sexta-feira, 27 de junho de 2008

Preparem-se para uma campanha política espetacular

William Waack
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Barack Obama pode parecer jovem para ser candidato à presidência dos Estados Unidos, mas quem escreveu uma autobiografia aos 33 de idade, como ele fez, parece ter o suficiente de maturidade. “Dreams of my Father” é um documento bastante expressivo de quem passou a maior parte da adolescência tentando entender quem é, e que aos 27 considera-se pronto para a vida. E permanece, na definição brilhante do New York Times, um homem “capaz de encantar quem gosta dele e inescrutável para os críticos”.

Jamais subestime Obama, como o fez Hillary Clinton, e jamais subestime seu adversário republicano, John McCain, um herói de guerra mais durão, resistente, leal e corajoso do que qualquer personagem de filmes épicos. Obama e McCain são donos de lições políticas importantes, especialmente a da capacidade de sobreviver e agarrar-se a uma perspectiva. Mas nos Estados Unidos de hoje, talvez a história de vida de Obama seja capaz de convencer melhor o eleitorado.

Obama é considerado um fenômeno político, dizem sociólogos americanos, muito mais pelas transformações pelas quais a sociedade americana está passando. São transformações profundas trazidas por imigrantes e negros e, na figura de Obama, argumentam alguns, concentra-se a noção de um tipo de “justiça”. Essa não é, evidentemente, uma categoria com a qual se pode operar com segurança nas previsões eleitorais. Mas é uma categoria política no seu sentido mais amplo.

O inescrutável em Obama, conforme assinalam seus críticos, é saber exatamente o que ele quer. Alguns dos perfis políticos e psicológicos de Obama (como o excelente “The Conciliator”, de Larissa MacFarquhar, publicado no “New Yorker” de 7 de maio de 2007) mostram uma personalidade que abandonou a indignação e o protesto em favor, quase sempre, da conciliação e da harmonia. Isso se traduz em que, quando se pensa no Iraque? Ou em que propostas, quando se pensa na rodada de Doha? Ou na política de imigração?

De novo, aqui os amigos de Obama preferem assinalar seu papel histórico, ou melhor, o papel histórico daquilo que ele representa. Nesse sentido, não são tão importantes, para o julgamento da figura, aquilo que ele diz ou até faz mas, sim, aquilo que cristalizou em sua biografia política e através de sua biografia social. É um ponto interessante para sociólogos, antropólogos e cientistas políticos, mas vai dar trabalho a jornalistas e diplomatas, os que mais se interessam em prever o que pode acontecer no curto prazo.

O Jornal da Globo do dia em que Obama agarrou a nomeação democrata (foi nesta última terça, 3 de junho) começou dizendo aos telespectadores que se preparem para uma campanha política espetacular. Aqui, porém, cabe uma nota de cautela. Não esperem um duelo entre mocinho e bandido no estilo dos melhores faroestes americanos. A escolha entre Obama e McCain não é entre direita e esquerda, entre o bem e o mal, entre o progresso e o atraso, entre o liberal e o conservador.

É uma formidável manifestação de um país que reencontra algumas de suas melhores tradições – entre elas a da tolerância, a da liberdade do indivíduo, a da oportunidade garantida a todos – trucidadas para quase uma década de bushismo. Até McCain reconhece isso.

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