O novo ministro do Meio Ambiente estreou sua metralhadora verbal com ataques à soja. Como é politicamente esperto, escolheu a soja em vez do etanol, menina dos olhos do presidente da República. Vai longe, esse ministro
Por Alon Feuerwerker
alon.feuerwerker@correioweb.com.br
A chanceler Angela Merkel veio ao Brasil e, entre outros assuntos relevantes da relação bilateral, manifestou interesse e preocupação quanto ao meio ambiente brasileiro. Espero que alguém graduado, de preferência o presidente da República, tenha agradecido à líder alemã pela atenção. Espero também que alguma voz do governo brasileiro tenha dito a ela que nós gostaríamos de usar como referência, para o debate, os conhecidos cuidados que os alemães vêm dispensando, historicamente, aos ecossistemas teutônicos.
Se você enxergou ironia na minha afirmação, errou. Deveríamos copiar os alemães, por exemplo, no aproveitamento dos rios. Para produzir eletricidade e para navegação. Os habitantes do país de Merkel acharam uma solução única para ambos os desafios. Construíram barragens e canais de passagem em todos os pontos possíveis de seus grandes rios. Também por isso o Reno transformou-se no grande eixo de prosperidade do país mais rico e desenvolvido da Europa continental. Todo embarreirado, ele desce de escada dos Alpes rumo a Rotterdam, na Holanda, num paradigma de como a sujeição da natureza pode servir adequadamente à civilização.
Angela Merkel e seus colegas de governo em Berlim poderiam, portanto, ajudar-nos a enfrentar os lobbies que apresentam cada construção de barragem no Brasil como um prefácio do fim do mundo. Infelizmente, é também com dinheiro alemão, pintado de verde, que os pobres brasileiros são mobilizados contra o progresso. Merkel deveria fazer-nos o favor de reunir as organizações não governamentais e igrejas de influência alemã no Brasil para explicar-lhes que o que foi bom para a Alemanha chegar aonde chegou talvez seja também conveniente para que, algum dia, o Brasil possa oferecer aos brasileiros um padrão de vida parecido com o de que já desfrutam os alemães.
Com rios mais navegáveis, passaríamos a entregar ao mundo soja mais barata, já que ela não precisaria percorrer enormes distâncias sobre caminhões que trafegam em estradas precárias. Líderes em soja, poderíamos assim ajudar a pressionar para baixo os preços globais, dando uma contribuição decisiva na luta contra a inflação dos alimentos. Talvez os americanos não gostem dessa nossa iniciativa, pois a navegabilidade dos rios dos Estados Unidos entre os Grandes Lagos e o Atlântico é hoje uma vantagem competitiva e tanto. Daí que os Estados Unidos também manifestem a todo momento preocupações, digamos, ambientais com a possibilidade de exploração do potencial hídrico da Bacia Amazônica.
E daí? Os americanos torceram o nariz quando a Alemanha, ainda nos anos 70, ofereceu-se como parceira do Brasil no desenvolvimento de energia termelétrica de fonte nuclear. Um dia, os Estados Unidos haverão de compreender que nosso desejo mais profundo é copiá-los em tudo. Inclusive no patriotismo. O bom dos governos americanos é que eles pensam sempre em primeiro lugar nos interesses dos Estados Unidos. Lá atrás, Luiz Inácio Lula da Silva notou isso muito bem. Então sejamos patriotas. Transformemos nossos rios em rotas contínuas de navegação, desenvolvamos nossa infra-estrutura nuclear e, como alemães e americanos, aproveitemos cada pedaço de terra fértil para produzir.
O novo ministro do Meio Ambiente, o que quando achou que não seria mais convidado apressou-se em dizer que não aceitaria um convite, mas que acabou aceitando, estreou sua metralhadora verbal com ataques à soja. Sujeito politicamente esperto, escolheu a soja em vez do etanol, menina dos olhos do presidente da República. Vai longe, esse ministro. Desconfio que vamos sentir saudades de Marina Silva, mulher que sempre combate de frente e não faz concessões à demagogia, nem mesmo quando está errada.
Mas a vida segue. Caberá a Carlos Minc protagonizar doravante o lobby do etanol brasileiro junto aos mercados mais sensíveis, como a Alemanha de Angela Merkel. Aparentemente, Marina Silva resistia a engrossar o coro dos que juram que ocupar as melhores terras brasileiras com cana não trará quaisquer danos, sociais ou ambientais. Vamos ver como o novo ministro se sai na tarefa de emprestar sua grife ambientalista a Lula para essa operação propagandística.
