"Assinei a libertação de Lula"
Transcrevo abaixo entrevista concedida por Roberto Jefferson ao jornal Opção, de Goiânia, publicada na edição semanal de 19 a 25/5:
"Nem Iris nem Marconi vão ceder espaço para Meirelles"
Roberto Jefferson Monteiro Francisco abalou a República brasileira em 2005, quando denunciou o mensalão, prática pouco ortodoxa de cooptação de parlamentares posta em prática no Congresso. O então deputado federal do PTB, aliado do governo Lula, causou a queda do todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (PT), mas também teve o próprio mandato cassado. Presidente do PTB, Jefferson recebeu o jornal Opção na sede do Diretório Nacional do partido, em Brasília. Com a verve que lhe é peculiar e tomando um chimarrão - "é bom para baixar o ácido úrico" -, Roberto Jefferson falou sobre política e outros assuntos. Veja os principais trechos da entrevista exclusiva.
Euler de França Belém - Consta que o goiano Henrique Meirelles já falou ao presidente Lula que vai deixar o Banco Central para disputar o governo de Goiás em 2010. Também há especulação de que ele seja candidato a presidente da República. Qual sua opinião sobre Meirelles?
Roberto Jefferson - Acho que Henrique Meirelles sonha em governar a província dele. E imagina só a qualidade de governo que esse homem pode fazer. Ele é o responsável pelo sucesso da economia do governo Lula. Tem lá o exagero deles, as altas taxas de juro, é muito cauteloso. Mas imagina onde ele vai buscar contratos para Goiás. As conversas dele são com Banco Mundial, BID, sabe tudo, conhece os caras. Puxa, o nível de governo que esse homem pode fazer! Pode ser até chato, um governo muito ortodoxo, muito correto. Ele não é político, é um grande técnico.
Euler de França Belém - O sr. imagina que políticos como Marconi Perillo e Iris Rezende, tidos como candidatos em 2010, vão ceder espaço para Meirelles?
Roberto Jefferson - Não, em política ninguém cede espaço. Ele vai ter de dar cotovelada. Meirelles vai ter de aprender a fazer isso (risos). Mas ele já deve ter alguma noção.
Cezar Santos - Iris está na frente para a reeleição e uniu-se ao PT em Goiânia, num acordo em que cederia a cadeira para disputar o governo em 2010.
Roberto Jefferson - Conheço gente que é irista há 25 anos, que jamais migrou, tem aquela lealdade ao velho Iris. E como o PT batia nesse homem, e de maneira injusta! Então o PT percebeu que não podia derrubá-lo e se uniu e ele.
Euler de França Belém - A chance que o PT tem de tirar Marconi é grudar em um líder maior, que é Iris.
Roberto Jefferson - Marconi tem um espírito mais petista, uma crítica mais petista. Iris é mais centrado, apanha e não passa recibo. Marconi vai para o embate, é um político jovem, que vai amadurecer ainda, mas já demonstrou gabarito. Deu uma arrancada meteórica, foi duas vezes governador.
Euler de França Belém - O sr. causou a cassação do ex-ministro José Dirceu (PT) ao denunciar o chamado mensalão, mas também foi cassado no processo. Interessante é que vocês dois tem uma identidade. Ambos caíram, mas continuam fortes, articulando. O Dirceu está agora envolvido no episódio do vazamento do dossiê contra o Fernando Henrique, talvez para derrubar a Dilma. Como vê essa manobra?
Roberto Jefferson - É a cara dele, né? O Zé é genial, tem de ser respeitado como adversário. Com um tiro só ele pegaria o Fernando Henrique e a Dilma. Por onde ele pegaria o FHC? Com o Álvaro Dias, senador do PSDB, mas que é inimigo do Fernando Henrique. Quem vazou o dossiê foi o Álvaro. Ora, se alguém me manda um dossiê contra o Collor, eu pego o dossiê, chamo Collor e digo me mandaram isso aqui contra você. Afinal, é um companheiro de partido. Não vou pegar esse dossiê e levar escondido para um jornalista divulgar. Que papel horrível também do Álvaro Dias. Mas aí se vê a inteligência do Zé Dirceu.
Cezar Santos - Mas por que Dirceu quer derrubar a Dilma?
Roberto Jefferson - Ela está muito forte e não passa por ele. Ela o sucedeu, alavancou a Casa Civil, moralizou o governo, corrigiu os vícios do Palácio. Ele deve estar maluco, vendo que naquela posição, com o PAC, seria a alavanca dele hoje, José Dirceu para presidente.
Euler de França Belém - Mas ele continua forte.
