Papai Noel se adaptou aos tempos perversos e reuniu em seu depósito da Lapônia os “presentes” que o mundo lhe encomendara, em cartinhas que pediam de tudo — de assassinatos a fraudes, de latrocínios a peculatos, de golpes de Estado a golpes de esperteza.
A todas o velhinho leu e atendeu, menos duas missivas terroristas, que continham pó de antraz.
O grande benfeitor trazia nas bochechas o conhecido tom “sanguíneo”, mas metade daquela cor, “carmim”, devia-se à vergonha com que se sentia obrigado a atender a tantos pedidos “aberrantes”.
Noel atravessou o Hemisfério Norte, só que no sentido Leste-Oeste, da Lapônia a Washington.
Seu trenó voador fez uma curva sobre o Pentágono, para identificação de prefixo — e teve autorização para descer nos jardins da Casa Branca.
Aquele Bonhomme, antigamente conhecido como “o bom velhinho”, não deixou de padecer de um certo constrangimento ao deixar o “presente” de Barack Obama na janela entreaberta do quarto presidencial.
Retirou do imenso saco de aniagem um objeto oval e peludo. A trilha sonora daquele momento bem que poderia ser a de Disque M para Matar, de Alfred Hitchcock, com Grace Kelly e Ray Milland.
Era a cabeça de Osama Bin Laden.
Nunca atendera antes a pedidos como aquele, mas o mundo mudara. E ele, que era um agente do Bem, tivera que se acostumar a satisfazer também os feitores do Mal. O próprio Bin Laden, antes de ser assassinado em Tora-Bora, Afeganistão, pedira-lhe por carta um souvenir igualmente macabro:
— Um pedaço das ruínas do World Trade Center...
Pensava-se que o bom velhinho fosse brasileiro. Mas não é. A Lapônia fica no Hemisfério Norte e, depois do GP Brasil de Fórmula-1, soube-se que Papai Noel é um pouco inglês. Viram o presente que ele deu ao Jenson Button? — claro, com a cumplicidade do Rubinho Barrichelo...
Quem diria: Papai Noel gosta de futebol e é torcedor da... Seleção Brasileira. Mas aceita pedidos de clubes. Uma cartinha “esportiva” chegou pedindo o Avaí na Libertadores. O bom velhinho prometeu estudar com simpatia, pois a combinação das cores azul e branca são os matizes do Céu, sua “fronteira de trabalho”, enquanto cruza o Cosmos com seu trenó de renas aladas. Além do mais, como bom demagogo, ele adora satisfazer “as massas”.
Das cartinhas que chegaram da Ilha de Santa Catarina, Papai Noel ainda tinha duas para responder.
Uma pedia o ascensão do Figueira para a Série A. Um pedido reconhecidamente impossível para este ano. Noel compra os brinquedinhos com dinheiro do próprio bolso, não é dinheiro público não. Mas milagres, o bom velhinho não faz. Para este ano, promete apenas o “possível”:
— Garanto à torcida alvinegra que o seu time não descerá aos infernos da Série C.
Já é alguma coisa, não é mesmo?
Outras cartinhas ainda surpreenderiam o velho distribuidor de regalos. Voltavam a pedir coisas “estranhas”, mas “politicamente corretas”:
— A cabeça de José Sarney e seus netinhos roedores.
— A eleição de “fichas limpas” na próxima eleição.
— Um verão de muito sol e uma seca saudável, sem, temporais — só um "regador" providencial. E nada de tornados e furacões.
— Uma viagem de volta ao mundo, tudo pago, e — milagre! — sem a utilização de dinheiro público. De carona no trenó do velhinho bondoso.
Fora esses pedidos — os esquisitos e os “comuns” — o velho Noel ainda carregava no saco um imenso rol de produtos de “linha”:
Bonecas, velocípedes, videogames, carrinhos, aviõezinhos, legos, shreks, dinos — e outros brinquedinhos, muito menos triviais do que os toscos presentes dos anos 1950. Havia até um livro eletrônico da Amazon — um “Kindle”.
