Por Gabriel Perissé
O diálogo entre ocidente e oriente precisa tornar-se mais lúcido.
E é impossível haver lucidez sem informação e reflexão.
Muitas dificuldades na comunicação humana nascem da ignorância: não sabemos como o outro pensa, e o outro pensa que sabe como pensamos.
Nascem também da irreflexão: não entendemos a beleza do que o outro pensa, e o outro, sem pensar duas vezes, pensa que nosso pensamento não faz o menor sentido.
O livro O Jesus Muçulmano, organizado pelo estudioso do Islã Tarif Khalidi, é uma coletânea de provérbios e histórias referentes a Jesus na tradição islâmica árabe. Uma verdadeira viagem através do tempo e das mentalidades. É como se pudéssemos, num piscar de olhos, ganhar novos olhos, não-ocidentais. E conseguíssemos ver o Jesus evangélico tal como foi observado (e interpretado, ou até mal interpretado) pelos filhos de Maomé.
O contexto cultural e histórico do que podemos chamar "evangelho muçulmano" não é nada simples, o que recomenda humildade na hora de cristãos e islâmicos se conhecerem.
É claro que o Jesus muçulmano tem mais de muçulmano do que de judeu, o que relativiza muito essa tradição não-cristã de um Jesus que não aparece como redentor, como salvador, mas apenas como um profeta de Deus.
No entanto, é sumamente sugestivo degustar a devoção com que Jesus é lembrado por um povo que, mesmo não o reverenciando como Filho Unigênito do Pai, soube admirá-lo com ternura.
É também instrutivo para nós constatar o modo como o Islã soube adotar, no passado, como um dos seus heróis religiosos, uma figura "estrangeira" que poderia ter ignorado ou caluniado. Verdadeira lição de compreensão inter-religiosa.
Algumas passagens são extremamente elegantes, em que o bom senso, elevado a um nível tão superior às nossas humanas tolices, talvez seja o melhor argumento para provar que a divindade habitou entre nós.
Seleciono duas delas:
"Disse Jesus: ‘Aceitai a verdade daqueles que falam falsidades, mas não aceitai falsidade daqueles que falam a verdade. Sede perspicazes em vossa fala, para não admitirdes nela qualquer coisa que possa ser falsa’".
"Jesus e seus discípulos passaram pela carcaça de um cachorro. Os discípulos disseram: ‘Como é desagradável o seu fedor!’ Disse Jesus: ‘Como são brancos os seus dentes!’ Ele disse isto para dar-lhes uma lição — ou seja, proibir a difamação".
O Jesus Muçulmano, Imago, 2001, 256 páginas.
Gabriel Perissé é autor dos livros LER, PENSAR E ESCREVER e O LEITOR CRIATIVO
www.correiocidadania.com.br
O diálogo entre ocidente e oriente precisa tornar-se mais lúcido.
E é impossível haver lucidez sem informação e reflexão.
Muitas dificuldades na comunicação humana nascem da ignorância: não sabemos como o outro pensa, e o outro pensa que sabe como pensamos.
Nascem também da irreflexão: não entendemos a beleza do que o outro pensa, e o outro, sem pensar duas vezes, pensa que nosso pensamento não faz o menor sentido.
O livro O Jesus Muçulmano, organizado pelo estudioso do Islã Tarif Khalidi, é uma coletânea de provérbios e histórias referentes a Jesus na tradição islâmica árabe. Uma verdadeira viagem através do tempo e das mentalidades. É como se pudéssemos, num piscar de olhos, ganhar novos olhos, não-ocidentais. E conseguíssemos ver o Jesus evangélico tal como foi observado (e interpretado, ou até mal interpretado) pelos filhos de Maomé.
O contexto cultural e histórico do que podemos chamar "evangelho muçulmano" não é nada simples, o que recomenda humildade na hora de cristãos e islâmicos se conhecerem.
É claro que o Jesus muçulmano tem mais de muçulmano do que de judeu, o que relativiza muito essa tradição não-cristã de um Jesus que não aparece como redentor, como salvador, mas apenas como um profeta de Deus.
No entanto, é sumamente sugestivo degustar a devoção com que Jesus é lembrado por um povo que, mesmo não o reverenciando como Filho Unigênito do Pai, soube admirá-lo com ternura.
É também instrutivo para nós constatar o modo como o Islã soube adotar, no passado, como um dos seus heróis religiosos, uma figura "estrangeira" que poderia ter ignorado ou caluniado. Verdadeira lição de compreensão inter-religiosa.
Algumas passagens são extremamente elegantes, em que o bom senso, elevado a um nível tão superior às nossas humanas tolices, talvez seja o melhor argumento para provar que a divindade habitou entre nós.
Seleciono duas delas:
"Disse Jesus: ‘Aceitai a verdade daqueles que falam falsidades, mas não aceitai falsidade daqueles que falam a verdade. Sede perspicazes em vossa fala, para não admitirdes nela qualquer coisa que possa ser falsa’".
"Jesus e seus discípulos passaram pela carcaça de um cachorro. Os discípulos disseram: ‘Como é desagradável o seu fedor!’ Disse Jesus: ‘Como são brancos os seus dentes!’ Ele disse isto para dar-lhes uma lição — ou seja, proibir a difamação".
O Jesus Muçulmano, Imago, 2001, 256 páginas.
Gabriel Perissé é autor dos livros LER, PENSAR E ESCREVER e O LEITOR CRIATIVO
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