Roberto Jefferson - Ele é como Deus, sabe muitos segredos, (risos) conhece virtudes e vícios. Tem informações e tem o PT também.
Euler de França Belém - Por que politicamente Lula melhorou sem José Dirceu?
Roberto Jefferson - José Dirceu devia impor muitas coisas a ele. Aquele trio, como chamavam? Politburo?
Cezar Santos - O núcleo duro do governo?
Roberto Jefferson - O núcleo duro, formado por Luiz Gushiken, Antonio Palocci e principalmente Dirceu. Esse grupo devia constranger muito Lula. Prova é que Lula governava menos, era mais um chefe de Estado que um chefe de governo. Ele viajava mais. Sem Dirceu ele se tornou efetivamente chefe de Estado e de governo. Lula puxou para si a articulação, porque viu que Dirceu estava errando na dose. José Dirceu contaminava a ante-sala de Lula.
Cezar Santos - Com a queda de Dirceu houve uma descontaminação?
Roberto Jefferson - Depois que fui cassado [em setembro de 2005], em entrevista ao programa Roda Viva [TV Cultura, de São Paulo], eu disse: a Dilma Roussef vai corrigir, vai salvar Lula. Por que com o Dirceu, qualquer assunto era assunto, qualquer coisa ele fazia naquela ante-sala.
Cezar Santos - Então, ao provocar a queda de Dirceu, o sr. ajudou Lula.
Roberto Jefferson - Lula me deve essa (risos). Quando ele sair do governo, vou cobrar um jantar. Libertei Lula de José Dirceu. Já que estamos na fase de Lei Áurea, posso dizer que assinei a libertação de Lula.
Euler de França Belém - Falando em Dilma, ao contrário do que as pessoas pensam, ela opera bem tecnicamente e politicamente. Ninguém esperava isso. Ela pode se viabilizar como candidata?
Roberto Jefferson - Sim, se amaciar o tom. Ela precisa colocar as notas mais suaves. É muito dura nas colocações. É uma espécie de Marina Silva [que tinha pedido demissão no dia anterior à entrevista], é muito ideológica. Ela tem de ter paciência, mais fair play. Política não é nossa vontade, não é "eu", é "nós"; não se fala na primeira pessoa do singular, mas na primeira do plural. Ela tem de aprender o nós, ser mais humilde. Senão vai errar como a Marina errou, uma mulher correta, mas que bateu de frente e caiu pelo radicalismo das posições.
Euler de França Belém - Ela é muito diferente de Lula. Não é popular e tem de construir uma imagem. O sr. acha que é possível?
Roberto Jefferson - Com o apoio de Lula ela é forte. Lembro o César Maia, no Rio, quando elegeu o Luiz Paulo Conde para prefeito, em 1996. As pessoas chamavam o Conde de "poste".
Cezar Santos - Dilma seria o "poste" de Lula? Já que o sr. faz esse paralelo, eleita ela poderia trair Lula, como Conde traiu César Maia?
Roberto Jefferson - Mulher é mais leal que homem. Se ela assumir com Lula o compromisso de ficar só quatro anos ela cumprirá - ou cinco, se o próximo mandato for de cinco - para que ele possa retornar. Não tenho dúvida. Outro não fará isso por ele; homem não faz.
Euler de França Belém - Lula, lançando Dilma com tanta antecedência, pode alavancá-la, mas pode também queimá-la. Dentro da teoria da conspiração, isso não é muito estranho?
Roberto Jefferson - Lula não tem nomes. Ele está trabalhando a Dilma por gratidão e por inteligência. Ele sabe que ela é uma mulher honrada, correta, não vai dar uma rasteira nele lá na frente.
Euler de França Belém - E a oposição? Serra não está jogando melhor que Aécio, e até com mais discrição, ao conseguir o apoio do Orestes Quércia (PMDB) e do Gilberto Kassab (DEM)?
Roberto Jefferson - O Aécio precisava mesmo de um movimento aberto. Quem domina a convenção do PSDB é Serra com Fernando Henrique. Então Serra já tem assegurada a vaga para se candidatar em 2010. Aécio precisava demonstrar publicamente que não faz campanha contra Lula. Ele se coloca como pós-Lula. Foi inteligente avançar a conversa com o PT mineiro, com o PSB nacional. Os mineiros acharam excelente isso, porque mostra que política se faz com gestos de conciliação.
Cezar Santos - Aécio encarnou o estilo do avô, Tancredo Neves.
Roberto Jefferson - Sim, é estilo tancredista. Ele aprendeu com Tancredo a fazer política sem enfrentamentos que dividam a nação.
