quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Com cara de fim de feira

Augusto Nunes
Terminado o primeiro mandato, o presidente Lula inaugurou a reconstrução do Brasil Antigo ─ retoques, adereços embelezadores e demais complementos seriam providenciados até dezembro de 2010. No meio do segundo, inaugurou a exploração do pré-sal e declarou inaugurado o Brasil do Futuro. Só ficou faltando a transposição das águas do Rio São Francisco, problema liquidado no ano passado: durante a visita a canteiros de obras imaginários, o cara inaugurou a ideia de deixar para os próximos presidentes o cumprimento da promessa de D. Pedro II.

Tudo resolvido, avisou que no último ano da Era Lula o Brasil voaria nas asas do PAC rumo ao clube das potências. É verdade que dois terços das obras (federais, estaduais e municipais) prometidas em 2007 nunca saíram do papel. Também é verdade que o dinheiro supostamente liberado nunca chega ao destino. Mas a campanha eleitoral começou, e agora as coisas andariam.

Embora o país continue o mesmo, é compreensível que milhões de brasileiros tenham festejado o reveillón à espera do mais espetacular cortejo de inaugurações desde 1500. Continuam esperando, avisa o balanço de janeiro ─ reduzido a 15 dias porque nos restantes Lula e o isopor estavam na praia. O mês começou com a inauguração da pedra fundamental de uma refinaria da Petrobras no Maranhão. Pedras fundamentais sempre foram lançadas, nunca inauguradas ─ e sem tambores nem clarins. Inaugurar pedra fundamental é como inaugurar planta de prédio. Neste janeiro, o governo institucionalizou a inauguração do nada.

O mês que começou bisonho não vai terminar melhor. Na segunda-feira, a comitiva presidencial passou por por São Paulo e inaugurou outro PAC, seguiu para o Rio e inaugurou uma creche. Coisa rotineira em qualquer lugarejo, inauguração de creche dura menos de meia hora, tempo suficiente para o descerramento da placa, meia dúzia de palavras do prefeito e o agradecimento de um o parente do homenageado. Nesta semana, pela primeira vez a inauguração de uma creche foi estrelada pelo presidente da República e transformada pelos oradores em marca de estadista.

O prefeito Eduardo Paes decidiu no meio do falatório que Sérgio Cabral é o maior governador da história do Rio. Cabral decidiu que Mãe do PAC é pouco, e promoveu Dilma Rousseff a Rainha do PAC. Os três repetiram que nunca houve um presidente como Lula, que achou os elogios muito merecidos e prometeu voltar assim que pudesse. Para inaugurar uma creche, para inaugurar uma pedra fundamental ou para inaugurar o lançamento de outro PAC. Só em janeiro lançou o da Copa, o da Olimpíada e, há dias, o PAC das Enchentes. Generoso, quer permitir que o prefeito Gilberto Kassab faça em São Paulo o que o governo federal não faz no resto do Brasil, sobretudo em Santa Catarina.

O que há com Lula que não inaugura nada à altura do maior dos governantes desde Tomé de Souza? Não é possível que todas as hidrelétricas do PAC tenham sido paralisadas por bagres sabotadores. Nem que todas as rodovias em construção no papelório na bolsa de Dilma Rousseff estejam sob o domínio das pererecas terroristas. Alguma obra de bom tamanho deve estar pronta para o comício de praxe. Vale qualquer hospital que tenha escapado da lupa do Tribunal de Contas. Vale até cadeia de segurança máxima prometida em 2003.

A inauguração de miudezas vai engrossando a suspeita de que o PAC é apenas a maior das mentiras de Dilma. E começa a deixar este fim de governo com cara de fim de feira.

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