Léo Lince
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou a véspera do dia de finados para exercitar a sua condição anfíbia de sociólogo e político. O resultado foi o seguinte: aquele “tijolaço” que ele publica regularmente nos grandes jornais e ninguém lê, a não ser os que se obrigam a fazê-lo por dever de ofício, desta vez despertou interesse e até repercutiu entre alguns formadores de opinião. Um petardo político de duvidosa função.
A vantagem do anfíbio, Deus é justo, se atenua sempre na inevitável contrapartida: transita por distintos terrenos, mas com destreza diminuída em qualquer deles. As formulações desarticuladas do sociólogo sobre o “autoritarismo popular”, o “subperonismo”, o “poder burocrático-corporativo”, embora exponham (expressão usada por Elio Gaspari) “aspectos sombrios do poder petista”, não fecha o circuito de uma analise sociológica digna deste nome. Por outro lado, a iniciativa do político produziu um artefato pode ter sido um tiro de festim.
Ao confrontar dois trechos do artigo em pauta, qualquer cidadão percebe o impasse essencial do mal chamado “oposicionismo” tucano. Nas últimas linhas do primeiro parágrafo se afirma que: “tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior (do próprio FHC) e ainda por cima melhorou muita coisa”. Sendo assim, porque questionar os pequenos desvios? Ele próprio responde: “cada pequena transgressão, cada desvio vai se acumulando até desfigurar o original”. Os termos que realçamos em negrito contraditam a espantosa conclamação final: “termino dizendo que é mais do que tempo dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde”.
É claro que, depois da introdução marcada pelo mal disfarçado orgulho de quem procura evitar a desfiguração do “original”, o “basta ao continuísmo” soa inteiramente falso. Quem exalta o continuísmo e, ato contínuo, pede com ênfase um “basta” antes que seja tarde ao mesmo continuísmo, francamente, pede para não ser levado a sério. Tudo o que foi dito entre uma coisa e outra, mesmo que corresponda a fragmentos reveladores do esquema dominante, perde inteiramente o sentido.
Na realidade, Fernando Henrique e Lula, por uma série de fatores que só a vida pode reunir, se tornaram expressões distintas de um mesmo padrão de política. A mesma macroeconomia, a mesma nanopolítica, a mesma mixórdia nas alianças, a mesma lambança na governança, os mesmos dutos de financiamentos de campanha. O que eles disputam na verdade, como já declarou em outra ocasião o mesmo sociólogo, é quem hegemonizará o atraso e, portanto, será melhor operador do modelo dominante.
Um conceito do arsenal freudiano, que o saudoso Hélio Pelegrino usava para definir os intermináveis embates no interior da esquerda brasileira, talvez se aplique também para o simulacro de grossa desavença entre tucanos e lulistas. Oriundos da antiga esquerda e defensores do mesmo projeto, eles precisam demarcar campo na disputa eleitoral e, logo, ensaiam brigas animadas pelo narcisismo das pequenas diferenças.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou a véspera do dia de finados para exercitar a sua condição anfíbia de sociólogo e político. O resultado foi o seguinte: aquele “tijolaço” que ele publica regularmente nos grandes jornais e ninguém lê, a não ser os que se obrigam a fazê-lo por dever de ofício, desta vez despertou interesse e até repercutiu entre alguns formadores de opinião. Um petardo político de duvidosa função.
A vantagem do anfíbio, Deus é justo, se atenua sempre na inevitável contrapartida: transita por distintos terrenos, mas com destreza diminuída em qualquer deles. As formulações desarticuladas do sociólogo sobre o “autoritarismo popular”, o “subperonismo”, o “poder burocrático-corporativo”, embora exponham (expressão usada por Elio Gaspari) “aspectos sombrios do poder petista”, não fecha o circuito de uma analise sociológica digna deste nome. Por outro lado, a iniciativa do político produziu um artefato pode ter sido um tiro de festim.
Ao confrontar dois trechos do artigo em pauta, qualquer cidadão percebe o impasse essencial do mal chamado “oposicionismo” tucano. Nas últimas linhas do primeiro parágrafo se afirma que: “tornou-se habitual dizer que o governo Lula deu continuidade ao que de bom foi feito pelo governo anterior (do próprio FHC) e ainda por cima melhorou muita coisa”. Sendo assim, porque questionar os pequenos desvios? Ele próprio responde: “cada pequena transgressão, cada desvio vai se acumulando até desfigurar o original”. Os termos que realçamos em negrito contraditam a espantosa conclamação final: “termino dizendo que é mais do que tempo dar um basta ao continuísmo antes que seja tarde”.
É claro que, depois da introdução marcada pelo mal disfarçado orgulho de quem procura evitar a desfiguração do “original”, o “basta ao continuísmo” soa inteiramente falso. Quem exalta o continuísmo e, ato contínuo, pede com ênfase um “basta” antes que seja tarde ao mesmo continuísmo, francamente, pede para não ser levado a sério. Tudo o que foi dito entre uma coisa e outra, mesmo que corresponda a fragmentos reveladores do esquema dominante, perde inteiramente o sentido.
Na realidade, Fernando Henrique e Lula, por uma série de fatores que só a vida pode reunir, se tornaram expressões distintas de um mesmo padrão de política. A mesma macroeconomia, a mesma nanopolítica, a mesma mixórdia nas alianças, a mesma lambança na governança, os mesmos dutos de financiamentos de campanha. O que eles disputam na verdade, como já declarou em outra ocasião o mesmo sociólogo, é quem hegemonizará o atraso e, portanto, será melhor operador do modelo dominante.
Um conceito do arsenal freudiano, que o saudoso Hélio Pelegrino usava para definir os intermináveis embates no interior da esquerda brasileira, talvez se aplique também para o simulacro de grossa desavença entre tucanos e lulistas. Oriundos da antiga esquerda e defensores do mesmo projeto, eles precisam demarcar campo na disputa eleitoral e, logo, ensaiam brigas animadas pelo narcisismo das pequenas diferenças.
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