vemos a união quase que carnal entre o PT, Lula e a Veja no caso Daniel Dantas, onde, após a senha dada por José Dirceu, "denunciando" ser perseguido pelo Protógenes Queiroz, fez com que este delegado da PF fosse abandonado não só pelo governo que lhe tinha encomendado a ação, mas pelos petistas e que tais que ainda o apoiavam. É que a reentrada de José Dirceu oficialmente nas hostes petistas e governistas, a meu ver, pode ter tido este preço. Afinal, com o disse o próprio Lulla, "aqui não tem santos". E os jornalistas lulo-petistas continuam calados.
Poderia citar a completa paralisação da Reforma Agrária abandonada por Lula, e que sequer fez arrefecer a sanha vingativa dos latifundiários e representantes do agronegócio contra o MST - que, agora, ensaiando críticas um pouco mais fortes (mas sem rompimento) ao Lula, está sendo jogado à própria sorte.
Assim, vai entortando a boca (e a caneta-teclado) dos membros desta confraria que chamo de jornalismo lulo-petista, cada vez mais parecido com a tal mídia corporativa que tanto dizem combater. A boca torta já está igual. E a capacidade do silêncio-omissão também.
Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e especialista em perceber os boca-torta-por-uso-do-cachimbo-adesista.
15-Abr-2009
Tenho, e já há bastante tempo, denunciado uma velha tática jornalística, hoje muito usada pelo que chamo de jornalismo lulo-petista.
O estratagema consiste na "eleição" de adversários com opiniões insustentáveis, para fazer com que Lula e seu esquema político mantenham, aos olhos da opinião pública, uma fachada "popular" de "apoio aos pobres" etc. Chamo isso de Refração Ilusória à Esquerda ou, de forma mais coloquial, "a transformação da discussão política em um Fla-Flu", isto é, o abandono das divergências conceituais (tática de jogo e estratégias a serem alcançadas) pela simples disputa de poder por grupos antagônicos. É mais ou menos o que se sucede nesta política Fla-Flu que denuncio.
Enquanto isso, o chamado jornalismo lulo-petista faz bonito, combatendo com artigos e bravatas os generais e direitistas saudosos da ditadura que hoje, decrépitos, reúnem-se em eventos comemorativos à quartelada de 64. Mas, contraditoriamente, este mesmo jornalismo adesista limita-se a criticar os representantes deste segmento que têm lugar (e de destaque) no governo Lula, que apóiam. Criticam o Jobim e o Edson Lobão, mas não quem os nomeou e os mantém no governo.
E ainda, "por falta de espaço na agenda", deixam de responder às críticas à esquerda que lhes são feitas. Querem dar a impressão de que o Lula e sua base aliada de "esquerda" (menos de 10% do total) configuram-se como uma espécie de Rubicão, delimitando o que é esquerda e direita.
É este pequeno exército de jornalistas lulo-petistas que abarrotam a mídia, notadamente a alternativa e internética (listas, jornais virtuais, blogs políticos etc.), com artigos, nos quais tergiversam a realidade, escolhendo as Vejas, Organizações Globo, RBS, Grupo Folha, entre outros, como se estivessem em campos ideológicos, e de projetos para o país, antagônicos.
Quando, na verdade, a esta altura do campeonato, penso estar claro que é muito mais uma briga de quadrilhas econômicas e políticas que estão jogando pela conquista do aparelho político e de Estado. Todas as forças deste combate são hegemônicas ou neoliberais radicais, ou reformistas do capitalismo quando muito. Talvez por acharem que é preciso mais miséria para a criação da tal "contradição visível às massas".
Mas todos os Rubicões deságuam no mar. E não seria diferente no Brasil, onde o Amazonas, o São Francisco, o Paraíba, o Uruguai deságuam no mesmo mar, o Atlântico.
Recentemente, com a agudização da fragilidade do (ou falta de) projeto do governo Lula, são necessárias mais e mais concessões, não só no campo econômico, mas também no político.
Para gerir esta "crise" de acumulação de capital, etapa prevista pelo assalto neoliberal iniciado há 25 anos, Lula precisou tomar todas as medidas de transferência direta do erário para as economias privadas. Tudo em nome da tal estabilidade. Esta ação integrada com os patrões do primeiro mundo culmina com o empréstimo "chic" para o FMI de 5% de nosso sofrido e injusto superávit primário. Enquanto isso, reduz a carga de impostos (dinheiro para a coletividade) para facilitar e abaixar o custo das empreiteiras e que tais, nesta farsa midiática do PAC da Habitação. Enquanto remédios, passagens (não as de avião) e comida aumentam a olhos (e bolsos!) vistos. Fora a exposição do fiasco das estradas, transportes de massa, hospitais públicos e serviços básicos, privatizados, ineficientes e caríssimos.
O aplauso da mídia corporativa tão combatida pelo jornalismo lulo-petista foi total. O comentarista econômico da Rede Globo e a representante das corporações nesta Organização do Cidadão Kane brasileiro pessoalmente manifestaram-se de acordo e saudaram a "solidez" da economia brasileira.
Esta mesma mídia, tão combatida pelo jornalismo lulo-petista, omitiu da opinião pública não só a notícia em destaque, mas também análises e contradições de importantes medidas deste governo que temos. Uma foi a sanção da lei que entrega para as mineradoras e companhias de energia elétrica as cavernas brasileiras e todo o patrimônio histórico-cultural, material e estratégico que elas podem representar. Nem um pio deram, em total anuência a tamanho absurdo. E os lulo-petistas também calaram.
Outra omissão gravíssima diz respeito à Lei do Gás, sancionada em março e quase que totalmente omitida pela grande mídia - e silenciada convenientemente pelos bocas-tortas da adesão, de plantão vigilante para poderem omitir-se. Este decreto presidencial, em resumo, privatiza os gasodutos, impõe que o gás a ser industrializado na refinaria Abreu e Lima virá da Nigéria, onde é explorado pela anglo-saxônica (olhos azuis) da Brittish Oil e transportado por navios da própria. E todos calados, os Al e os Capones.
Agora vemos a união quase que carnal entre o PT, Lula e a Veja no caso Daniel Dantas, onde, após a senha dada por José Dirceu, "denunciando" ser perseguido pelo Protógenes Queiroz, fez com que este delegado da PF fosse abandonado não só pelo governo que lhe tinha encomendado a ação, mas pelos petistas e que tais que ainda o apoiavam. É que a reentrada de José Dirceu oficialmente nas hostes petistas e governistas, a meu ver, pode ter tido este preço. Afinal, com o disse o próprio Lulla, "aqui não tem santos". E os jornalistas lulo-petistas continuam calados.
Poderia citar a completa paralisação da Reforma Agrária abandonada por Lula, e que sequer fez arrefecer a sanha vingativa dos latifundiários e representantes do agronegócio contra o MST - que, agora, ensaiando críticas um pouco mais fortes (mas sem rompimento) ao Lula, está sendo jogado à própria sorte.
Assim, vai entortando a boca (e a caneta-teclado) dos membros desta confraria que chamo de jornalismo lulo-petista, cada vez mais parecido com a tal mídia corporativa que tanto dizem combater. A boca torta já está igual. E a capacidade do silêncio-omissão também.
Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e especialista em perceber os boca-torta-por-uso-do-cachimbo-adesista.
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