sábado, 30 de janeiro de 2010

O futebol da política (21/01)

Do Blog do Alon:
A vantagem do PT é a confiança transmitida pelo técnico. Já no outro vestiário, diferente das temporadas anteriores, a ordem é ganhar ou ganhar

O ano começou quente, com as primeiras escaramuças entre PT e PSDB. O forte do petismo nesta largada eleitoral é a disciplina tática. O roteiro está bem assimilado e o time toca de ouvido. O meia nem precisa olhar para lançar: ele sabe que o atacante estará, como dizia o Capitão Coutinho, no ponto futuro. Entre os tucanos, assoma a disposição de luta, uma novidade em relação às últimas duas campanhas presidenciais.

É quase inacreditável, mas desta vez o grupo da oposição parece estar mesmo unido, fechado em torno do objetivo.

Equipe bem-treinada, comandada pelo melhor técnico do país, o PT vem sendo mais eficiente nos primeiros minutos de jogo. O PSDB deu o pontapé inicial e foi para o ataque, em entrevista do presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE). Ele disse que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) é em boa medida ficção, e deve acabar. Disse ainda que, se for eleito, o candidato tucano vai corrigir o câmbio, para dar competitividade às exportações brasileiras e gerar mais empregos.

Fechadinho lá atrás, o PT retomou a bola e contra-atacou. A candidata Dilma Rousseff ganhou de graça o discurso “eles querem acabar com o PAC” e não desperdiçou a deixa. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, pediu aos tucanos que esclareçam como e quanto mexeriam no câmbio — um assunto sempre delicado, especialmente por causa da inflação. E o presidente da sigla, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), acusou os adversários de “descontrolados”, antes de desafiar para o “debate programático”. Na prancheta do petismo, isso significa emparedar o PSDB na defesa do governo de Fernando Henrique Cardoso. Uma situação de jogo muito temida no vestiário da oposição.

Mas o placar continua zero a zero, com as torcidas ainda sob o impacto do resultado de outra partida, no Chile, onde o time favorito, que tinha tudo para ganhar, perdeu. Futebol é mesmo 11 contra 11, e quando menos se espera confirma a velha imagem da caixinha de surpresas.

A vantagem do PT é a confiança transmitida pelo técnico. Ele sempre foi um profissional respeitado, mas carregava alguma fama de pé-frio. Como acontecia com outro sujeito só aparentemente simplório, o Telê Santana. Depois que o professor Luiz Inácio Lula da Silva colocou duas vezes a mão na taça, as gozações, muito comuns nesse esporte, ficaram para trás. Agora o problema é outro, diametralmente oposto: o “já ganhou”. Nas entrevistas, até que os jogadores petistas dizem respeitar o adversário, mas quem conhece futebol, e frequenta o ambiente da concentração, anda com a pulga atrás da orelha.

Até porque no outro vestiário a ordem é ganhar ou ganhar. Nas temporadas anteriores houve muito estrelismo, aquela coisa de um time ter craques mas não render dentro de campo. Muita gente jogando só com o nome, com as glórias passadas. Embaixadinha em treino. Uma estrela recusando passar a bola para a outra. Fofocas e cornetagens à vontade. Jogador procurando jornalista para falar mal do companheiro. Coisa feia.

Agora mudou. Por quê? Se o desafiante amargar mais um fracasso, o terceiro consecutivo, os patrocinadores ameaçam cair fora, antecipando a aposentadoria de uma parte dos jogadores do PSDB e do Democratas, e obrigando outros a buscar um lugarzinho no banco de reservas do adversário. Ou então recomeçar do zero, talvez indo para um time pequeno. Ou mesmo para a segunda divisão. Situação chata para ex-campeões.

Falta só definir o plano de jogo, a tática. Na oposição existe quem defenda que o ataque agora é a melhor defesa, porque o adversário não é lá essas coisas. As vitórias recentes do PT? Sorte, facilitada pelas desavenças no outro vestiário. Mas há também os gatos escaldados, que preferem a estratégia da segurança, pois a partida está só no começo, ela dura 90 minutos, fora os acréscimos, e vai acabar apenas no apito final do juiz.

Será um jogo legal de ver, com audiência recorde garantida. Quem gosta de futebol certamente vai apreciar o espetáculo. Já quem é torcedor muito fanático vai ter que cuidar do estômago e, principalmente, do coração.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quinta (21) no Correio Braziliense.

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