Carlos Tautz-
Vencedor, Lula já mostrou que é – mesmo antes de ter liderado a campanha pelas Olimpíadas no Rio em 2016.
Em 2003, demonstrou ser ambicioso, ao propor a exportação para o restante do planeta do seu Fome Zero.
Mas, se realmente tiver visão histórica e 500 mil réis de coragem, Lula decide que o Brasil assumirá metas grandiosas de redução de gases causadores do efeito estufa (GEE) e demandará que os Estados Unidos, a Europa e a China também o façam.
Uma ação deste tipo por parte do Brasil é uma das poucas ações capazes de levar o mundo a reduzir suas emissões. É a grande chance do planeta – e de Lula também.
Essa equação, porém, esbarra em dois limites: 1 – Lula não dá a menor bola para a questão ambiental; e 2 – Ele concorda com o modelo econômico de exploração intensiva de recursos naturais vigente no Brasil.
É este modelo, consolidado em grandes projetos vinculados às demandas do mercado externo, que induzem o desmatamento e as queimadas, fonte da ampla maioria dos GEE totais que fazem do Brasil um dos maiores emissores da atualidade.
Apesar de seus limites individuais, Lula tem um senso afinado de oportunidade.
Se por mais não for, apenas esse tirocínio já deveria levá-lo a se interessar pela questão climática.
Até porque, nas pré-negociações da CoP15, que agora ocorrem em Bangkok, na Tailândia, os Estados Unidos, central nesse problema por ser o maior emissor, voltaram a criar dificuldades para avançar no Protocolo de Kyoto 2 (Kyoto 1 vence em 2012).
Os diplomatas brasileiros têm a obrigação de dizer com todas as letras ao mandatário brasileiro que aí está a oportunidade de projetar o Brasil em nível global.
Se ainda não alertaram o presidente, devem fazê-lo correndo, porque estamos a pouco tempo da CoP15, a conferência dos países signatários da Convenção do Clima, que ocorre de 7 a 18 de dezembro em Copenhague, Dinamarca.
É de lá que sairá o novo regime de emissões que irá vigorar a partir de 2012.
Pelo fato de ser grande emissor (como EUA e China), mas não ter atualmente obrigação de reduzir suas emissões (é considerado um país ainda em desenvolvimento, como China e Índia), o Brasil transita com facilidade entre o grupo dos grades emissores ricos e dos grandes emissores pobres.
Além disso, a burocracia do Itamaraty conseguiu alguns dos postos centrais das negociações da CoP15 e tem capacidade inclusive de colocar em pauta temas polêmicos.
Por todas essas características, o Brasil é um ator principal na trama do clima.
De grandes empresários a ambientalistas, todos vêm dizendo isso ao governo e solicitando que o Brasil se entregue de corpo e alma às negociações de Copenhague, porque lá podem se definir medidas que levarão ou n ão o planeta a aquecer nas próximas décadas.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da ONU, estimam que precisamos reduzir em 40% as emissões totais nos próximos anos, ao nível de 1990, para que o aumento médio da temperatura do planeta não ultrapasse os 2oC.
Mas, poucos países têm concordado com essas metas.
A Noruega, grande produtor de petróleo, exemplo para o Brasil no marco institucional do pré-sal, concorda com os 40%.
A União Européia empacou nos 20% e os EUA em Bangkok voltaram a ser intransigentes e não falam mais em metas.
Lula não se pauta na questão do clima pela xadrez internacional. O que define sua postura autista em relação a esse problema são as relações internas que o Estado brasileiro mantém com os maiores agentes indutores do desmatamento.
Foi sob seu governo que o BNDES resolveu ser sócio dos megafrigoríficos Friboi, Marfrig e Bertin, que estão entre os maiores indutores do desmatamento por comprarem gado criado irregularmente em terra desmatada.
A chave para a cobrança está aí. O presidente somente será constrangido a assumir o protagonismo do clima em nível internacional se houver o rebatimento interno.
Carlos Tautz é jornalista
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