sábado, 7 de junho de 2008

GOVERNO YEDA EM FRANGALHOS

por Paulo Moura
Ao longo da semana que passou já era possível sentir a mudança no clima da opinião pública e no meio político local em função da revelação das gravações dos grampos telefônicos captados pelas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público sobre o escândalo no DETRAN gaúcho.

Na Assembléia Legislativa deputados da base do governo que vinham barrando a convocação do Secretário Geral do governo Yeda, Delson Martini, para depor, mudaram de posição. A medida, já havia sido obstaculizada em seis tentativas da CPI de ouvir o auxiliar de confiança da governadora. Ao ouvirem nos grampos, o secretário de Yeda citado como mediador de interesses de um lobista ligado à arrecadação de fundos da campanha tucana junto aos operadores dos desvios no DETRAN-RS a situação mudou totalmente.

Em círculos bem informados da opinião pública, pessoas antes céticas com a condução da CPI despertaram a atenção para os fatos e passaram a ver como inevitável o envolvimento da governadora no escândalo, devido à proximidade dos envolvidos com seu círculo de relações pessoais. Nas ruas tornou-se comum ouvirem-se motoristas de taxi, donas de casa e gente do povo comentando trechos das gravações dos grampos telefônicos reproduzidos pelos veículos de comunicação.

Resultado óbvio, a CPI do DETRAN gaúcho, que agonizava ante a incompetência dos deputados estaduais para conduzirem as investigações sem o socorro das informações policiais mantidas sob sigilo judicial até pouco tempo antes, ressuscitou e ganhou fôlego para mais uma jornada de desgaste da governadora.

No início do ano, bem antes da nomeação de Delson Martini para a secretaria geral do governo Yeda, no meio político e jornalístico gaúcho já se sabia de seu comprometimento nos grampos telefônicos da Política Federal (PF). Assim, parece razoável supor que, se até o Office boy da Assembléia Legislativa sabia disso, a governadora Yeda também o soubesse. A lógica indica que a última coisa que uma pessoa inteligente faria seria trazer para perto de si, para integrar o núcleo duro do governo, alguém nessa situação. Talvez a governadora quisesse constranger as investigações sobre seu auxiliar, ao promovê-lo a cargo tão próximo de si. Erro grosseiro, dada a inevitabilidade do desfecho de uma investigação conduzida pelo Ministério Público e a PF.

Ao assim agir Yeda trouxe o escândalo do DETRAN para seu colo. Se bem que, pelas revelações posteriores de outros trechos dos grampos telefônicos dos envolvidos, as evidências já subissem no colo da Yeda por conta própria, com muita naturalidade. A novidade da semana teria sido uma carta descoberta pela PF, de um dos pivôs do escândalo do DETRAN, o lobista Lair Ferst, endereçada à governadora aos cuidados do representante do escritório político do governo gaúcho em Brasília Marcelo Cavalcante. Na carta Ferst solicita interferência da tucana no conflito distributivo entre diferentes alas que se beneficiavam do esquema de desvio no DETRAN-RS. Ex-chefe de gabinete da então deputada federal Yeda Crusius, Marcelo Cavalcante demitiu-se do cargo poucos dias após de ter sido promovido pela governadora, ao status de secretário.

As defecções não são apenas de imagem para a governadora, mas também, políticas e de articulação política. Isto é, juntando-se Lair Ferst, Delson Martini e Marcelo Cavalcante, têm-se três tucanos da cota pessoal de relacionamentos controvertidos da governadora, abatidos pelas investigações políticas e policiais. Isso tudo depois de Yeda ter adentrado 2008 como o governo todo repaginado para tentar sair do atoleiro de 2007 em condições de encarar as urnas do ano corrente em melhor situação.

A situação da governadora e de seu governo já seriam suficientemente críticas como esse rumo que os acontecimentos políticos vinham tomando. Isso, até o momento em que veio ao conhecimento público a revelação da conversa gravada pelo vice-governador Paulo Feijó como chefe da Casa Civil de Yeda, César Busatto. Na gravação Busatto admite que dois dos maiores partidos gaúchos se financiem através de esquemas envolvendo o DETRAN, o DAER e o Banrisul e tenta seduzir seu interlocutor a aderir ao modus vivendi do governo.

Mesmo concedendo ao Chefe da Casa Civil de Yeda o generoso benefício da dúvida quanto ao sentido das palavras empregadas por ele empregadas na proposta de acordo feita ao vice-governador, a verdade é que a situação política de Busatto ficou muito crítica, para não dizer insustentável.

Não há nada que Busatto possa dizer que seja capaz de convencer a opinião pública de que não tenha dito o que está gravado. À tarde a imprensa chegou a especular com sua demissão da Casa Civil, fato que encerraria precocemente sua carreira política com essa mancha indelével, além de zerar a reforma do governo patrocinada pela governadora na virada do ano. Martini e Busatto eram as peças centrais do novo eixo político do poder no Palácio Piratini.

Mas Busatto reagiu como gato encurralado em canto de parede. Sem contestar o que afirma nas gravações, partiu para o ataque ao vice-governador, defendendo uma interpretação mais branda do sentido de suas palavras gravadas, e acusando Paulo Feijó de ter feito uma armação traiçoeira visando derrubar Yeda e assumir seu lugar.
É compreensível. Busatto luta pela vida. No entanto, mesmo sob o risco de estar enganado, creio que a reação do Chefe da Casa Civil de Yeda não é suficiente para salvar seu pescoço do impacto das palavras gravadas por Feijó. E mais, ao assim reagir, mantendo-se no cargo, Busatto trás o fulcro da crise para dentro do Palácio Piratini, pois age após sair de reunião a portas fechadas com a governadora e seu núcleo estratégico.

Não há saída fácil de uma crise dessas proporções. Ao cair da tarde, a deputada Stela Farias (PT), curiosamente envolvida em processos de desvios de recursos em sua gestão como prefeita de Alvorada, pronunciou pela primeira vez no ambiente institucional da CPI do DETRAN, a expressão: “impedimento da governadora”.

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