Transcrevo abaixo entrevista concedida por Roberto Jefferson ao jornal Opção, de Goiânia, publicada na edição semanal de 19 a 25/5:
"Nem Iris nem Marconi vão ceder espaço para Meirelles"
Roberto Jefferson Monteiro Francisco abalou a República brasileira em 2005, quando denunciou o mensalão, prática pouco ortodoxa de cooptação de parlamentares posta em prática no Congresso. O então deputado federal do PTB, aliado do governo Lula, causou a queda do todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (PT), mas também teve o próprio mandato cassado. Presidente do PTB, Jefferson recebeu o jornal Opção na sede do Diretório Nacional do partido, em Brasília. Com a verve que lhe é peculiar e tomando um chimarrão - "é bom para baixar o ácido úrico" -, Roberto Jefferson falou sobre política e outros assuntos. Veja os principais trechos da entrevista exclusiva.
Euler de França Belém - Consta que o goiano Henrique Meirelles já falou ao presidente Lula que vai deixar o Banco Central para disputar o governo de Goiás em 2010. Também há especulação de que ele seja candidato a presidente da República. Qual sua opinião sobre Meirelles?
Roberto Jefferson - Acho que Henrique Meirelles sonha em governar a província dele. E imagina só a qualidade de governo que esse homem pode fazer. Ele é o responsável pelo sucesso da economia do governo Lula. Tem lá o exagero deles, as altas taxas de juro, é muito cauteloso. Mas imagina onde ele vai buscar contratos para Goiás. As conversas dele são com Banco Mundial, BID, sabe tudo, conhece os caras. Puxa, o nível de governo que esse homem pode fazer! Pode ser até chato, um governo muito ortodoxo, muito correto. Ele não é político, é um grande técnico.
Euler de França Belém - O sr. imagina que políticos como Marconi Perillo e Iris Rezende, tidos como candidatos em 2010, vão ceder espaço para Meirelles?
Roberto Jefferson - Não, em política ninguém cede espaço. Ele vai ter de dar cotovelada. Meirelles vai ter de aprender a fazer isso (risos). Mas ele já deve ter alguma noção.
Cezar Santos - Iris está na frente para a reeleição e uniu-se ao PT em Goiânia, num acordo em que cederia a cadeira para disputar o governo em 2010.
Roberto Jefferson - Conheço gente que é irista há 25 anos, que jamais migrou, tem aquela lealdade ao velho Iris. E como o PT batia nesse homem, e de maneira injusta! Então o PT percebeu que não podia derrubá-lo e se uniu e ele.
Euler de França Belém - A chance que o PT tem de tirar Marconi é grudar em um líder maior, que é Iris.
Roberto Jefferson - Marconi tem um espírito mais petista, uma crítica mais petista. Iris é mais centrado, apanha e não passa recibo. Marconi vai para o embate, é um político jovem, que vai amadurecer ainda, mas já demonstrou gabarito. Deu uma arrancada meteórica, foi duas vezes governador.
Euler de França Belém - O sr. causou a cassação do ex-ministro José Dirceu (PT) ao denunciar o chamado mensalão, mas também foi cassado no processo. Interessante é que vocês dois tem uma identidade. Ambos caíram, mas continuam fortes, articulando. O Dirceu está agora envolvido no episódio do vazamento do dossiê contra o Fernando Henrique, talvez para derrubar a Dilma. Como vê essa manobra?
Roberto Jefferson - É a cara dele, né? O Zé é genial, tem de ser respeitado como adversário. Com um tiro só ele pegaria o Fernando Henrique e a Dilma. Por onde ele pegaria o FHC? Com o Álvaro Dias, senador do PSDB, mas que é inimigo do Fernando Henrique. Quem vazou o dossiê foi o Álvaro. Ora, se alguém me manda um dossiê contra o Collor, eu pego o dossiê, chamo Collor e digo me mandaram isso aqui contra você. Afinal, é um companheiro de partido. Não vou pegar esse dossiê e levar escondido para um jornalista divulgar. Que papel horrível também do Álvaro Dias. Mas aí se vê a inteligência do Zé Dirceu.
Cezar Santos - Mas por que Dirceu quer derrubar a Dilma?
Roberto Jefferson - Ela está muito forte e não passa por ele. Ela o sucedeu, alavancou a Casa Civil, moralizou o governo, corrigiu os vícios do Palácio. Ele deve estar maluco, vendo que naquela posição, com o PAC, seria a alavanca dele hoje, José Dirceu para presidente.
Euler de França Belém - Mas ele continua forte.
