Tudo começou em Alagoas. Primeiro, foi a greve dos lixeiros. O lixo acumulado ateou odores por todo o país, misturando-se ao aroma pútrido que emanava da bagunça política.
A greve se alastrou e as grandes cidades brasileiras submergiram sob uma montanha de detritos, um fétido mar pastoso de onde se projetaram as pragas, os miasmas, as pestilências e pelo menos duas entrevistas do “velho” governador e imortal das Alagoas, o malsinado ex-presidente Fernando Collor:
— Não me deixem só com tanto lixo! — bradava, revivendo o bordão dos seus tempos de presidente.
O Sindicato dos Coveiros de Alagoas inaugurou uma greve insensata, recusando-se a enterrar um marajá local. A greve fúnebre logo se espalhou pelo país, contaminou todos os cemitérios e ganhou a adesão de todos os funcionários de campos santos.
O movimento paredista dos prefeitos, revoltados contra a avareza tributária da União, deixou acéfalos os governos municipais das capitais brasileiras. A insurreição foi liderado pelo prefeito de Maceió, que já não conseguia arrecadar impostos, pois também não pagava salários há mais de três anos.
O Sindicato dos Panificadores exigiu um aumento do pãozinho de 50 gramas em até 200%, com o que não concordaram as autoridades. Com a falta de farinha de trigo, o povo ficou sem pão, até que o governador respondeu aos seus reclamos:
— Comam brioches!
Os restaurantes fecharam suas portas por absoluta falta de clientes. Os odores que se desprendiam das montanhas de lixo penetravam pelas frestas das janelas, invadiam as cozinhas, os salões, as mesas e as narinas da freguesia. Algumas lanchonetes ainda mantiveram uma porta semiaberta, mas serviam apenas alimentos líquidos, como sucos, sopas de legumes ou caldos de carnes. Fregueses e funcionários usavam máscaras contra gases, sorvendo os alimentos através de providenciais canudinhos.
Em meio ao fedor geral e à escassez crescente, aumentou a incapacidade financeira do Estado, que já havia dilapidado toda a arrecadação do ano, através de “antecipações” plurianuais de receitas — uma espécie de “irresponsabilidade fiscal” explícita, que levou à falência do Tesouro.
Ávidos por novas fontes de arrecadação, os governadores lançaram um imposto sobre a fornicação em todos os motéis.
Houve passeatas e atos públicos contra o novo tributo, organizados pela ONG “Funk-Funk-Nheco-Nheco”.
Um eminente tributarista chegou à conclusão de que o novo imposto configurava caso específico de bitributação. Se o “fato gerador” era o “pernoite”, já estaria tipificada a dupla cobrança. Se, no entanto, o fato gerador residisse nas atividades ali desenvolvidas “durante” o pernoite, então, o imposto a pagar seria discutível, dependendo da capacidade de cada um dos fregueses em prolongar suas “retenções na fonte”.
O impasse fiscal acabou por depauperar os já combalidos cofres da “Viúva”, o que levou os Estados ao último degrau do caos absoluto: uma greve de governadores.
Um a um, os chefes de executivo foram cruzando os braços. Muitos viajaram para o exterior, o que não deixava de ser uma forma de greve “branca”. Uma forma “agradável” de fazer turismo com o dinheiro do erário.
Um dia, sentindo que a arrecadação já não dava para sustentar todos os gastos e os aumentos concedidos ao Legislativo e ao Judiciário, o próprio presidente da República decidiu iniciar uma greve. Um protesto contra o que chamou de “evasão fiscal”.
Foi a partir daquele momento dramático que começou a verdadeira redenção do país.
Sem governadores e sem um presidente para atrapalhar, o Brasil começou a prosperar e a ficar mais gordinho, mais corado, vivendo com muito mais ordem e muito mais progresso.
A greve dos poderes salvou o Brasil.
Sérgio da Costa Ramos
A greve se alastrou e as grandes cidades brasileiras submergiram sob uma montanha de detritos, um fétido mar pastoso de onde se projetaram as pragas, os miasmas, as pestilências e pelo menos duas entrevistas do “velho” governador e imortal das Alagoas, o malsinado ex-presidente Fernando Collor:
— Não me deixem só com tanto lixo! — bradava, revivendo o bordão dos seus tempos de presidente.
O Sindicato dos Coveiros de Alagoas inaugurou uma greve insensata, recusando-se a enterrar um marajá local. A greve fúnebre logo se espalhou pelo país, contaminou todos os cemitérios e ganhou a adesão de todos os funcionários de campos santos.
O movimento paredista dos prefeitos, revoltados contra a avareza tributária da União, deixou acéfalos os governos municipais das capitais brasileiras. A insurreição foi liderado pelo prefeito de Maceió, que já não conseguia arrecadar impostos, pois também não pagava salários há mais de três anos.
O Sindicato dos Panificadores exigiu um aumento do pãozinho de 50 gramas em até 200%, com o que não concordaram as autoridades. Com a falta de farinha de trigo, o povo ficou sem pão, até que o governador respondeu aos seus reclamos:
— Comam brioches!
Os restaurantes fecharam suas portas por absoluta falta de clientes. Os odores que se desprendiam das montanhas de lixo penetravam pelas frestas das janelas, invadiam as cozinhas, os salões, as mesas e as narinas da freguesia. Algumas lanchonetes ainda mantiveram uma porta semiaberta, mas serviam apenas alimentos líquidos, como sucos, sopas de legumes ou caldos de carnes. Fregueses e funcionários usavam máscaras contra gases, sorvendo os alimentos através de providenciais canudinhos.
Em meio ao fedor geral e à escassez crescente, aumentou a incapacidade financeira do Estado, que já havia dilapidado toda a arrecadação do ano, através de “antecipações” plurianuais de receitas — uma espécie de “irresponsabilidade fiscal” explícita, que levou à falência do Tesouro.
Ávidos por novas fontes de arrecadação, os governadores lançaram um imposto sobre a fornicação em todos os motéis.
Houve passeatas e atos públicos contra o novo tributo, organizados pela ONG “Funk-Funk-Nheco-Nheco”.
Um eminente tributarista chegou à conclusão de que o novo imposto configurava caso específico de bitributação. Se o “fato gerador” era o “pernoite”, já estaria tipificada a dupla cobrança. Se, no entanto, o fato gerador residisse nas atividades ali desenvolvidas “durante” o pernoite, então, o imposto a pagar seria discutível, dependendo da capacidade de cada um dos fregueses em prolongar suas “retenções na fonte”.
O impasse fiscal acabou por depauperar os já combalidos cofres da “Viúva”, o que levou os Estados ao último degrau do caos absoluto: uma greve de governadores.
Um a um, os chefes de executivo foram cruzando os braços. Muitos viajaram para o exterior, o que não deixava de ser uma forma de greve “branca”. Uma forma “agradável” de fazer turismo com o dinheiro do erário.
Um dia, sentindo que a arrecadação já não dava para sustentar todos os gastos e os aumentos concedidos ao Legislativo e ao Judiciário, o próprio presidente da República decidiu iniciar uma greve. Um protesto contra o que chamou de “evasão fiscal”.
Foi a partir daquele momento dramático que começou a verdadeira redenção do país.
Sem governadores e sem um presidente para atrapalhar, o Brasil começou a prosperar e a ficar mais gordinho, mais corado, vivendo com muito mais ordem e muito mais progresso.
A greve dos poderes salvou o Brasil.
Sérgio da Costa Ramos
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