Por Alon Feuerwerker
alon.feuerwerker@correioweb.com.br
A chanceler Angela Merkel veio ao Brasil e, entre outros assuntos relevantes da relação bilateral, manifestou interesse e preocupação quanto ao meio ambiente brasileiro. Espero que alguém graduado, de preferência o presidente da República, tenha agradecido à líder alemã pela atenção. Espero também que alguma voz do governo brasileiro tenha dito a ela que nós gostaríamos de usar como referência, para o debate, os conhecidos cuidados que os alemães vêm dispensando, historicamente, aos ecossistemas teutônicos.
Se você enxergou ironia na minha afirmação, errou. Deveríamos copiar os alemães, por exemplo, no aproveitamento dos rios. Para produzir eletricidade e para navegação. Os habitantes do país de Merkel acharam uma solução única para ambos os desafios. Construíram barragens e canais de passagem em todos os pontos possíveis de seus grandes rios. Também por isso o Reno transformou-se no grande eixo de prosperidade do país mais rico e desenvolvido da Europa continental. Todo embarreirado, ele desce de escada dos Alpes rumo a Rotterdam, na Holanda, num paradigma de como a sujeição da natureza pode servir adequadamente à civilização.
Angela Merkel e seus colegas de governo em Berlim poderiam, portanto, ajudar-nos a enfrentar os lobbies que apresentam cada construção de barragem no Brasil como um prefácio do fim do mundo. Infelizmente, é também com dinheiro alemão, pintado de verde, que os pobres brasileiros são mobilizados contra o progresso. Merkel deveria fazer-nos o favor de reunir as organizações não governamentais e igrejas de influência alemã no Brasil para explicar-lhes que o que foi bom para a Alemanha chegar aonde chegou talvez seja também conveniente para que, algum dia, o Brasil possa oferecer aos brasileiros um padrão de vida parecido com o de que já desfrutam os alemães.
Com rios mais navegáveis, passaríamos a entregar ao mundo soja mais barata, já que ela não precisaria percorrer enormes distâncias sobre caminhões que trafegam em estradas precárias. Líderes em soja, poderíamos assim ajudar a pressionar para baixo os preços globais, dando uma contribuição decisiva na luta contra a inflação dos alimentos. Talvez os americanos não gostem dessa nossa iniciativa, pois a navegabilidade dos rios dos Estados Unidos entre os Grandes Lagos e o Atlântico é hoje uma vantagem competitiva e tanto. Daí que os Estados Unidos também manifestem a todo momento preocupações, digamos, ambientais com a possibilidade de exploração do potencial hídrico da Bacia Amazônica.
E daí? Os americanos torceram o nariz quando a Alemanha, ainda nos anos 70, ofereceu-se como parceira do Brasil no desenvolvimento de energia termelétrica de fonte nuclear. Um dia, os Estados Unidos haverão de compreender que nosso desejo mais profundo é copiá-los em tudo. Inclusive no patriotismo. O bom dos governos americanos é que eles pensam sempre em primeiro lugar nos interesses dos Estados Unidos. Lá atrás, Luiz Inácio Lula da Silva notou isso muito bem. Então sejamos patriotas. Transformemos nossos rios em rotas contínuas de navegação, desenvolvamos nossa infra-estrutura nuclear e, como alemães e americanos, aproveitemos cada pedaço de terra fértil para produzir.
O novo ministro do Meio Ambiente, o que quando achou que não seria mais convidado apressou-se em dizer que não aceitaria um convite, mas que acabou aceitando, estreou sua metralhadora verbal com ataques à soja. Sujeito politicamente esperto, escolheu a soja em vez do etanol, menina dos olhos do presidente da República. Vai longe, esse ministro. Desconfio que vamos sentir saudades de Marina Silva, mulher que sempre combate de frente e não faz concessões à demagogia, nem mesmo quando está errada.
Mas a vida segue. Caberá a Carlos Minc protagonizar doravante o lobby do etanol brasileiro junto aos mercados mais sensíveis, como a Alemanha de Angela Merkel. Aparentemente, Marina Silva resistia a engrossar o coro dos que juram que ocupar as melhores terras brasileiras com cana não trará quaisquer danos, sociais ou ambientais. Vamos ver como o novo ministro se sai na tarefa de emprestar sua grife ambientalista a Lula para essa operação propagandística.
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