segunda-feira, 2 de junho de 2008

EDUCAÇÃO DE VITRINE

A bandeira da qualidade de ensino é levantada, constantemente, por muita gente (educadora ou não), por este “Brasilzão” de meu Deus... Porém, parece que a concepção de qualidade de educação tem entendimentos distintos nos diferentes poderes que nós elegemos.

Para uns, um ensino de qualidade resume-se em disponibilizar livros didáticos. Isso, depois de reunir os professores a fim de realizarem a escolha que quase nunca é respeitada... Até hoje, em nenhuma das escolas públicas por onde passei, tive a felicidade de receber o livro didático escolhido pela equipe.

Aliás, o corpo docente raramente é consultado para as principais escolhas da escola: material e livro didático, aplicação do orçamento; e a principal delas: o diretor escolar, que sempre é nomeado de cima para baixo, buscando os interesses de quem está no poder, desprezando toda uma equipe que merece ter a chance de escolher seu chefe imediato. Seria perfeitamente normal, num país democrático que a democracia começasse dentro dos educandários públicos, afinal, na maioria dos PPPs (Projeto Político Pedagógico) das escolas encontram-se frases muito bem construídas remetendo para a tal “educação para a cidadania”.

Para outros, os “descentralizados”, a qualidade de ensino resume-se em obras faraônicas, amplas, modernas, grandiosas... E ocas... Isso mesmo!... Grandes cascas verdes e vazias!... Vazias de material didático satisfatório e de equipamentos suficientes para manter laboratórios e cursos técnicos oferecidos “a toque de caixa”.

Obras que desrespeitam os padrões de estrutura e segurança necessários na comunidade em que foram construídas, obrigando professores e funcionários a fazerem “milagres” com o pouco (ou nenhum) material que lhes é fornecido, além de conviverem com a indignação da comunidade escolar e a depredação criminosa... Estas obras são lindas e maravilhosas por fora, no entanto, o interior está lastimável. Mas isso não tem a menor importância, pois na verdade, só servem de vitrine para a politicagem mesmo.

Ainda têm aqueles crentes que a educação de qualidade se dá através de lindos e inúteis portais, que na verdade, de lindo não têm nada, já que se encontram incompletos e até ocupam parte do muro que é derrubada e substituída por uma prótese de chapa de compensado, dessas usadas em caixaria nas construções.

Por último, porém não menos importantes, merecem destaque aqueles que insistem na idéia de que a qualidade do ensino público se resume em duzentos dias letivos por ano, dando preferência infinitamente maior à quantidade.

Desta forma, pode se concluir que, para melhorar a educação é necessário, inegavelmente, investimentos generosos em livros didáticos de qualidade, em construção e melhorias de escolas públicas. Porém, isso não basta e de nada vale quando não há um investimento pesado no conhecimento e formação de alunos e professores, equipamentos para laboratórios, e valorização dos profissionais da Educação... E principalmente, quando não se consulta, nem se respeita a vontade dos principais envolvidos no processo ensino-aprendizagem: A comunidade escolar, composta por corpo docente, discente, administrativo e demais funcionários, além dos pais e familiares... De nada adianta investir na vitrine, se o interior revela-se falho e contraditório.

Márcio Roberto Goes
Professor e escritor

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