Aproveite essa maravilhosa invenção humana, o calendário, o tempo dividido em fatias, para renascer em hábitos e projetos. Para ser melhor como ser humano. Contrarie uma certa biologia que diz que, individualistas, somos bichinhos feitos para competir e engolir os semelhantes, e não para a cooperação, para a fraternura, para a amorosidade. Ao virar a página de 2007, rebele-se contra tudo que está programado como mera festa e coloque no lugar do previsto a fé, a novidade de verdade, o sabor do que virá. Ao invés de buscar as ciências do inexplorado e as previsões do futuro, beba na fonte das tradições dos povos mais antigos, onde a sabedoria tem valor.
Comece o ano com o ensinamento dos índios Aymara, que vivem há séculos na região andina banhada pelo lago Titicaca. Eles aprenderam com a vida e sua mística que a Paz mais duradoura e plena – luz de Deus em nós – só é encontrada na combinação de sete outras, com as quais temos que... fazer as pazes!
Neste 2008, meu parceiro, faça as pazes consigo mesmo, com seu corpo, com sua mente: busque um dia-a-dia saudável, sem cigarro, comilança e sedentarismo, amanhecido entre o bem espreguiçar e o bom dia a dar, com sinceridade, a todos. Faça também as pazes com seus antepassados, com os que já partiram, e cujas qualidades você tem o dever de continuar, para que a dolorosa saudade dos amados que se foram não seja vã: eles agora transvivem em outro plano mas continuam em nós. Faça as pazes também com o que passou de vez, para que esse passado superado não more em você como preocupação, ressentimento, remorso, dívida pesada – a cada dia basta o seu presente de cruz e luz.
Faça as pazes com o futuro, tão negado pela sociedade de consumo, que nos quer prisioneiros do imediato comprável: acredite num outro mundo possível, numa sociedade de iguais, num tempo de cuidados com o planeta e sem injustiças sociais. Faça as pazes com o seu próximo, mais valioso que qualquer pedra preciosa, e perceba-o em sua existência como o mais profundo sentido dela: o céu são os outros, ser humano algum é uma ilha, “quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém”. Faça as pazes, para tanto, com o mais próximo dos próximos, que é o seu vizinho ou parente, aquele que toca o seu cotidiano e testa, sendo outro, o seu proclamado amor pela humanidade: doar-se ao geral sem saber conviver com o particular – servindo e cobrando – é mentira a cores, é discurso vazio. Por fim, faça as pazes com nossa casa comum, a Terra, com os maltratados caminhos por onde seus pés pisam. Lembre-se que o planeta está doente e que cada gesto seu, plantando uma árvore, reciclando o lixo, rejeitando o desperdício, retirando os excessos sonoros, ajuda este paciente que nós mesmos envenenamos a recuperar sua saúde, para o bem de todos nós.
Com tudo isso, que é tão pouco pelo benefício que proporciona, eu nem precisaria ser convencional, mas como o Senhor Tempo indica, em novidade de caderno em branco e livro não lido, Feliz 2008, amigo, e muita Paz, amiga!
OBS: a tradição da paz Aymara foi divulgada pelo senador e professor Cristóvam Buarque - O Globo, 22/12/07
Comece o ano com o ensinamento dos índios Aymara, que vivem há séculos na região andina banhada pelo lago Titicaca. Eles aprenderam com a vida e sua mística que a Paz mais duradoura e plena – luz de Deus em nós – só é encontrada na combinação de sete outras, com as quais temos que... fazer as pazes!
Neste 2008, meu parceiro, faça as pazes consigo mesmo, com seu corpo, com sua mente: busque um dia-a-dia saudável, sem cigarro, comilança e sedentarismo, amanhecido entre o bem espreguiçar e o bom dia a dar, com sinceridade, a todos. Faça também as pazes com seus antepassados, com os que já partiram, e cujas qualidades você tem o dever de continuar, para que a dolorosa saudade dos amados que se foram não seja vã: eles agora transvivem em outro plano mas continuam em nós. Faça as pazes também com o que passou de vez, para que esse passado superado não more em você como preocupação, ressentimento, remorso, dívida pesada – a cada dia basta o seu presente de cruz e luz.
Faça as pazes com o futuro, tão negado pela sociedade de consumo, que nos quer prisioneiros do imediato comprável: acredite num outro mundo possível, numa sociedade de iguais, num tempo de cuidados com o planeta e sem injustiças sociais. Faça as pazes com o seu próximo, mais valioso que qualquer pedra preciosa, e perceba-o em sua existência como o mais profundo sentido dela: o céu são os outros, ser humano algum é uma ilha, “quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém”. Faça as pazes, para tanto, com o mais próximo dos próximos, que é o seu vizinho ou parente, aquele que toca o seu cotidiano e testa, sendo outro, o seu proclamado amor pela humanidade: doar-se ao geral sem saber conviver com o particular – servindo e cobrando – é mentira a cores, é discurso vazio. Por fim, faça as pazes com nossa casa comum, a Terra, com os maltratados caminhos por onde seus pés pisam. Lembre-se que o planeta está doente e que cada gesto seu, plantando uma árvore, reciclando o lixo, rejeitando o desperdício, retirando os excessos sonoros, ajuda este paciente que nós mesmos envenenamos a recuperar sua saúde, para o bem de todos nós.
Com tudo isso, que é tão pouco pelo benefício que proporciona, eu nem precisaria ser convencional, mas como o Senhor Tempo indica, em novidade de caderno em branco e livro não lido, Feliz 2008, amigo, e muita Paz, amiga!
OBS: a tradição da paz Aymara foi divulgada pelo senador e professor Cristóvam Buarque - O Globo, 22/12/07
Chico Alencar
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