Sinal de que nem tudo está perdido entre os jovens de 2009.
Sérgio da Costa Ramos
A todas o velhinho leu e atendeu, menos duas missivas terroristas, que continham pó de antraz.
O grande benfeitor trazia nas bochechas o conhecido tom “sanguíneo”, mas metade daquela cor, “carmim”, devia-se à vergonha com que se sentia obrigado a atender a tantos pedidos “aberrantes”.
Noel atravessou o Hemisfério Norte, só que no sentido Leste-Oeste, da Lapônia a Washington.
Seu trenó voador fez uma curva sobre o Pentágono, para identificação de prefixo — e teve autorização para descer nos jardins da Casa Branca.
Aquele Bonhomme, antigamente conhecido como “o bom velhinho”, não deixou de padecer de um certo constrangimento ao deixar o “presente” de Barack Obama na janela entreaberta do quarto presidencial.
Retirou do imenso saco de aniagem um objeto oval e peludo. A trilha sonora daquele momento bem que poderia ser a de Disque M para Matar, de Alfred Hitchcock, com Grace Kelly e Ray Milland.
Era a cabeça de Osama Bin Laden.
Nunca atendera antes a pedidos como aquele, mas o mundo mudara. E ele, que era um agente do Bem, tivera que se acostumar a satisfazer também os feitores do Mal. O próprio Bin Laden, antes de ser assassinado em Tora-Bora, Afeganistão, pedira-lhe por carta um souvenir igualmente macabro:
— Um pedaço das ruínas do World Trade Center...
Pensava-se que o bom velhinho fosse brasileiro. Mas não é. A Lapônia fica no Hemisfério Norte e, depois do GP Brasil de Fórmula-1, soube-se que Papai Noel é um pouco inglês. Viram o presente que ele deu ao Jenson Button? — claro, com a cumplicidade do Rubinho Barrichelo...
Quem diria: Papai Noel gosta de futebol e é torcedor da... Seleção Brasileira. Mas aceita pedidos de clubes. Uma cartinha “esportiva” chegou pedindo o Avaí na Libertadores. O bom velhinho prometeu estudar com simpatia, pois a combinação das cores azul e branca são os matizes do Céu, sua “fronteira de trabalho”, enquanto cruza o Cosmos com seu trenó de renas aladas. Além do mais, como bom demagogo, ele adora satisfazer “as massas”.
Das cartinhas que chegaram da Ilha de Santa Catarina, Papai Noel ainda tinha duas para responder.
Uma pedia o ascensão do Figueira para a Série A. Um pedido reconhecidamente impossível para este ano. Noel compra os brinquedinhos com dinheiro do próprio bolso, não é dinheiro público não. Mas milagres, o bom velhinho não faz. Para este ano, promete apenas o “possível”:
— Garanto à torcida alvinegra que o seu time não descerá aos infernos da Série C.
Já é alguma coisa, não é mesmo?
Outras cartinhas ainda surpreenderiam o velho distribuidor de regalos. Voltavam a pedir coisas “estranhas”, mas “politicamente corretas”:
— A cabeça de José Sarney e seus netinhos roedores.
— A eleição de “fichas limpas” na próxima eleição.
— Um verão de muito sol e uma seca saudável, sem, temporais — só um "regador" providencial. E nada de tornados e furacões.
— Uma viagem de volta ao mundo, tudo pago, e — milagre! — sem a utilização de dinheiro público. De carona no trenó do velhinho bondoso.
Fora esses pedidos — os esquisitos e os “comuns” — o velho Noel ainda carregava no saco um imenso rol de produtos de “linha”:
Bonecas, velocípedes, videogames, carrinhos, aviõezinhos, legos, shreks, dinos — e outros brinquedinhos, muito menos triviais do que os toscos presentes dos anos 1950. Havia até um livro eletrônico da Amazon — um “Kindle”.
Sinal de que nem tudo está perdido entre os jovens de 2009.
Sérgio da Costa Ramos
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