Roberto Jefferson - Ele é como Deus, sabe muitos segredos, (risos) conhece virtudes e vícios. Tem informações e tem o PT também.
Euler de França Belém - Por que politicamente Lula melhorou sem José Dirceu?
Roberto Jefferson - José Dirceu devia impor muitas coisas a ele. Aquele trio, como chamavam? Politburo?
Cezar Santos - O núcleo duro do governo?
Roberto Jefferson - O núcleo duro, formado por Luiz Gushiken, Antonio Palocci e principalmente Dirceu. Esse grupo devia constranger muito Lula. Prova é que Lula governava menos, era mais um chefe de Estado que um chefe de governo. Ele viajava mais. Sem Dirceu ele se tornou efetivamente chefe de Estado e de governo. Lula puxou para si a articulação, porque viu que Dirceu estava errando na dose. José Dirceu contaminava a ante-sala de Lula.
Cezar Santos - Com a queda de Dirceu houve uma descontaminação?
Roberto Jefferson - Depois que fui cassado [em setembro de 2005], em entrevista ao programa Roda Viva [TV Cultura, de São Paulo], eu disse: a Dilma Roussef vai corrigir, vai salvar Lula. Por que com o Dirceu, qualquer assunto era assunto, qualquer coisa ele fazia naquela ante-sala.
Cezar Santos - Então, ao provocar a queda de Dirceu, o sr. ajudou Lula.
Roberto Jefferson - Lula me deve essa (risos). Quando ele sair do governo, vou cobrar um jantar. Libertei Lula de José Dirceu. Já que estamos na fase de Lei Áurea, posso dizer que assinei a libertação de Lula.
Euler de França Belém - Falando em Dilma, ao contrário do que as pessoas pensam, ela opera bem tecnicamente e politicamente. Ninguém esperava isso. Ela pode se viabilizar como candidata?
Roberto Jefferson - Sim, se amaciar o tom. Ela precisa colocar as notas mais suaves. É muito dura nas colocações. É uma espécie de Marina Silva [que tinha pedido demissão no dia anterior à entrevista], é muito ideológica. Ela tem de ter paciência, mais fair play. Política não é nossa vontade, não é "eu", é "nós"; não se fala na primeira pessoa do singular, mas na primeira do plural. Ela tem de aprender o nós, ser mais humilde. Senão vai errar como a Marina errou, uma mulher correta, mas que bateu de frente e caiu pelo radicalismo das posições.
Euler de França Belém - Ela é muito diferente de Lula. Não é popular e tem de construir uma imagem. O sr. acha que é possível?
Roberto Jefferson - Com o apoio de Lula ela é forte. Lembro o César Maia, no Rio, quando elegeu o Luiz Paulo Conde para prefeito, em 1996. As pessoas chamavam o Conde de "poste".
Cezar Santos - Dilma seria o "poste" de Lula? Já que o sr. faz esse paralelo, eleita ela poderia trair Lula, como Conde traiu César Maia?
Roberto Jefferson - Mulher é mais leal que homem. Se ela assumir com Lula o compromisso de ficar só quatro anos ela cumprirá - ou cinco, se o próximo mandato for de cinco - para que ele possa retornar. Não tenho dúvida. Outro não fará isso por ele; homem não faz.
Euler de França Belém - Lula, lançando Dilma com tanta antecedência, pode alavancá-la, mas pode também queimá-la. Dentro da teoria da conspiração, isso não é muito estranho?
Roberto Jefferson - Lula não tem nomes. Ele está trabalhando a Dilma por gratidão e por inteligência. Ele sabe que ela é uma mulher honrada, correta, não vai dar uma rasteira nele lá na frente.
Euler de França Belém - E a oposição? Serra não está jogando melhor que Aécio, e até com mais discrição, ao conseguir o apoio do Orestes Quércia (PMDB) e do Gilberto Kassab (DEM)?
Roberto Jefferson - O Aécio precisava mesmo de um movimento aberto. Quem domina a convenção do PSDB é Serra com Fernando Henrique. Então Serra já tem assegurada a vaga para se candidatar em 2010. Aécio precisava demonstrar publicamente que não faz campanha contra Lula. Ele se coloca como pós-Lula. Foi inteligente avançar a conversa com o PT mineiro, com o PSB nacional. Os mineiros acharam excelente isso, porque mostra que política se faz com gestos de conciliação.
Cezar Santos - Aécio encarnou o estilo do avô, Tancredo Neves.
Roberto Jefferson - Sim, é estilo tancredista. Ele aprendeu com Tancredo a fazer política sem enfrentamentos que dividam a nação.
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