Desde as "Diretas, já", de 1984, não me lembro de gente na rua gritando "Fora Exército" e jogando pedras em soldados. Mas é o que está ocorrendo no morro da Providência, no Rio, onde um tenente, três sargentos e sete soldados entregaram três rapazes, de 17, 19 e 24 anos, para serem torturados e mortos por uma quadrilha de traficantes de um morro rival.
Uma ação bárbara, brutal e acima de tudo covarde. O tenente Vinícius Ghidetti, de 25 anos, estava mal-humorado e tinha prendido os rapazes por supor que havia "um volume" debaixo da roupa de um deles que sugeria uma arma. Não havia arma nenhuma, o rapaz deve ter se exasperado e o tenente mudou o alvo da ira. Não era mais o "volume", passou a ser o "desacato".
Por causa disso, os três foram levados para o morro vizinho, da Mineira, e entregues de bandeja para assassinos armados. Certamente, o tenente não achava que os traficantes iriam fazer apenas um carinho nas vítimas, e os corpos dos rapazes foram encontrados como lixo num aterro sanitário. Foi ou não crime premeditado?
A ação desencadeou uma série de reações em Brasília, onde se pergunta (sabendo a resposta), por que o Planalto determinou a participação do Exército no projeto "Cimento Social", de recuperação de casas, se não havia precedente de uma ação militar assim, num local assim?
Fontes extra-oficiais do Exército tentam jogar a culpa para o Planalto e a Defesa, dizendo que a Força era contra a sua participação no projeto e prevaleceu o interesse político, já que o autor da idéia foi o senador e bispo da Universal Marcelo Crivella (PRB), candidato à Prefeitura do Rio e aliado do governo federal.
Mas isso é apenas uma parte da história, sobre entrar ou não no morro. Uma outra parte é que a Aman, casa de excelência do Exército, formou um oficial capaz de desdenhar da ordem do superior e de cometer um crime absurdo como esse, junto com 10 outros homens da Força. Que tipo de formação é essa? Quantos outros tenentes assim estão dando ordens por aí?
Depois de 20 anos de esforços para limpar a imagem de truculência durante a ditadura militar, os oficiais de várias patentes estão desolados com o episódio no Rio. Dizem que "uma andorinha só não faz verão". Ok. Um soldado só não compromete toda uma instituição.
Mas o fato é que o tenente e sua turma são responsáveis pela tortura, desaparecimento e morte de três cidadãos, inclusive um menor, que estavam desarmados e sob a tutela do Estado. E isso remete para as mais profundas cicatrizes da alma do Exército Brasileiro.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.
Uma ação bárbara, brutal e acima de tudo covarde. O tenente Vinícius Ghidetti, de 25 anos, estava mal-humorado e tinha prendido os rapazes por supor que havia "um volume" debaixo da roupa de um deles que sugeria uma arma. Não havia arma nenhuma, o rapaz deve ter se exasperado e o tenente mudou o alvo da ira. Não era mais o "volume", passou a ser o "desacato".
Por causa disso, os três foram levados para o morro vizinho, da Mineira, e entregues de bandeja para assassinos armados. Certamente, o tenente não achava que os traficantes iriam fazer apenas um carinho nas vítimas, e os corpos dos rapazes foram encontrados como lixo num aterro sanitário. Foi ou não crime premeditado?
A ação desencadeou uma série de reações em Brasília, onde se pergunta (sabendo a resposta), por que o Planalto determinou a participação do Exército no projeto "Cimento Social", de recuperação de casas, se não havia precedente de uma ação militar assim, num local assim?
Fontes extra-oficiais do Exército tentam jogar a culpa para o Planalto e a Defesa, dizendo que a Força era contra a sua participação no projeto e prevaleceu o interesse político, já que o autor da idéia foi o senador e bispo da Universal Marcelo Crivella (PRB), candidato à Prefeitura do Rio e aliado do governo federal.
Mas isso é apenas uma parte da história, sobre entrar ou não no morro. Uma outra parte é que a Aman, casa de excelência do Exército, formou um oficial capaz de desdenhar da ordem do superior e de cometer um crime absurdo como esse, junto com 10 outros homens da Força. Que tipo de formação é essa? Quantos outros tenentes assim estão dando ordens por aí?
Depois de 20 anos de esforços para limpar a imagem de truculência durante a ditadura militar, os oficiais de várias patentes estão desolados com o episódio no Rio. Dizem que "uma andorinha só não faz verão". Ok. Um soldado só não compromete toda uma instituição.
Mas o fato é que o tenente e sua turma são responsáveis pela tortura, desaparecimento e morte de três cidadãos, inclusive um menor, que estavam desarmados e sob a tutela do Estado. E isso remete para as mais profundas cicatrizes da alma do Exército Brasileiro.
Eliane Cantanhêde é colunista da Folha, desde 1997, e comenta governos, política interna e externa, defesa, área social e comportamento. Foi colunista do Jornal do Brasil e do Estado de S. Paulo, além de diretora de redação das sucursais de O Globo, Gazeta Mercantil e da própria Folha em Brasília.
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